daqui a uns meses

em junho de 2020, o que agora é visto como parte do início da pandemia, eu escrevi uma postagem imaginando um devir otaku do mundo, pra mencionar a expressão da christine greiner.

1. 仮面ライダーの変身 (poses dos kamen riders).
2. dancinhas ridículas.
3. babymetal (turning japanese).
4. offline 自殺 (suicídio-desconexão).

como naqueles memes em que o que se espera é meramente uma projeção fantasiosa do real, eu me vi começando a cultivar um jardinzinho, aprendendo a tocar flauta 尺八, preferindo os encontros dos grupos de estudo e seminários virtuais do que os presenciais e pedindo vegetais orgânicos pra entrega.

então, para dar conta desse descompasso, fui impelido a fazer algo que o expressasse. “quando a vida não entrega, temos a arte”. e essa é a explicação da cena do pandinha dançarino no QI147. stay home and パラパラ.


postado em 16 de agosto de 2021, categoria crônicas, dança : , , , ,

a nova babel virtual e o colapso da máquina

1. a cidade tornara-se um labirinto global em constante expansão, enquanto nós continuávamos recolhidos. na pós-pandemia, reclusos que somos, finalmente entendíamos o valor da permanência. o apocalipse havia chegado e aceitávamos tratar-se de fim de mundo. a revelação viera da separação entre os elementos do binômio economia e saúde. Sustentabilidade enfim: maximizadores autônomos de urbanismo bricoleur nos forneciam os materiais necessários para o condicionamento paulatino rumo a circuitos de digitalização em espiral. a natureza era refeita e não precisávamos mais de sol nem pele, positivamente hikikomoris, e olhávamos para dentro. restáva-nos a infinita tarefa da construção da nova babilônia, imenso playground virtual de perpétua mobilidade daqueles que redescobriam o nomadismo verdadeiro.

2. no seu incrível conto the machine Stops (a máquina para), de 1908, e. m. forster especula uma humanidade cujos indivíduos vivem isolados em abrigos subterrâneos auto-sustentáveis, geridos por um eficiente sistema – a máquina. desdenham tanto o corpo quanto o personalismo, e sua existência toma a forma de um formigueiro cibernético, de fluxos de imagens, pra usar a expressão do vilém flusser. o problema é que não há um completo abandono da prisão de carne para uma nova liberdade. os humanos evitam contato direto, tanto visual não mediado quanto tátil, mas o fazem em uma dependência excessiva dos equipamentos que os circundam, sem entretanto fundir-se a estes. o estado de coisas, depois de um ponto ótimo, reproduz uma mecânica que degenera em atavismo, e o ressurgimento do religioso, no mecanicismo não-denominacional, é um sinal que o colapso se aproxima. a cessação de atividade finalmente dá lugar ao terror inesperado do silêncio informacional. aprender de segunda mão, tomar tudo como mediado, acaba por mostrar que sair da caverna para encontrar o sol não é tanto encontrar as ideias, mas a incorporação das mesmas em coisas. penso que seja uma forma de vida e seus problemas o que torna as articulações valiosas e vivas, em mutação contra a estagnação do puro espiritual.


postado em 23 de dezembro de 2020, categoria comentários, livros, prosa / poesia : , , , , , ,

saudades da civilização

coisas que sinto falta
1. café expresso
2. dançar contato improvisação
3. shows de música experimental
4. silêncio de quando os vizinhos estão fora de casa
5. a possibilidade remota e improvável de ir jogar futebol no domingo

coisas que não sinto falta
1. sair de casa


postado em 1 de julho de 2020, categoria comentários : , , ,

sacanagem quarentena

1. atende o hangout pelado, mas de máscara.

2. *** correntinha do testamento ***

3. “como não está trabalhando, deve estar sobrando dinheiro agora, né” (para os artistas).

4. fila na loja, única saída de casa da semana, velho é só uma gripinha seu viado te atropelando tossindo, com sorriso maroto.

5. neighborhood’s dog “summer of sam” simulator – quarentine edition. com parâmetros e tudo, raça do cachorro, idade, potência vocal, área de confinamento, distância da sua sala… para colorir sua paisagem sonora.


postado em 29 de abril de 2020, categoria comunismo : , , , , , , ,

aqui vai ser maior

enquanto você fica em casa
em quarentena
um político da comitiva passeia
um político da comitiva presidencial viaja
e encontra um outro político
(ou um militar)
que passeia e viaja
e passa no mercado
vai à academia vai à padaria vai ao culto
onde jesus do apocalipse agradece
brasil
#AquiVaiSerMaior


postado em 19 de março de 2020, categoria prosa / poesia : , , , , , ,