Muitas pessoas ficam esperando o amor como algo que tem sempre um “a mais”, isto é, que tem em seu conceito um suplemento. Por isso o amor aparece envolto em mistério, e quando se avalia sinceramente sobre sua existência como sentimento, há sempre uma oscilação entre arrebatamento e dúvida. Resulta disso a incerteza de que aquilo ainda não era amor. Os tons místicos do amor o tornam estrategicamente precioso: é possível dizer que não se tem amor para desvalorizar e livrar-se de algo, assim como é possível cinicamente dizer-se que tem, para valorizar e reter.
Em SPACE ADVENTURE コブラ, Dominique sabe que Cobra amou Jane, mesmo que ele diga que ele só estava curtindo uma paixãozinha, que só a conheceu por uma semana, que não quer sentir-se cobrado e que tem dúvidas sobre se aquilo poderia ser amor. “Para nós, o amor é tangível”. O amor se revela objetivamente e pode ser aferido de fora, externamente. Ele continua sendo algo que surge no sujeito, mas, longe de ser determinado por introspecção e confusões internas, ele emana e é sentido. O jogo de linguagem que desliza sempre o amoroso é bloqueado e ser amado por Jane é ser amado por Dominique. “Então aquilo era amor”, isto é, finalmente você pode perceber como era útil ter amor como uma palavra que se refere a algo. Mas para o povo de Miros, muito mais que isso: o poder joga limpo.
As irmãs atualizam o tema da anedota do cavalo Hans, e que perpassa algumas formulações do ensino em artes, quando o tutor / mestre / artista estabelecido diz ao seu pupilo para procurar o seu jeito de resolver um problema (seja ele uma figuração ou movimentos de dança etc) e não se guiar pela forma, para logo após corrigi-lo ou reprendê-lo por virtude de um detalhe ou elemento especifico — o que é sentido dentro, mesmo que possa ser modificado de dentro, só pode ser observado e avaliado de fora.
{SPACE ADVENTURE コブラ, filme de animação de 1982, dir. Osamu Dezaki, nota 5/10}