adeus 2018

mais um ano passa. continuo estudando japonês, com certo afinco. o colega paulo dantas já me cantou a bola: o próximo passo é entender que japonês não se aprende rápido. ainda chego lá. continuo a traduzir canções: o hino, yokohama das luzes azuis, coisas de idols adolescentes acompanhadas de banda de new nihon pop complexity, indie nipônico e a canção do devilman crybay (um anime bastante battaliano, por sinal). também tentei entender o artigo de 1983, em que pela primeira vez figura a palavra otaku (agora incorporada por mim – passei dos 500 animes no mal, vendo muita coisa dispensável ou quase). traduzi do inglês o encarte do álbum um expediente desesperado, do thomas bey william bailey, que cortesmente me enviou seu novo livro (sobre sinestesia). também, uma transcriação de um curioso texto sobre responsabilidade masculina no aborto (de outro modo, também re-escrevi a história do bizarro o perseguidor maculado). a novidade mesmo foi ter começado a jornada pelo francês (voyage voyage, ella elle l’a), traduzindo uns textos do le monde. mas por uma decisão judicial estranha, a prova de línguas passou a ser eliminatória na ufrj e eu com 10 meses de estudo apenas fiquei enfurnado lendo paul virilo pra me preparar, o que me levou estranhamente a comentar sobre a animação de miyazaki, laputa o castelo no céu.

meu blogue esteve medianamente ativo com 29 postagens, mas meu blogue baka esteve bastante ativo, com 29 postagens. somadas as 58 fecha-se 60 com os sonhos sessentistas de obras com pernilongos e vagalumes (uma delas dedicada à amanda costa) e 53 sons não-intencionais (que eu queria que algum dia matthias executasse). tons nietzscheanos estão aqui e ali (nietzsche, o blogueiro original). o julgamente vespertino aparece duas vezes, uma no filme arábia e outra no adeus da paixão. a qualidade total comparece como charlatanismo, e são dois os tipos de eugenia, vide os cachorros. o desprezo ao dinheiro é certamente uma virtude adolescente. a situação política tosca e irracional me levou a elaborar sobre as eleições, misturando extrema ingenuidade com sobriedade local. sempre fiquei indignado com a simplicidade das narrativas como a de heróis galácticos, mas agora acho que elas eram apenas realistas. tal como a situação no maravilhoso baronesa. inventei poucas coisas, mas recomendo fortemente que capitalizem minhas raquestes elétricas.

escrevi apenas um conto, envolvendo pesadelos com escovar os dentes; uns poemas sobre levar foras e passear por aí; sobre panelas de teflon. também uns provérbios de gente largada e mais uma tentativa fracassada de participar do carnaval. só há, e a culpa é do facebook, onde esse tipo de coisa é tão popular quanto fotos ensolaradas, uma boa crônica, situada na ciudad del leste. ao invés de meditar fiz muitas outras coisas; como baixar toda estranha que gostava do tumblr (oh, a decadência da internet).

a daphine jardin lançou seu primeiro álbum, supostamente em uma festa do tudos, primeira tentativa bem sucedida de música relógio, embora fantasmagórica. marco scarassatti foi a um show e disse que foi o melhor do ano. o epilepsia finalmente soltou seu álbum de estúdio, gravado em 2013: death raving. eu gosto muito dos nomes que dei para as faixas: delirando mortes, ovo negro, sonhos na xerodrome, pombas sexo hipnose, tripofobia. há coisas que tomam tempo, mas valem quando deslancham. pedro durães, pela primeira vez mixando noise, me colocou do seu ladinho, pra ir aprovando seu trabalho. o que você acha? tentaí. (o que me lembra a moça carioca da prova sem questões de filosofia em que fui o único a relutantemente levantar a mão e posar a questão: “mas e a pergunta, não tem?”, ao que ela disse “escreve aí”. [taca-lhe pau, mete bronca, quebra tudo mermão.])

em janeiro, tive a oportunidade de participar da residência verãozão, mas as histórias vão ter de esperar eu chegar a alguma conclusão sobre o álbum duplo de improvisação que lá gravei (que ao meu ver, está de alguma forma chato). o dia nacional contra a humanidade foi cancelado. a compilação musical das quartas de improviso não saiu, mas o vídeo comemorando 101 edições sim. fizemos apenas 9 nesse ano, por dois motivos. concentramo-nos nas séries com convidados, boteco ruído, com as extensões domingo titânico e arquipélago: concerto para fones de ouvido, além do solo do campello. depois, ganhamos finalmente um edital, para 6 temporadas com dinheiro, desde que aconteça a captação. então, ficamos na expectativa de 2019. ademais, ficar parado pra quê: a pedido do felipe lopes e com sua produção, organizamos os shows de música de ruído em praça pública – o praça 6. com isso resgatei uma ideia antiga de intervenção musicais urbanas, com câmera parada e sem combinação prévia – o blitzkrieg noise (panzer vor!), um pouco filho dos microshows de 2011-3. tinha ganho o a cidade e a cidade, do mieville, e escrevi:

