adeus 2017

2017 foi um ano estranho. saio dele querendo ser mais vencedor que herói. talvez minha arte pudesse ser mais cultura. o mundo, sempre voltando a pedir “as tarefas de casa”. um dia, plantei mais de 30 sementes e nenhuma germinou. meus horários de avião foram péssimos. aprendi a fazer coisas tendo dormido pouco. dos 18 editais mandados entre janeiro e março, passei apenas nas duas oportunidades que não fazia questão (uma delas, a estréia de uma versão comédia-free improv do livro da certeza, de wittgenstein, sem ganhar um tostão). então, reclamei. como percebi que não ganharia dinheiro algum, dada a estratégia política pateta dos gestores para a área de cultura, pedi para colegas me convidarem a trabalhar, em troco de viagens. assim, fui à joão pessoa, tocar o brasil não chega às oitavas, com c.h. malves. passei por recife, e toquei com o hrönir, na série rumor (a mixagem desse show segue as lições de karkowski). também estive pela unila, para uma oficina de edição de som e um show. gravei um passeio às cataratas do iguaçu, lado brasileiro. de trabalhos, pude receber algo muito próximo do mínimo permitido, ao editar as 10 horas do impeachment para o manifestação pacífica. no sesc, com uma obra absurda do infinito menos (3-tríade-∆-trio), ganhei bem mais, mas na fea, quando tocamos mesma coisa e dependíamos de bilheteria, aí nem conta. ademais, fui curador no fime desse ano, e escrevi um texto sobre o processo de seleção dos artistas.

senti que estava velho, com provérbios envolvendo sabedoria (da boca pra fora). tirei 68.5 numa prova de doutorado da qual passaria se tivesse tirado 70 (cuja base era esse artigo sobre o fim da música). fiquei gripado pelo menos 8 vezes. finalmente expliquei o meu amor pela coleção particular, de georges perec. e também o episódio de odisseu e as sereias, que tanto me fascinava. aproveitei e falei sobre um episódio bíblico, tanto curioso quanto enervante. escrevi dois bons poemas: arte contra a vida e todos os meus amigos. escrevi um belo conto sobre repressão e dinheiro. quis comentar sobre assuntos atuais, mas felizmente, a pós-verdade durou pouco (a hype do star wars, por outro lado, tenderá à eternidade, com novos e novos filmes). a mel, a gata que morava comigo morreu, mas deixo os pêsames pra outra postagem. uns artistas, meus conhecidos, quase viraram memes de satanismo. os humanos (e os evangélicos andam muito humanos), afinal de contas, são animais. mas isso não muda nada. ou então – sou um pouco mais feliz com protetores auriculares de titânio (evitando, de quando em quando, a nicole). se um alienígena enorme aqui chegasse, a questão não ia ser cognitiva, mas sim a diferença de tamanho.

dos trabalhos grandes, realizei o harry and tom, coleção de todas as aparições de nomes dos personagens harry potter e tom riddle, durante a filmografia do herói. ninguém deu bola. eu gosto muito do filme. também montei uma vídeo-instalação, dead and dying pixels, no luthier bar. estivemos eu e matthias por lá, com mais duas temporadas das quartas de improviso, com 22 edições e chegando ao número 110, além de 5 noites de boteco ruído, com artistas convidados. o apê amarelo da maria e do miguel deram o apoio inestimável. o 4e25 assumiu os cartazes, e esse ano o matheus colaborou no dia nacional contra a humanidade, executando também o logo do homem-cão que mija. o luthier fez um ano glorioso, mas acabou fechando as portas (há continuidade para os bares legais e aventurosos ou o capitalismo alcóolico é pura mediocridade?).

