Gostaria de explicar porque gosto mais dos 2 OVAs de Tamala 2010 do que do filme Tamala 2010: Uma Gata Punk no Espaço. Com um tempo curto (24 ou 17 minutos) e um formato mais condensado, é possível explorar o surrealismo de propaganda sem ter momentos tão forçados e/ou que soam como papo, cantinflada, conversa fiada. Parece que a quase-história do filme acaba criando a sensação de arbitrariedade onde deveria existir apenas piração, e falsa-profundidade onde seria melhor apenas um cinismo superficial. Essa falsa profundidade, creio, vem da combinação entre os diálogos e cenas absurdas, mais o sentimento paranóico de que existe algo por trás, que não as deixa serem vazias o suficiente. É como perceber uma fina camada de alucinação em que a displicência significaria algo recôndito, mas que esse algo recôndito no fundo não é nada – que o filme está a esconder o vazio que explicita, ao envernizar nele uma ideia de profundidade.
Georges Bataille criticava o surrealismo no entreguerras por domar a transgressão, por mostrar e lidar apenas com aquilo que como tabu, poderia ser desfeito como arte, imagem, ânsia e incômodo, extravagância e capricho, mas não como horror, fenda, delírio. Não a toa a propaganda tenha se apropriado tão bem de técnicas e estéticas surrealistas; elas conectam com o desejo e o inconsciente, sem evocar traumas. E com a propaganda, passa ser possível essa transgressão surrealista (transgressão sem transgressão) que é o cinismo imagético, uma formulação ambígua, que sempre parece criticar e celebrar ao mesmo tempo.
E o Desfile de Tamala 2010 trabalha esse cinismo na versão blasé videoclipe, com uma música após a outra até um final apoteótico e pontuações de comercial, com cortes secos “tempo é dinheiro”. E na Festa Selvagem, a sacanagem e a displicência são celebradas em conjunto; não é que não sentimos pena, mas o indivíduo é livre.
{Tamala 2010 OVA: Tamala on Parade, Tamala’s Wild party, episódios de 24 e 17 minutos, 2007, nota 7 e 6/10}