top topzeira

1.
pergunte meu top 3 de qualquer coisa
então top tops metatopzeira
2.
mas essa é a terceira vez
que me perguntam topzeira top
3.
a resposta é a mesma
perguntaram há pouco
não deu tempo de mudar
4.
*. top vídeos nóia
*. top revistinhas infantilóides
*. top animes estronchos
5.
é como num auditório tem três competidores
quem apertar primeiro leva
6.
então top qualquer coisa
mas não qualquer top um top 3 qualquer
as 3 coisas mais quaisqueres
top 3 qualquer coisa
7.
*. top 3D tosca
*. top vídeo cocô
*. top topzeira metatopzeira top
8.
que qualquer 3D é tosqueria
e é difícil separar das fezes o cheiro
e metatopzeira é sempre top
9.
muito bem então
esclarecida a questão
vamos top top por aí




(argumento roubado de uma postagem de caroline enilorac)


postado em 24 de junho de 2020, categoria prosa / poesia : , ,

reduplicado

1.
escreveu você é parte da história então venha participar dessa história
disse que a palavra história repetia
mas a história de da história não era a mesma
que a história de dessa história
a diferença era sutil
não estava reduplicado
e nem era tautologia
e além disso lembrem whitehead não há tautologia
e deleuze escreveu um livro
chamado diferença e repetição

2.
de tanto dizerem não reduplique
varie ao invés de repetir
a reduplicação e a repetição repetida
(além da reduplicação reduplicada a repetição
reduplicada e a reduplicação repetida)
viraram recurso poético
os portugueses são uns tautológicos dizem
os brasileiro uns desleixados
e na polêmica lopes x helder é claro que eu voto lopes
(eu gosto muito
não dela
de adília lopes mas dos poemas
dela adília lopes é um pseudônimo
eu nem conheço maria josé da silva vianna fidalgo de oliveira)
mas insisto que
uma tia fuxiqueira mais vale
que um homem de ideias perigosas

(agosto de 2014)


postado em 17 de junho de 2020, categoria prosa / poesia

sonhos banais #2

a bota está justa e meu pé desconfortável. mas quando tiro a meia vejo o porquê. minhas unhas do pé estão grandes. com o dedo, cavoco o meio da do dedão direito, um pouco lascada. ela cede um pouco, fazendo um buraco, daqueles incômodos. agora é realmente necessário cortar a unha. tenho um cortador no banheiro, mas será que devo corta-las na sala, jogando os pedaços no lixo verde?

tento falar com raquel stolf, para relançarmos, agora em digital, o seu excelente assonâncias de silêncios. não consigo acha-la, ou ela demora a responder o e-mail que enviei. por um acaso, surfando nas redes sociais, vejo uma postagem que indica ela publicou o dito cujo. não sei se independentemente ou via algum outro selo. quando acordo, até finalmente conseguir falar com ela (devemos relançar mesmo), me é impossível saber se foi sonho ou não.

faz meses que perdi minha caneta de tablet, provavelmente dentro de um ônibus, nessas de ficar lendo e realçando e, desatento, deixa-la por lá ao sair. mas eis que ela está aqui? estranho. será que eu havia perdido na livraria mesmo? o quão improvável é isso, de achar assim. ou só achei que tinha perdido, mas estava todo esse tempo no bolso do casaco? isso já me aconteceu antes.

acordo, e já verifico notícias no nhk easy. mas não acesso. olho o íncone da internet e há aquela exclamação que indica “sua rede pode estar indisponível”. vou à sala e realmente o modem ridiculamente ruim que a claro/net instalou encontra-se desligado. mas ora, que estranho, deveria estar piscando pelo menos em algum lugar, ele tem tantas luzinhas… só que não, e formulo a hipótese de que falta luz. se bem que há alguma sensação recôndita de que no meu quarto havia algo aceso. checo o interruptor. realmente. vou até as chaves elétricas. são duas. uma está ligada, a outra não.


postado em 10 de junho de 2020, categoria sonhos :

religião x crença

a religião é o campo em que se insiste muito na fé, por que? é que fé e crença não são sinônimos. lembrando de descartes, pensem nisso: quando aprendo que um triângulo tem três lados e 2 + 2 são 4, adquiro a crença de que seja assim. e o faço porque não existe em mim nenhum modo contra-causal que possa decidir no que eu deva acreditar, de modo a levar-me a uma crença diferente, nesses casos. impossível um triângulo de 4 lados, ou que seus três ângulos não resultem dois perpendiculares. já em outros, quando não há razões suficientes para se decidir por algo, deveremos lembrar que a liberdade pela indiferença é o nível mais baixo desta. poderíamos indagar o motivo. é que aquele que não usa sua capacidade racional de modo produtivo, com a certeza que deus lhe proveu de poder decidir por razões, finalmente se deixa levar pelo que lhe é confuso, abandona a inclinação ao luminoso para ser navegado pela escuridão. e a indiferença, o domínio da livre escolha, provém justamente alimento a esse lúgubre movimento. o que nos preocuparia deveras, pois levaria à descrença. entretanto, é possível direcionar nosso pensar, através de exercícios e experimentos mentais, e estabelecendo regras provisórias aqui e ali, de modo a podermos ver com mais clareza aquilo que era antes confuso, ou que suspeitávamos cheio de obscuridade. se assim fizermos, conquistaremos a liberdade no cultivo e manutenção da clareira do racional.

