1. Imaginem um grande argumento; um roteiro extenso para escrever outros livros. Nele, há todo os arcos, acontecimentos e personagens necessários. Mas não há descrições, conversas, elocubrações, desenvolvimento, nem personalidades.
2. O Silmarillion, de J. R. R. Tolkien (1977, publicação póstuma), faz disso um livro. E para torna-lo legível, emprega um tom mítico, constante, grandioso, de frases certeiras mas de conteúdo vago, indeterminado.
3. Narra da gênese do universo até os altos e baixos de Sauron que conduzirão à situação em que se passa O Hobbit e O Senhor dos Anéis. No fundo, como, num mundo de cobiça, as fake-news espalhadas por Melkor provocaram enormes intrigas e traições. E como os Valar ficaram olhando, até que não.
4. Me pergunto se isso é um feito. Escrever um pré-livro de tal envergadura. Um manual para fanfics. Certamente, ele embasa todo um universo. Mas a magia juvenil do Hobbit e as detida prosa incrível do Senhor dos Anéis não comparece.
5. Pois num livro, raramente pode-se pedir ao leitor que leia frases em élfico, mas é possível encher de nomes e palavras em élfico. Ó, o charme da distância. Mas e o vazio? Falta um bardo a cantar um conto e aumentar um ponto.
{imagem: desenho de Ted Nasmith para o Nauglamir}