O fato de alguns filmes do Homem Aranha serem super-roteirizados leva ao seguinte: o herói preenche a função de protagonista, sendo assim escolhido como ponto focal e fazendo todo o resto girar em volta de si. Esse movimento não é preparatório. Ele vai atingir o roteiro sobre-roteirizando-o, estabelecendo uma pirâmide de relações de sub-protagonismo de variados níveis com outros personagens. E as relações de heroísmo e núcleo de convivência vão começar a se tensionar e a mutuamente se explicar e implicar. De modo que, um pouco mais de proatividade e logo ganha-se poderes; um pouco mais de poderes, vira-se vilão – o cargo do herói já preenchido. Um tanto de proximidade familiar, vira-se vítima; de emocional, cria-se a tensão: o herói não pode permitir o virar-família, isto é, vítima. Alguns deslizes e assim um pouco de conduta moralmente duvidosa, e devêm-se vilão…
Poder-se-ia a partir daí exagerar ainda mais e criar redes de relações e tendências que, uma vez aplicadas a um roteiro, re-explicam e re-implicam o universo inteiro, levando a situações absurdas. Mas isso teria de ser feito de modo tão completo quanto possível, dado o grande alcance parcial da teoria do homem aranha. Há muitas narrativas sobrecodificadas, mas e a grande sobrecodificação total?