mas e no caso da fé? seu mecanismo doxástico não seria aquele justamente envolvendo a falta de crença em algum nível, a gerar crenças confusas em outro? e essas não seriam fatalmente acompanhadas por ainda outras crenças auxiliares não declaradas, subterrâneas, a se infiltrarem sem fundamento e a lançarem trevas sobre o edifício da ação? se é verdade que deus não nos quis enganar, então por que nos inculcaria misteriosos ensinamentos obscuros? ensinamentos que, na categoria do obscuro aceitável, a fé, ainda assim, pela vontade, que é infinita, se expandiriam muito além do que podem. fé que, ligando-se à esfera do poder, a potencializar a confusão e obscuridade, interfeririam no que a liberdade alcançaria, até que seja preciso reter os ensinamentos d’o mundo, e dar inúmeras voltas a dizer que a terra move-se sem mover-se, nos turbilhões do espaço. lembremos das boas regras e direcionemos o espírito. é preciso que cada coisa fique no seu lugar. a religião organiza a falta de crença: esse é seu espaço. ou assim talvez pensasse secretamente o filósofo, de máscara no teatro do mundo.


postado em 3 de junho de 2020, categoria comentários : , , , , ,

poemas bobos #2

1.
você só bombas
eu vida pacata

2.
deus me livre ai quem me dera
é tão ruim vou ver de novo

3.
todo mundo tem uma pedra
no caminho

no meu caso um cisto
e meu caminho é o pulso
esquerdo, ele dói
e toco piano mal

nessa vida de mãos cansadas

4.
sua mulher está bem?
depende, comparado com quem?

5.
3,1415etc
queria picolé
recebeu colé


postado em 30 de maio de 2020, categoria prosa / poesia : , ,

3 nietzsches

bataille quer delirar junto a nietzsche, rumo à morte e à dissolução do homem, seu ultrapassamento, e por isso escreve um diário confessional, em uma frança ocupada, agregando a ele um compilado inspirador e uma defesa. deleuze só tem olhos para a filosofia, então apara as pontas, seleciona e reorganiza normalizando, e de lá retira argumentos consistentes e um sistema defensável. klossowski está interessado na pessoa e na obra, detendo-se em pormenores, contradições, e vasculhando cartas, traçando os caminhos tortuosos do delírio à filosofia e de volta.

todos eles são fascinados pela última fase de nietzsche. mas nela, bataille pela loucura, deleuze pelas ideias, klossowski pelo humano. um se irmana e é imersivo, outro seleciona e é conjuntivo, o último acolhe e é disjuntivo.


postado em 28 de maio de 2020, categoria comentários, livros : , , , , ,

a dificuldade de dizer não

sarah gottlieb escreveu um belo e pequeno texto sobre tabus que atrapalham uma ética quanto à contenção do sexual indevido dentro da prática do contato improvisação. um deles envolve a dificuldade de dizer não, ou seja: o mito de que dizer não é fácil. ao ler, além de concordar, não pude deixar de comparar com a minha vivência diária, como sofredor de misofonia (irritação crônica com certos pequenos barulhos de proveniência humana). pois, em âmbito diferente e com as devidas modificações, ainda assim reconheço o banho de emoções que tomo ao reclamar com as pessoas sobre os seus comportamentos sonoros (a principal ocorrência é o pedido para que usuários de telefone celular utilizem o aparelho com fones de ouvido ou então desliguem o som deste). com isso quero dizer apenas: o mito é aplicável a outros âmbitos, e a descrição abaixo pode servir de guia para a construção de outros relatos. de toda forma, segue minha tradução das etapas envolvidas, de parar de dançar até dizer não e depois.

Primeiro, tenho que reconhecer que estou me sentindo desconfortável. Como fui criada como mulher, nutrindo a expectativa de que devesse me adaptar emocionalmente com facilidade e priorizar os outros, eu normalmente ignoro esse sentimento algumas vezes antes de aceitar que ele é forte o suficiente para merecer atenção.

Então, para ter certeza, tenho de checar se a fonte do meu desconforto é outra pessoa, e não coisa da minha cabeça ou disposição.

Então, preencho-me de uma sensação mista de decepção, medo e ansiedade (assim como medo, raiva ou qualquer outro coquetel de emoções intensas que possam estar relacionadas aos detalhes específicos da experiência atual, traumas passados, alguma resposta a outros fatores ambientais etc.).

