adeus 2015

não mexi na peça para flauta. não terminei meu álbum de colagens musicais. não revisei a peça para guitarra e eletrônica. não arrumei meus currículos [*, *] nem criei meu portfólio. não mixei os álbuns já gravados do epilepsia (estou a averiguar se pedro durães aceita essa incumbência) nem do infinito menos (espero que matthias possa começar esse trabalho).

os álbuns dos melhores momentos do qi não saíram, mas eu e matthias koole continuamos a organizar as quartas de improviso, com duas temporadas (05 e 06) e um especial na casa do jornalista, chegando ao número de 62 apresentações (18 nesse ano). agradecemos a todos os convidados pela disponibilidade de improvisar conosco.

não lancei nenhum álbum meu. entretanto, participei de três coletâneas da plataforma records: a natalina jesus los odia, a petrolífera oil, blood, hate (para a qual também fiz um videoclipe), e a mastodôntica operation test.

estreiei o brasil não chega às oitavas ao vivo, no festival perturbe, em curitiba, e toquei o mesmo panelaço de um homem só (ou o homem que carrega tralhas na mala) em belo horizonte (mostra novos coletivos), rio de janeiro (sr showcase), campinas (encun xiii). realizei um videoclipe para um trecho desse solo. toquei também o outro solo, éter 2 (faixa 8), em são paulo, estúdio fitacrepe.

na seminal records tivemos 14 lançamentos, alguns deles disponíveis em versão física na loja da brava. destes eu masterizei o de herbert baioco e o de marco scarassatti, usando a ideia de que menos é mais.

a partir do ano novo em copacabana, produzi um vídeo que pouca gente viu, e esse foi meu principal desenvolvimento nessa área (31|01). em janeiro, produzi dois vídeo-exercícios, da janela e estudo de autofoco, além de um gif (que preguiça, só um!). em dezembro, resgatei uma pequenina velharia que me agrada, azul.

fiz dois vídeo-convites. o do mostra novos coletivos: noite de música experimental, aplicou “colocar imagem de ponta cabeça” e figura eu e matthias levemente alcoolizados. preocupado em ser mais sério, o do bhnoise 2015 envolveu queimar uma réplica de ossadura de cabeça de cachorro, e usar gelatinas como filtros de cor, filmando filmagens (ao invés de alterá-las via software).

após um 2014 sem, o bhnoise aconteceu em 2015 (documentação em áudio, texto e fotos aqui, em vídeo aqui). desta vez, na casa do jornalista, me preocupei explicitamente em (1) incluir mulheres na programação e (2) incluir artistas vindos da área da performance. em 2016 seria bom tentar aproximar esses fazeres/pessoas e de fato, ter uma cena desse amálgama ruído em belo horizonte.

comecei uma coluna de resenhas intitulada hora da peteca: grandes álbuns desconhecidos ou nem tanto, na revista linda [está fora do ar, mas volta em breve]. comecei com anton maiden, passei por raquel stolf, tetuzi akiyama, as mercenárias, dehors, thom johnson e caroline k.. para a edição impressa, escrevi sobre noise no brasil. ademais um artigo meu, antigo e caótico foi publicado numa revista acadêmica, circundando o tal do arreferencialismo, e outro eu republiquei porque era parecido; também participei de um congresso de estética para ver qualé, falando contra a noção de experiência, mais ou menos (ou talvez não), e deixei de participar de outro, na usp.

inventei moda, os tais dos duos. [1] trocando de facebook com aline besouro, [2] com miguel  javaral lendo poesia, [3] e cozinha verde-vermelha, [5] e uma melancia desidratada, um show ruído-caipira com marco antônio gonçalves, uns lambe-lambes no 4y25, [9] um potlatch com felipe josé.

foi um ano fraco em termos de danças, mas eu cheguei a apresentar o inscrição-memória-rasura no ccbb bh, em pequenina temporada no vac, em janeiro, e nesse mês participei do festival internacional de contato improvisação de são paulo (inscrições abertas para 2016).

