ideia para um museu

1. em “território fantasma”, william gibson fala de um contêiner cheio de dinheiro sujo, esperando por uma oportunidade de lavagem. enquanto está a esperar, é deslocado de navio em navio, no mar, nunca ancorando. as posições dele são monitoradas por um sujeito que, entre outras coisas, presta serviço para um artista de arte locativa – ele programa roteadores secretos que projetam virtualmente imagens em locais públicos. algo que poderia apenas ser visto com o “google glass” antes do google glass, um dispositivo DIY pré-mercadológico.

2. na exposição do kandinsky no ccbb bh (que aliás, continua sem pagar o dinheiro de apresentações que lá fiz em janeiro), aquele brinquedinho imersivo sem graça, no térreo. mergulhar em uma realidade virtual de cores, um peixe para as formas.

3. eu já não sou um apreciador de kandinsky, acho-o um pintor grosseiro – comparemos com um pavel filonov ou um kasimir malevitch ou com não-pinturas de um el lissitsky. na verdade, eu acho o trabalho de posters sovietes mais interessante e melhor executado, por exemplo, embora sem as preocupações musicais (e em se tratando de preocupações musicais, o suprematismo as tem em melhor forma e certamente paul klee também, na alemanha).

4. gibson, ao explicar porque seus últimos três romances não se passavam em futuros distópicos, como todo o resto dos seus romances e contos anteriores, respondeu: “o futuro é agora, o futuro já está aqui, apenas desigualmente distribuído”.

5. um ex-kgb, muito puto com os donos do contêiner, armou um modo de contaminar o conteúdo com césio, de modo que eles não o percebessem. dinheiro marcado, mas apenas para dectetores de radiação.

6. um museu não precisa mais do que roteadores e celulares, projetores e superfícies, alguns móveis. mapping e esculturas virtuais. sensores e passeios por zonas temporárias.


postado em 14 de julho de 2015, categoria comentários : , , , , , , , , , , , , ,
  1. henrique iwao disse às 11:58 em 15 de julho de 2015:

    Ale Fenerich: eu discordo. Um museu deveria ter SÓ obras não reprodutíveis, muito caras, escondidas em bunkers para a posteridade. Exibição proibida. Haveria um nicho de artistas para museu, que fariam obras não reprodutíveis, sem público. A seleção seria feita por dispositivos sensoriais automáticos, como computadores munidos de sensores de visão – para assegurar a isenção do julgamento.

  2. henrique iwao disse às 19:13 em 18 de julho de 2015:

    Ale Fenerich continua: eu acredito em um museu de obras-primas, sem ego, sem firulas, sem mercado, sem festas – para a posteridade. A seleção pode partir de critérios estéticos firmados na história da Estética – de Platão a Danto – e um pouco de sensibilidade, que a atual tecnologia da inteligência artificial pode implementar. Aliás, este é um alto laboratória para a ciência da inteligência artificial. Museu para os pós-humanos, selecionado pelos anti-pós-humanos (computadores). Suponho alto investimento nisso, então é preciso levantar um fundo, talvez angariado entre os artistas ricos (todo artista deve ser rico, ou será ou mendigo, ou professor). Uma sociedade que conseguir destinar à arte e ao trabalho do artista esse nobre destino será uma sociedade que trabalha feliz por um futuro glorioso: assunção da decadência. Talvez, eis o novo espírito do capitalismo: trabalhar para esse futuro da beleza. Não há revolução possível a não ser essa.

    PS: um professor de arte deve ensinar arte aos pupilos ricos e deve ensinar a ensinar arte aos pulipos pobres. Qualquer outra derivação dessa equação concernente ao seu trabalho é gasto supérfulo de energia, e deve ser severamente proibido.

  3. henrique iwao disse às 19:14 em 18 de julho de 2015:

    texto sobre museu artista abrigo mendingo, de fabiane borges: http://naborda.com.br/2013/texto/divagacoes-sem-pretensoes-16-pontos-para-pensar-a-arte-a-mendicancia-e-a-ruidocracia/

  4. lucas disse às 14:51 em 28 de julho de 2015:

    eu não entendo muito bem o que henrique iwao escreve.

  5. henrique iwao disse às 15:01 em 28 de julho de 2015:

    sempre ou especificamente nessa postagem? e como? (será que posso te ajudar? ou será que você pode me ajudar?)

  6. henrique iwao » Blog Archive » adeus 2015 disse às 14:49 em 3 de janeiro de 2016:

    […] adorando – faz quase ser possível entender a possibilidade de gostar do mundo da moda. minha ideia para um museu é bastante tributária da trilogia blue […]