Em seguida, tenho que me acalmar usando estratégias desenvolvidas ao longo de uma vida a defender-se de avanços sexuais indesejados. Eu me encarrego de avaliar a situação com cuidado, identificando a natureza da pressão que estou enfrentando. Relembro que não preciso entender completamente minha experiência ou justifica-la, e que o mero fato de estar a sentir uma transgressão a torna válida. Relembro que mereço detê-la imediatamente.

Nesta fase, eu também realizo muitos cuidados, subconscientemente. Fico preocupado com a outra pessoa, sinto-me culpada pela possibilidade de que elas se sintam desconfortáveis, atacadas ou ofendidas. Experiencio também medo de uma reação, raiva ou violência. Em uma fração de segundo, estou analisando o quão segura me sinto, considerando minhas opções para escapar e / ou mudar a situação, e tomando uma decisão sobre como e o que dizer para que eu possa restabelecer meu próprio conforto e bem-estar com o resultado menos violento.

Então eu preciso encontrar minha voz. Eu preciso respirar fundo. Eu preciso realmente falar. Eu sempre digo menos do que sinto. Eu sempre minimizo meu desconforto, peço desculpas ou comunico que não é culpa da outra pessoa, mesmo que absolutamente seja.

E mesmo que tudo corra bem e minha mensagem seja imediatamente ouvida, preciso proteger meu coração, muito rústico, e procurar uma maneira segura de sair dessa experiência. Preciso encontrar uma pessoa de segurança para sentar ao lado, pessoa que, dado o contexto, pode ou não estar presente. Eu preciso acalmar meu sistema nervoso e me recuperar de um estado muito agitado. Ter que definir limites verbais contra transgressões sexuais é muito perturbador, e a adrenalina pode me derrubar por dias.

Esse processo inteiro pode levar 10 segundos.

em um dos encontros de estudos sobre contato improvisação que a renata campos está conduzindo, discutimos a partir desse texto. lá surgiu a questão sobre a existência de alguma de melhorar a lida com o desconforto de dizer não, de reclamar, de trazer à tona. alguma forma de diminuir a dor de fazê-lo, de quebrar a resistência que temos a fazê-lo, em diferentes níveis e diferentes situações. no sentido de: existem exercícios possíveis para tal? a conversa sobre o assunto é certamente um deles. mas há outros? (por exemplo, alguma técnica de psicologia prática).


postado em 23 de maio de 2020, categoria comentários, dança : , , , ,

trialismo cartesiano: um mapa

primeiro deus, pensamento em ato, cria a matéria, a extensão. da interação do pensamento, tornado independente de deus, e da extensão, emerge a sensação. como propriedade emergente, tem um estatuto de independência que ele mesmo é confuso. é porque sua independência é pura virtualidade, isto é, caos. deus é omnipotente e onipresente porque é criação a todo momento de tudo (a manutenção das coisas é criação de continuidade). mas isso quer dizer que, natura naturans, deus acessa por ato, sendo pensamento puro, incapaz de ser matéria e de entender a confusão da sensação. no quadro: demônios são incorporais, entes de confusão e obscurecimento que se apresentam ao pensar. anjos são partes divinas incorporadas, incapazes de emoções, entes de pura racionalidade.


postado em 18 de maio de 2020, categoria miscelânia : , ,

ao invés de adiar, viver o fim do mundo

“então, talvez o que a gente tenha de fazer é um paraquedas. não eliminar a queda, mas inventar e fabricar milhares de paraquedas coloridos, divertidos, inclusive prazerosos.” diz krenak num livrinho com 3 palestras curtas (ideias para adiar o fim do mundo). é uma mensagem de que é preciso viver bem o fim do mundo, passar por ele bem, ou melhor, perdurar e conviver com ele. porque um fim do mundo da civilização é necessário, mas há uma tragédia dentro dele que deve ser evitada, que é a tragédia da vida mal vivida, enquanto esse fim acontece.

apesar dos tons eminentemente cristãos, poderíamos dizer “apocalipse, não fim do mundo”. isto é, desvelamento, revelação. mas, como é viver dentro do desvelamento, da revelação? talvez seja como cair.


postado em 9 de maio de 2020, categoria comentários, livros : , ,

sacanagem quarentena

1. atende o hangout pelado, mas de máscara.

2. *** correntinha do testamento ***

3. “como não está trabalhando, deve estar sobrando dinheiro agora, né” (para os artistas).

4. fila na loja, única saída de casa da semana, velho é só uma gripinha seu viado te atropelando tossindo, com sorriso maroto.

5. neighborhood’s dog “summer of sam” simulator – quarentine edition. com parâmetros e tudo, raça do cachorro, idade, potência vocal, área de confinamento, distância da sua sala… para colorir sua paisagem sonora.


postado em 29 de abril de 2020, categoria comunismo : , , , , , , ,