Eu esperava que o grupo de roque Baleia, sofisticado e elegante, finalmente lançasse o terceiro álbum, depois da obra prima, Atlas. O EP Coração Fantasma não cumpriu esse papel, apesar da balada cativante Eu Estou Aqui. Ficarei no vácuo.
Como eu mesmo e colegas como o Marco Scarassatti andamos experimentando com improvisação em relação a gravações de campo, um álbum quíntuplo do Michael Pisaro jogando com gravações de campo, modificações eletroacústicas e intervenções instrumentais, parecia algo muito importante de se ouvir. Mas desconstruir o que funciona por imiscuir -nos em um ambiente tem um valor limitado, e não chega para mim a ter mais que um valor secundário, de meio caminho, em relação a paisagem sonora e a acusmática. As improvisações também, não soam com a liberdade de blocos de algo como Continuum Unbound, nem a simplicidade magistral de Transparent Cities. Então, Nature Denatured and Found Again acabou entrando pra mim como uma importante lição do que não fazer.
O álbum que eu possivelmente mais odiei esteticamente foi Caligula, do Lingua Ignota. Ouvi por ter sido colocado em alta consideração por muitos por aí. Mas é detestável como algo pode passar a impressão equivocada de que música pode-se fazer só com sentimento, com o poder de mover o coração, sem propriamente música dentro, a não ser pastiche. Mas não qualquer pastiche, é verdade. Ouvindo, tenho de pensar, “mas não sou um bebê chorão”, no sentido de: não é necessário que modelos tão simplificados de como sentir desfilem por nossos ouvidos. Sou mais do que isso. Mas a música insiste em dizer não. Isso me incomoda. De toda forma, é algo que nessa insistência, supera em muito todas as trocentas bandas de rock que empregam hoje em dia a convenção Linking Park de vocal para emocionar.
A notícia de que alguém teria gravado e lançado a integral para piano do Morton Feldman, realmente me deixou animado. Mas, por que, senhor Philip Thomas, porque tudo tão “expressivo”, com tanto pianíssimo e lentidão? A música já fala bastante por si, essa música em que o ritmo já é respirado, organicamente variado.
The Caretaker terminou finalmente seu ciclo Everywhere at the End of Time. Continuo achando a mesma coisa de sempre, que apesar das ideias, e da tentativa incrível de tentar dar um aspecto palpável musicalmente, em termos de operações e estruturas, para a noção de tornar-se demente, os estágios da demência… Enfim, que apesar disso, o som é feio, a sonoridade está sempre no limite do mal cuidado, e sempre me passa a ideia adicional e que não me parece consistente com o resto, e com a fantasmagoria estética do projeto.
Iwao, eu tenho muito medo do que você vai achar das minhas músicas se ouvi-las um dia.
bom, mas para a comparação ser justa, seu projeto musical precisaria estar em uma das duas categorias que esse artigo aborda: 1. coisas do qual sou fã. 2. coisas das quais conhecidos são fã. daí, se estivesse nelas, provavelmente ia querer um pouco de crítica negativa. já iria estar cansado de elogios…
Era mentira. Na verdade tenho curiosidade pra saber o que você vai achar (mas já imaginando a crítica negativa). Aqui estão: https://lucasfilipeoliveira.bandcamp.com/releases
eu gostei do álbum. especialmente primeira e segunda músicas. a segunda tem uns bons jogos de camadas, pedal vs coisa que se movimenta no espaço, e uns gestos bem desenhados legais. a da flauta eu sinto falta de uma relação mais orgânica de ser ou mais lento e parado ou mais frenético, por algum motivo.
obrigado por ter ouvido