AOTY 2020

Agora que 2020 vai indo embora, em que pese a piada, funcional em inglês, de que 2022 é também 2020, posso oferecer recomendações de começo de ano, feitas com mais preguiça que o normal, é vero, mas ainda assim válidas e referentes ao ano duplo que finda. (eu perdi minhas anotações então perdoem-me se eu discordar dos meus próprios comentários daqui a uns dias ou se a seleção de álbuns leva em conta menos candidatos do que de costume).

Richard Dawson: 2020. Com sua lírica de bardo torta mas dessa vez apoiado por uma banda mais roqueira e certinha, mas ainda sem enveredar ao rock conservador do seu álbum seguinte, Dawson continua emocionando com algo que soa como honestidade, mesmo se há nela elementos de paródia, como na genial referência a Eye of the Tiger, em Jogging.

Stephane Ginsburgh: Speaking Rzewski / Pieces For Speaking Pianist. Certo, técnicamente algo lançado em 2022, primeiro de janeiro. Mas é incrível como combina o atonalismo pós-shoenberguiano de Rzewski com seus passeios pela história do piano com uma estrutura articulada pelas inserções desconcertantes de voz, operando a deselegância como elemento que articula as formas musicais.

Tigran Hamasyan: The Call Within. Meu tipo de “prog”: piano grooveiro jazzístico animado, com batidas fusion roqueiras e laiás laiás meio mpb-instrumental. Pura diversão.

naøs: EXTRUSÃO. Extrusão tem algo de noise das antigas, mas, ao mesmo tempo, sua apresentação é elaborada, com um tratamente entre o estranho e o elegante.

Agla Aëón: It’s A Decopunk Retrofuturistic Untime Machine. É notável a ênfase constante no médio agudo e gosto como pílulas de gestos recortados se alternam com paisagens eletroacústicas em que camadas desenhadas mantém um clima de performance insistente.

***

Por fim e por que não, o anime que mais gostei e isso sem dúvida, foi Sonny Boy. Trata da relação de adolescentes com o abrir do destino e com o amadurecimento de tomar para si ou não as possibilidades, em um formato surrealista episódico, mas com um final bastante satisfatório e animação muito simpática, com algo de Yuasa (mas é dirigido por Shingo Natsume). A outra série que recomendo é manjada nas listas, Odd Taxi, simplesmente por ter bons personagens e falas bem trabalhadas em um clima detetivesco de cinema alternativo. Poderia falar de Arcane mais longamente, mas basta dizer: investir em roteiristas e bons escritores de personagens compensa. Invistam nessas coisas, grandes corporações, que dá certo.

Os dois longas são ambos continuações. Finalmente o último do Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time, um desfecho caótico lacaniano confuso mas apoteótico e com uma condução de personagens linda (na minha cabeça: a vida é assim mesmo). Fiquei pensando em como comparar com o de Sonny Boy mas enfim, se anotei algo sobre perdi e teria de vê-los de novo. O terceiro do Made in Abyss, o primeiro pensado diretamente como longa, 深き魂の黎明 (A Aurora da Alma Profunda), se beneficia muito do ritmo adequado à duração extendida e assim, ao contrário da série, convence em vários níveis e não apenas no aspecto de fábula, combinando o infantil com o cruel e a ideia da jornada inevitável, agourenta, lúgubre, mas que promete algo, um inefável, uma esperança pura. Eu recomendo ver a versão em 2 filmes antes, que tem alguns problemas, mas pelo menos não derrapa como a série em problemas de direção relacionadas a “caber em episódios de 24 minutos”.

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