1. Incrível que ninguém conheça a bande dessinée na qual o filme se baseia. Quando criança me marcou bastante, embora eu admita não lembrar de quase nada (seria algo próximo do “Embaixador das Sombras” apesar do título do filme; de qualquer forma, mas vou conferir, parecem acertadas as caras que Laureline faz como uma patricinha linha dura ex-donzela medieval, e a canalhice (presunção e babaquice) de Valérian).
2. Os visuais estão incríveis (costume and scenery porn? yes). A caracterização do universo é maravilhosa, com os elementos que Mézières partilhava com Moebius e que inspirou Star Wars (até demais, na verdade, a ponto de dar pra dizer que a saga-pastiche de George Lucas tem em Valérian e Laureline a sua contraparte de ambientação, acrescida de um pouco de Flash Gordon e samurais à la Akira Kurosawa). Abaixo, um desenho do próprio Mézières, puxando a orelha de McQuerrie.
3. A cena de ação do mercado virtual é fabulosa e digna do que anda na imaginação coletiva (vide livro de William Gibson “Território Fantasma”, o qual inspirou minha postagem ideia para um museu). A cena rápida do “menor caminho possível” está entre as melhores cenas curtas de ação que já vi, e os dois usos da arma que cria uma plataforma temporária, incindentais no filme, são muito marcantes (isso existe na HQ? tem um nome?).
4. É certo que Besson não é capaz de jogar fora o desespero decadente de uma sociedade que quer ainda louvar o casamento como “engana que eu gosto”, mas pelo menos as cenas com a megamorfa Rihanna fornecem material, digamos, metafórico, para essa grande instituição falida.
5. Como em outros filmes do diretor, alguns diálogos explicativos e “ideias” atravancam algumas cenas. Seria melhor apenas ter uma condução enxuta (ainda mais com uma história simples). Fica devendo também uma maior verossimilhança para o episódio do chapéu branco (pq a armadura não funciona e permite Laureline fugir já de cara?).
6. É de se perguntar quantos coadjuvantes são necessários para sustentar os heróis. No final o heroísmo pode salvar o dia, mas sai caro. Vidas, habitações e equipamentos são destruídos.
{Valérian and the City of a Thousand Planets, filme de 2017, dir. Luc Besson, nota 7/10}