trabalhei uma trilha para a marcella aquila, usando amostras sonoras de varèse e participei da banca de mestrado dela, na parte artística da mesma (tocamos na fau maranhão, em são paulo). nem a trilha, nem a documentação está publicada pois a marcella ainda não me mandou a versão final de seu vídeo pós-lecorbusiano.

tirei fotos, mas publiquei apenas essas, embora as de melancia tenham sido expostas. quem sabe ano que vem a série cabos de força saia (bem como espero que a dos santos-ônibus da srta. alcântara também).

o livro mais interessante que li de filosofia foi o de manuel delanda sobre deleuze, o primeiro – intensive science and virtual philosophy; incrível como seu texto, usando estilo e exemplos caros à tradição da filosofia analítica, faz o que nem um outro comentador consegue – desobscurecer. o livro de filosofia mais divertido que li foi o manifesto contrassexual, de beatriz preciado, com um grande sorriso anti-heideggeriano na cara, exceto em seu comentário ambíguo sobre a filosofia como modo superior de dar o cu, que eu desafiei pessoas a me explicarem e até agora nada (o enigma do transversalismo). não posso deixar de destacar a cyclonopedia, de reza negarestani, que nas trilhas hipersticionais deixadas pelo ccru, elabora uma ficção-teoria geotraumática sobre o petróleo como agente rumo a manipulação da política humana para a desertificação da terra. vale lembrar também que nick land, no final do ano passado, lançou seu opúsculo phyl undhu: abstract horror, terminator (outra resenha aqui), uma espécie de h.p. lovecraft melhorado, com uma teoria do grande filtro embutida. para não perder o costume, li também o bom a pasteurização da frança, do latour, com sua segunda parte tractati-leibniziana, irreduções.

sobre artes reli o danto sobre o fim, e mais algum danto, redescobrindo jesus através de andy warhol e hegel. craig dworkin foi o que mais me influenciou, um livro que começa com um capítulo inteiro sobre diferentes livros em branco. os indiscerníveis parecem circundar esse tropo.

em termos de hqs, finalmente li na íntegra o incal, de moebius/jodorowski, e o texto do dia nacional do combate à humanidade foi inspirado claramente nessa história. ficções o que mais gostei foi um surpreendente livrinho de aldo buzzi. também atrasado, li o clássico de phillip k. dick e digo que vale muito a pena. a aleph publicou em português a mão esquerda da escuridão, de ursula le guin (que já li) e também tropas estelares, de robert heinlein (que ainda não). também: história zero, de william gibson, que li adorando – faz quase ser possível entender a possibilidade de gostar do mundo da moda. minha ideia para um museu é bastante tributária da trilogia blue ant.

no meu trabalho como educador, senti que fui melhor, porque menos idealista e mais experiente. desafio mesmo será o primeiro semestre de 2016.

no meu blogue escrevi um bom poema-plágio, ao menos uma sugestão socialmente útil e uma crônica empolgante, a do gabinete de leitura português (vejam também a do rufo, abaixo). esmeirei-me ainda mais para presentear paula (o que é um problema, porque elevam ainda mais as expectativas dela na próxima rodada).

certas ladainhas sempre voltam (é essa sua função, não?): aniversários que discutem cardinalidade e proporcionalidade, a não-unidade de deus, a batalha com a sexta-feira, a impossibilidade de tocar dois sons ao mesmo tempo, ou a dificuldade de ir no banheiro. ao final, resenhei star wars 7, recomendei álbuns de 2015 e alertei sobre 4 tipos de fatalismo.

achei o ano xoxo. como se faltasse. estive tristonho, desacreditando, mas nunca desistindo (usando de auto ajuda e meditação com mantras). minhas paixões foram mais moderadas, meu entusiasmo comedido. continuei um bom filho de família. fiquei 5 meses morando sozinho (e agora tenho de desacostumar). sozinho, isto é: com a gata mel, que continua viva, mais o cachorro rufo, que depois de velho veio habitar aqui.

