Existe um argumento contra Girlish Number que é: o sentimento, o moe da série, prejudica a mensagem cínica. Mas isso não é perder justamente o assunto desse anime? Porque faz parte da série, contra um fundo racional claro, na qual entendemos o cinismo, tentar convencer o espectador emocionalmente de que está tudo bem, é desse jeito mesmo e devemos torcer pelo melhor. De modo que, mesmo deixando-se levar pela série, gostar dos personagens não nos impede de, ao parar para pensar, identificar a idiotia de Nanami, a infantilidade de Yae, a hipocrisia de Momoka, o fracasso e complacência de Kazuha, a mediocridade do escritor, além do mau caratismo, declarado em Chitose, escancarado em Kuzu (“desperdício”), e fingido-afirmado pelo CEO Sachou. Mesmo personagens fofos como Goju (mais ríspido) e Towada, quando avaliamos, fazem espelho para o sentimento de “não sei porque gosto dessas pessoas”, e incluem algumas cenas em que discutem isso abertamente. Mas ali, pelo menos, há relações claras de trabalho; nós espectadores ficamos a nos perguntar quanto ao poder da familiaridade – como quando nos indagam “mas porque você é tão amigo de fulano?” e por alguns momentos, não sabemos.
Digibro considerou Girlish Number o melhor anime do ano, e tem bons comentários sobre Goju; no começo, não deixa de comparar a série com SHIROBAKO, uma obra prima mas com um tom bastante diferente. Ademais, as canções de Chitose são um aparte, como um resumo do personagem no personagem: adoráveis e ruins.
{ガーリッシュ ナンバー, 2016, 12 episódios, nota 7/10}