Há uma cidade oculta dentro de BH. Uma cidade sobreposta na cidade. El Orizon é seu nome. Escondida, mas visível a olho nu. Invisibilizada por uma barreira MENTAL. Em El Orizon a música não se organiza através de melodia e harmonia. Pode se dizer que aqui, pop é ruído. Os músicos chegam à Praça 6 (tudo em EO é menor) e atacam texturas, jogos gestuais, sonoridades e caminhos energéticos. Para os Belo Horizontinos talvez isso pareça Caos, e eles não entendam de onde vêm essas buzinas e motores esquisitos, não conseguindo ver os ruidistas. Mas os El’orizones se reunem, jubilam, exultam. Há uma praça dentro da praça.

diminuímos o ritmo de lançamentos da seminal records, com 11 esse ano, com direito a um vídeo retrospectiva dos primeiros 61. em dezembro o novas frequências me pediu algo sobre a tropicália, então finalmente ouvi um álbum da gál do caetano dos mutantes do gil inteiro. toquei também na série dupl•s no sesc consolação, onde fiquei em um hotel que não podia me dar curativo apesar da porta do elevador ter macerado minha mão e no qual estava escrito grande que quem fumasse pagaria multa de r$300, mas o meu vizinho não. passei pelo ex tre ma, com um protótipo de nova música do epilepsia (micropause abuse). antes disso, de outras coisas, só zapata mesmo, cortesia natacha maurer-mário del nunzio. concebi o nome: GrRrRrR. outro nome, pra um espetáculo da dorothé depeauw e do matthias – bols & warp (pensei no mercier & camier, do beckett).

sobre a cultura pop, comecei com uma explicação de porque acompanhar listas de álbuns do ano, seguida da própria lista de 2017 (aguardem; sairá a de 2018, e já publiquei sobre anime do ano, um teatro de bonecos de porcelana tailandeses). continuei a odiar live actions, mas elaborei sobre. também opinei sobre o pior final de livro de todos os tempos e porque abandonar o jogo de filhinho papai de minha academia de heróis.

de temática vaporwave, de futuro perdido, megazone 23 mostra o descobrimento do que está debaixo do tapete, um tema platônico [da caverna]. ovo do anjo tem uma cena fantástica sobre o papel da esperança. kaiba diz muito sobre a desigualdade enquanto ideologia. santo seiya, lá da minha infância, já apontava a paixão por listas e a ideia da luta sem luta ser uma espécie de jogo de xadrez.

editei os vídeos da tábua mobile e sua queima de 2016 em duas partes; eu e matthias koole sentamos e improvisamos umas duas trilhas pra vídeos descontraídos da dayane gomes. a queridíssima andrea krohn, lá das alemanhas, me pediu algo: rebutei a trilha de augury pra ela. queria assistir ao patema invertida de cabeça pra baixo, invertido. tomei uma infração de copyright (leia-se: “permissão para advogados impedirem alguém de ver algo”). por algum erro do algoritmo do youtube, ainda está funcionando no meu blogue. a compilação de todos os finais de episódio de berserk continua sem denúncias, oh o destino.

dei uma comunicação e toquei no colóquio mark fisher: realismo espectral; participei da exposição coletiva abdzr com harry & tom e umas fotos; baby tocou no rádio. estudei robert brandom com a patrícia kauark e o thiago decat. sequelas vocabulares podem ser encontradas nos meus comentários sobre o filme wittgensteinino assassinatos em oxford, bem como nos comentário que me senti obrigado a fazer, quando da atuação verbal absurda do presidenciável eleito (a criar um apito de cachorro à brasileira, ou burro ou completamente anômalo inferencialmente, a falsa sirene). aliás, a nuvem amnésica em vanguarda de guerra circulação sanguínea é uma questão de intencionalidade. estive antes disso estudando o básico de lógica, o que refletiu na formulação da anti-orgia, bem como em preocupações com negociações salariais que tive, e na formulação do amor assintótico de onara gorou. cheguei à conclusão que o grande problema do jornalismo é sua lida deletéria com os quantificadores existenciais.

parei com as resenhas na linda, exceto uma de um ao vivo 8 bits da rrayen. meu artigo fim do noise: pop como ruído, foi publicado. reestudei o danto, tentando doutorado. tenho ainda de ler descartes, pela primeira vez, pra ver se consigo uma bolsa. enquanto isso, 3 meses como oficineiro no arena, gravação e edição de som. poucas horas, pegando grana emprestada. quem sabe isso muda (sim). os convites para cafés em casa devem continuar. nos piores dias artistas e escritores sentem-se como um super sentai na chuva.


postado em 31 de dezembro de 2018, categoria reblog : , ,