mel e rufo 2015-08-29

fui feliz, por que não? para isso basta estar vivo. vi madmax 4 e branco sai preto fica. fui à exposição de kate mcintosh. vi uma quantidade não tão saudável de animes e avatar as 8 temporadas inteiras (aang e korra). comprei uma aero press, tentei emplacar um meme, estreiei uma peça de paulo dantas, e me apresentei no mesmo palco que maria bethânia. 2016 será melhor, isso é certo!


postado em 3 de janeiro de 2016, categoria comentários, reblog : , , ,

os não-melhores álbuns de 2015

listas de fim de ano tem a vantagem de tornar estrategicamente ruim lançar álbuns em dezembro, deixando o mês inteiro como “momento de ouvir muitas músicas e gostar de poucas”; em algum momento, inclusive, a questão, com a internet, é ir baixando deletando, ir ouvindo pulando. nesse esquema ouvi trêz álbuns até o final, por enquanto: sexwitch; music in exile; garden of delete. a outra vantagem é de mostrar como nosso hábitos de linguagem e de construção de sentido estão cheio de generalizações mal definidas, picuínhas transformadas em condições existenciais, percepções complexas feitas arrotos verbais etc. enfim, é o momento de transpor a forma funil à toda e qualquer incomensurabilidade e se regozijar na linguagem publicitária, esse bem universal.

em uma relação ambígua quanto a isso ofereço uma pequenina lista de não-melhores de 2015. com isso quero dizer: álbuns que eu considero valerem muito a pena ouvir; álbuns que me fizeram pensar, que me fizeram reavaliar o que para mim é escutar; álbuns que me mostraram saídas e caminhos diversos e interessantes, habilidades e construções que eu mesmo não iria atrás mas admiro muito. por fim, são álbuns todos eles de colegas, o que quer dizer: pessoas que trombo por aí. não necessariamente o que valorizamos mais está longe; pode estar bem próximo. ademais, a lista é propositadamente curta: há muita coisa boa sendo feita, mas com todas essas listas, ficarei feliz se o leitor dessa postagem ouvir um álbum destes até o final.

£ stefan prins, peter jacquemyn, matthias koole – mármore e murta: como disse marco scarassatti, “música improvisada a valer”. energia, equilíbrio, consistência, mas sem perder a dose de risco que é o melhor complemento que se pode ter ao domínio.

≠ flores feias – f .˙. f .˙.: canções levemente desafinadas e riffs de rock que se atêm ao simples; cortes abruptos e caseiros; som sombrio.

¢ macos campello – bamsa: improvisos de guitarra solo; um fundo de samba (de standards a lá bailey); sequências extravagantes e macromontagens como num filme de goddard.

∞ god pussy – animal: ruidera visceral, recortada em faixas/sessões, com a diferença importante de que elas seguem por 3 horas a fio.

¶ bella – cantar sobre os ossos: no lado b, a relação sobreposta entre as diversas camadas aí distorcidas da colagem de obras de mulheres e a voz e seu canto tanto ritualístico quanto desconcertante. a construção no não encaixe, na retomada soterrada.

§ j.-p. caron – breviário: álbum de tom lírico e confessional: aproximações entre música e sentimentos cotidianos. acompanha ou é acompanhada por belos poemas-partitura (baixe o álbum). entrelaçamentos de uma vida.


postado em 21 de dezembro de 2015, categoria resenhas : , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

31|01 vinheta

na virada do ano, em copacabana, gravei os sons dos fogos de artifício, e na madrugada seguinte, antes da operação de limpeza impressionante e eficiente dos garis cariocas (começando às 6h30, às 7h30 a praia, bem como todas as ruas próximas, ficam absolutamente limpas), filmei o lixo deixado na praia durante a festa. o resultado dessa empreitada é o vídeo 31|01. diferentemente do que me é usual, não postei o vídeo inteiro no youtube. gostaria de fazer exibições por aí. aceito convites e recomendações.


postado em 5 de março de 2015, categoria vídeo : , , , , , ,