finalmente terminei meu álbum coleções digitais. demorou umas 600 horas de trabalho, em 8 anos. alguns amigos deram bola, mas passou quase desapercebido, embora sem sombra de dúvida, tenha sido o melhor álbum do ano, do planeta terra (mais sobre isso em breve). mas foi sofrido (leiam o encarte). queria morrer ao ver que a faixa que coletava todos os gritos do michael jackson tinha 36 minutos. a solução foi transformá-la em um outro álbum (espero ansiosamente a malware pra retomar o plano de lançar em k7) e depois retrabalha-la, amostra por amostra, retirando trechos melódicos, diminuindo a música para 19 minutos. após isso, ainda  masterizar, sempre estranho quando se está saturado de escuta.

outros álbuns que masterizei foram o casa acústica, do scarassatti, sob a orientação de paulo dantas, no @nll, e o 3 solos, do mário del nunzio. e o sr 3 anos, que coordenei, com o louco projeto da versão 24 horas (e haverá edições limitadas físicas do livro-zine, com arte gráfica da sanannda).

continuei estudando japonês. é um projeto de anos, coisa lenta (não consegui nem dar uma palhinha com um dos meus ídolos, otomo yoshihide). dei uma pesquisada na escrita chinesa li um pouco de gramática. comecei meu blogue 馬鹿, projeto de crítica do popas melhores resenhas de animes foram as desventuras do pão queimado (こげパン), assassinos de ninjas da animação (ニンジャスレイヤー フロムアニメイシヨン) e gurren lagann e o prometeanismo (天元突破グレンラガン), três séries que não posso deixar de recomendar. o filme que me empolgou foi o clássico de terror japonês pulso (回路). acabei usando cenas dele no videoclipe de 16h07, da daphine jardin (que de resto, é uma busca por implementar esse programa, como no seu especial de natal).

tanto pulso quanto ghosts of my life informaram minha apreciação sobre o álbum eccojams vol.1, de chuck persons e puderem se transformar numa visão minha sobre o que seriam os fantasmas do capitalismo, sob a ótica do vaporwave. na linda, escrevi bem menos. indico minhas resenhas sobre o álbum do eue, improvisos com um alto-falante alterado, e o triplo da eliane radigue, adnos i-iii.

os livros mais legais foram ghosts of my life, de mark fisher, para o qual coletei as músicas citadas (o autor se suicidou). inventing the future, de srnicek-williams, que consolidou o meu entendimento sobre o neoliberalismo e me deu vontade de traduzir e presentear. na onda da renda básica universal, panaceia mundial, li também o divertido utopia for realists, do rutger bregman – o capitulo sobre a par nixon-freeman é bem pitoresco.

finalmente li synners, da pat cadigan. prometi a mim mesmo que ia escrever sobre o uso da palavra porn, no livro, usando o beyond explicit, da helen helster como referência. ataquei o clássico da zoeira cyberpunk ancap, snow crash (neal stephenson), em que ocorre a tatuagem na testa: sem controle emocional. em uma coincidência, o tradutor, fábio fernandes, acabou, via facebook, recomendando a série de ficção inteiramente positiva que eu tanto ansiava, e assim li code blue – emergency (a sector general novel), do james white. que todos os seres sapientes sejam bons e tenham boas intenções não é desculpa para que não existam problemas. concluo então que deverá existir arte pós-utopia – adorno está errado. aliás, quem diria, em a arte e as artes, ele fala da importância do enlaçamento das artes (a tradução é do rodrigo duarte, com o qual tive meu primeiro curso de filosofia completo na vida). por fim, esse ano saiu em português o segundo livro da trilogia de cixin liu, a floresta sombria. o primeiro é o problema dos três corpos, e há algo muito interessante no fato do autor ser chinês, as referências e problemas, em meio a perspectiva de invasão alienígena (que deve acontecer no terceiro livro, ainda não traduzido).

é isso. remendando-caos, vejo que no todo não foi um ano perdido. 2018 estamos aí e se eu puder desejar algo para acompanhar os votos de 明けましておめでとうございます (feliz ano novo), seria: que possamos nos ajudar a discutir e reclamar melhor no ciclo vindouro.


postado em 1 de janeiro de 2018, categoria reblog : , ,