De novo o prometêico, agora em BNA

O anime recente do Imaishi (Gurren Lagann, Kill la Kill) mostra uma cidade tolerante aos bestiais, Animacidade, e apesar do começo onde um lobo excessivamente poderoso porra, todo flamboyant, seus inimigos, dando a entender que Imaishi, à lá Promare, repete a si mesmo, mas sem a perspicácia de seus sucessos (lembrem do exagero magistral de Dead Leaves), é preciso persistir mais um ou dois episódios, afim de que a série nos cative. E ao menos a mim, cativou, mesmo que a heroína seja a garota impulsiva estereotípica (há uma categoria já fechada pra isso? entusiasmada sanguínea? estou pensando mais em algo como uma tipologia moe pra uma adolescente ESFP). Fato é que o caos e problemas de cidade grande, com seus jogos de poder embebidos em corrupção, somado às situações absurdas ajudam a dar corpo aos exageros de caracterização dos personagens – bestiais, afinal, devem ser mais exagerados. Mas o que afinal, são eles? Humanóides cuja aparência diurna, no cotidiano, é a de humanos normais, mas que para acentuar ou habilitar certas habilidades se transformam em mistos de seus respectivos animais. Daí surgem componentes interessantes: porque os humanos, mestres nisso, os discriminam e perseguem, fora de Animacidade, e há toda uma política envolvida em tornar a mesma viável, com acordos com a grande corporação Sylvasta. E então há duas humanas transformadas em bestiais e elas encarnam tanto a ideia prometêica de que o humano não tem uma forma/essência específica, sendo por isso flexível, astuto, enganador, quanto a ideia folclórica japonesa de que a raposa e o tanuki, com suas capacidades transmutadoras, são a ponte entre o mundo animal/espiritual e o humano. E nessa conjunção Michiru e Nazuna são o futuro, no sentido do progresso do humano rumo ao inumano, que na verdade, nos anima. Quando confortavelmente bestiais, sem as desvantagens que isso acarretaria, ambas então seriam capazes de, ao admitir a utilidade da bioengenharia envolvida, refazer as pazes com o lado animal/espiritual da comunidade do futuro, e na sua impureza descreditar os puristas e eugenistas.

Daí há um outro interesse: é que a ciência mostra de fato problemas que vem da genética – a predisposição a um surto de ira coletiva. Mas a ciência, corrompe-se ao ser conduzida por viés ideológicos, e confunde o que é real (o fato) com o que projeta deste (seu realismo – suas soluções convenientes). Os bestiais são humanóides especialmente sujeitos a serem enganados e a explodirem de raiva; de fato, eles instintivamente querem ser enganados e querem explodir de raiva. Nisso, vimos como o diretor comenta sobre nossa recente onda de eleitores que de Trump a Bozo, infestam nossa vida com uma bestialidade que, na vida real, não tem atrativo algum. Ainda assim, talvez seja o caso de admitirmos problemas profundos de vieses, disposições mentais-comportamentais, como início de uma reconciliação do que quer tribalizar, forçar um eles vs aqueles, quando todos somos parte de um nós.

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