A pedido de um colega, tento lembrar minha apreciação desse filme e chego a dois pontos que considero importantes: um que diz sobre inovação na forma, o outro sobre conservadorismo no conteúdo.
1. É impressionante que um filme de mais de duas horas não contenha nem ao menos um plano com mais de 3 segundos, se bem me lembro. O enorme apelo sentimental das cenas reforça ainda mais esse aspecto formal: é preciso emocionar, mas sem demorar-se aqui ou ali; a iluminação e o som devem prover continuidade onde há inúmeros cortes; o todo fragmentado deve ser apreendido como trajetos-sensação, estes, por sua vez, aglutinados em uma “grande jornada”. Ademais, imagino alguma regra oculta a indicar tipos de movimentação de câmera – do tremido na mão, seguido de modo abstrato (como uma lógica paralela) a travellings muito precisos.
2. Entretanto esse observador que aglutina os fragmentos, que é afetado a ponto de armar um todo nostálgico e assim fundir as histórias – longe do que sente, do que foi feito sentir, o que ele formula? O humano, na sua relação individual com suas mesquinharias é salvo perante o cosmos ao rememorar seus momentos de vida mais profundos, de perda e felicidade. Ou seja, a paróquia é o nosso modo de unirmos ao cosmos na nossa pequenez. Que bonito, continuamos como “feitos à sua imagem”, isto é, seres banais para um Deus banalizante.
{The Tree of Life, 2011, filme, 138′, dir. Terrence Malick, nota 4/10}