No meio das rajadas verbais de sua metralhadora imponderada, entre baboseiras e sacadas, na jornada pop aceleracionista anarco-capitalista de Favelost, 2010, Fausto Fawcett solta essas. Passando pela cirurgia da camisinha perpétua. Pela aqui infeliz e anacrônica obsessão por loiras. Pelo Brasil que “ainda é um estranho, perigoso e fascinante abismo que nunca chega” (p.29). Desembocando na Escolinha do Professor Frankfurt. No futuro do trabalhador, parodiando o manifesto comunista. Nos tantroides orgânicos e o acelerador de orgasmos.
1. “Dois grupos em desabalada carreira de perseguição com gritaria por parte de uns e, na outra malta, silêncio absoluto. É curioso, mas é assim que funciona. A turma perseguida é a dos ongoloides de vários naipes, ecologistas que não entendem a entropia da sustentabilidade. Pedagogos perdidos com a oferta de informação e ciência e pesquisas e todas as culturas e conhecimentos explodindo como minas terrestres debaixo de todo mundo, e os pedagogos humanistas acreditando em tempo de aprendizado, em introspecção, em lidas de concentração emocional e potencialidades humanas. Ficam loucos junto aos ongoloides e aos jornalistas políticos e aos sociólogos e os intelectuais alemães fanáticos pela escolinha do Professor Frankfurt, que existe em forma de simulação holográfica, e em palestras apresentadas m telões gigantescos com Adorno, Horkheimer, Habermas, Benjamin e Marcuse, alienações e claustrofobias burrificantes da sociedade espetacularizada de sentimentos sem aura, sem sagrado, sem grandeza. Apenas comercial fissura varejão psiquiátrico e atacadões psicanalíticos. Só o terror constrói alguma visão do amor sufocado na atualidade. Amor, por favor, aconteça por alguns instantes civilizados no meio da irreversível barbárie sedutora. As gigantescas holografias do museu de imersão interativa, Escolinha do Professor Frankfurt, são um must, uma visita obrigatóia pra pessoas se tocarem da importância de Favelost como Sociedade Vórtice da nova franquia social, que vai se tornar Sociedade Viral, tomando conta do assim chamado planeta, que vai se tornar uma cidade só.” (p. 167-8)
2. “Na primeira metade da manhã, uma pessoa pode ser executivo numa mini-indústria de serviços helicópteros ou de pequenos aviões de movimentação vertical, pouso e decolagem. Helicópteros sobrevoam a metrópole medieval pousando em helipontos de afastamento mínimo. Na primeira metade da manhã é executivo em mini-indústria, na segunda parte da manhã é técnico de computação, ao meio-dia é campeão de boliche, na primeira metade da tarde é doador de rim, na segunda metade é recebedor de rim. Às seis é michê zoológico de pesquisa espermática e concepção de filhos híbridos de homens e animais. Michê comendo fêmea de javali pra ver no que vai dar. Na primeira metade da noite, é professor de Física falando as agruras e sutilezas e belezas e furadas do Modelo Padrão que guia a compreensão da vida, da matéria que nos cerca e da que não vemos, mas que se insinua numa presença mais gigantesca que a visível.” (p.175)
3. “Grande orgônio, companheiro do carbono na nossa comunhão orgânica, inorgânica com o universo. União sonhada pelo pesquisador comportamental, aluno de Freud, perseguido e encarcerado, William Reich. Transformar as pessoas em tantroides, evolução acelerada dos praticantes de tantra yoga, controladores, manipuladores dos estágios orgasmáticos. Praticantes milenares da ascese sexual. Um acelerador de orgasmos instalado nos subterrâneos de uma casa de show de coitos e de relaxamento erótico. Acelerador de orgasmos. (…) Um gigantesco tubo de sete quilômetros cheio de gente trepando sem parar, gente estimulada botanicamente ou por vários implantes nos órgãos genitais, nos dispositivos internos de atração sexual, bombando o aparelho reprodutor de ambos os sexos. Assim como o acelerador de partículas na fronteira da Suíça com a França tenta reproduzir o Big Bang visando descobrir o Bóson de Higgs, último possível tijolo para a compreensão do que é a matéria clara (coisa que em Favelost é fava contada), o acelerador de orgasmos visa descobrir o Gózon de Fucks a partir de um gang bang, ou seja, vários trepando com vários.” (p.177-8)