duas aquisições literárias

1.

no maletta, enquanto l. tititi beijo beijo pegadinha eu lá olhando uma pilha de livros num carrinho de supermercado enferrujado, no mesmo corredor – um livro pegou chuva, enchente, ou foi colocado debaixo do chuveiro, talvez tenha caído dentro da privada – lembro daquelas revistas pornográficas de adolescentes, com páginas coladas, mas isso não,  – é um livro de passeios gastronômicos, engraçado, culto à moda antiga, bem humorado, viagem à terra das moscas e outras viagens, de aldo buzzi, com evidente certeza o único bom livro ali nesse carrinho, talvez até mesmo um grande livro, e nenhum adolescente deve ter se masturbando lendo sobre  o bar do grillo e as quatro irmãs de cavazza, se bem que o episódio da bela leitera de crescenzago, só que para deleite intelectual, sensualismo da mente ou o ambiente ali próximo ao piolho e o 4y25 que me confunda mas folheando rapidamente eu realmente sou capaz de separar o trigo do joio mas nem sempre o bom trigo do trigo excelente, e dizem que mesmo germinando hoje para fazer farinha, e há os transgênicos.

cinco reais quando acho o vendedor, eu todo sem graça de não saber como fazer e não vendo ninguém e perguntando – a pergunta é o sinal da preguiça da alma, lembrem-se – mas enfim, nota surrada, daquelas que recebo doadas no q.i. (f. disse que, por ser agora no ÿstilingue, seria q.y., mas eu gostaria que não), e o senhor lá no fundo, no subsubmundo, realmente afundado, pago e saio de volta udi-grude chega vamos embora olhe l. adquiri um belo exemplar.

2.

numa livraria dentro do shopping boulevard, aquele próximo ao metrô santa efigênia, olhando itens na estante ficção, puxando alguns, notando a mediocridade geral da seleção dessa livraria – mas hoje em dia em qual livraria há boas seleções? podem dizer cultura, martins fontes, travessa, essas megacorporações capitalistas, mas eu só ouço funcionários explorados, gente que de tanto trabalhar nem tem tempo para ler; hoje em dia em livrarias não vendem mais livros, vendem mercadorias, como guattari uma vez disse, quando veio distribuir transmissores de rádio no brasil, “axiomática mermão, tudo agora é item“. enfim, estava ali, lá, em ficção, e pensando nisso, vendo o leviatã do hobbes fora de lugar (ainda se fosse o do paul auster…). foco henrique. será que não há mesmo nenhum gibson ou dick e só cavalos de tróia ou algo assim (imagina, você levando um desses pra casa, deviam fazer uma propaganda pra gente dormir com o inimigo), ficção científica é literatura estrangeira oras, esses livros são bem vendáveis, vou falar com a atendente – mas é óbvio que é uma perda de tempo, não é culpa dela, ela é uma vendedora e o que uma vendedora vende são itens, isto é mercadorias, que sejam do tipo livro e que existam livros que deveriam estar na seção parca de filosofia e ao invés não estão é apenas um pequeno erro operacional, o importante é se eu vou comprar o livro ou não, e não parece haver nenhum do paul auster, mas sim um pequeno livro de capa preta e título que parece brega ou de livro tosqueira e folheando 15 segundos já dou risada e é no mínimo um bom livro. tive de abaixar, ficar todo torto, estava quase desistindo quando achei (lembro-me daquela sensação em festas juvenis de que só teria uma chance namoradeira quando estivesse finalmente decidido a desistir e ir embora – e o problema de estar consciente disso): como fazer amor com um negro sem se cansar, de dany laferrière.

a editora, 34, confere um ar de confiabilidade; pela descrição o autor é negro e haitiano, o que justifica os títulos dos capítulos: (por exemplo: o negro é do reino vegetal); lendo mais um pouco, tem um personagem que lê o corão e escuta charlie parker, outro que admira bukowski e está deslumbrado com as garotas brancas, tendo um caso com miz literatura – tipo denominativo que me lembra do apelido pelo qual l. se referia a mim antigamente e que evitarei de revelar aos meus leitores.

***

{gostaria muito que lucas e letícia lessem §1 – e sei que mário e natacha dariam boas risadas, mas também muita gente – na verdade, é um livro genial; já fiz nilson ler, e se reencontrasse cristiano, certamente recomendaria §2}


postado em 26 de abril de 2015, categoria crônicas : , , , , , , , ,
  1. henrique iwao » Blog Archive » presente para paula disse às 13:36 em 26 de abril de 2015:

    […] dois bons livros. ainda assim, não tinham o sentimento adequado (buzzi e laferrière: comento nessa outra postagem sobre eles). em são paulo, numa das poucas livrarias que ainda gosto (embora com muitas reservas […]

  2. henrique iwao » Blog Archive » adeus 2015 disse às 14:30 em 3 de janeiro de 2016:

    […] foi inspirado claramente nessa história. ficções o que mais gostei foi um surpreendente livrinho de aldo buzzi. também atrasado, li o clássico de phillip k. dick e digo que vale muito a pena. a aleph publicou […]