すき焼き todo dia. o caso dos estagiários 澄夫 e 藤雄 (“cadê o sumiu? está com o fugiu”). うどんと鳥の唐揚げ (frango a passarinho e sopa de macarrão). a mãe que indicava aqui no ônibus falando ここ (cocô). a outra mãe que pedia pro seu filho por uma cesta (かご – cagô). 6 kilos de robalo para sashimi. o pai que gritava o nome do filho, seguido de 筆! (fudê), para que ele trouxesse um pincel. a cantora 加賀まりこ(mariko caga). o café que era ou ホト (“hoto”) ou アイス (“aissu”). o caso da velha no elevador dizendo コールド (cold) e só depois 寒い.
postado em 8 de janeiro de 2017, categoria crônicas : comida, gafes, japonês, línguas
eu aprendi que o dia 24 é diferente do 25 e que natal é no 25. quando criança, a principal caracterização disso era: você tinha de ficar passando fome até as 0h, caso fosse comemorar a data. caso você perdesse essa virada (alguém te alimentasse e você distraidamente dormisse antes, sem perceber nada de estranho), era possível saber ser natal se o almoço fosse ainda farto, mas composto de sobras. se alguém te oferecesse um presente logo de manhã, a confirmação seria plena. você jantaria normalmente pelas 20h, e o dia seguinte amanheceria com a confiança vitoriosa de tratar-se do 26.
postado em 24 de dezembro de 2016, categoria crônicas : 25 de dezembro, ceia, infância, natal
1. um milhão de formigas transportam ovos brancos, do lado de fora do portão de casa até o centro do muro do lado de dentro.
2. quarenta minutos esperando o pompéia no ponto. ah, mas é que o trajeto nos próximos 2 kilômetros mudou, descubro andando de um ponto a outro (obrigado de novo bhtrans) (correção – não mudou tanto, mas aparentemente nesse dia não…).
3. conversa do cobrador com o motorista: o filho lá morto e aí vem a família culpar o motorista, querendo bater nele, falando vou te matar, vê se pode, a audácia. a sorte dele é que lá era amigo do patrão. aí foi aquela porradaria, desceu uns 20. pai, cunhado, mãe, filha tudo apanhou. eu não tenho nada disso de não bater em mulher não, não tenho pena. gente insolente. ser motorista não é fácil não, vê você mesmo.
4. vou ao correio com um pacote, para a alemanha, para concorrer a uma residência, em cima do prazo. o que tem dentro? (tenho de contar minha vida inteira?). mas tem um cd, certo? então a coisa complica (quando o correio colabora com a receita federal, kafka no chinelo). coloca-se um pacote dentro de uma caixa de papelão, e acabo por assinar 12 vezes (isso mesmo, com 2 delas ficando para mim), provavelmente dizendo que se o cd quebrar ou os papéis dentro forem papéis ilegais, a culpa é minha mesmo, mas nunca do sistema de envio. 100 reais depois, e 30 minutos (sério), parece que está tudo certo, exceto – nenhum dos carimbos consegue imprimir a data de envio. a data vai sair, tem mais um carimbo lá dentro que este sim está funcionando, e some.
postado em 30 de novembro de 2016, categoria crônicas : bhtrans, correios, formigas, motorista, pacote, pompéia
1. vamos combinar né, moçadinha – idiota é positivo, imbecil é negativo.
2. qual sua profissão? ah, sou crítica de portfólios.
3. deus e satanismo não combina. deus e religião não combina. deus no controle.
postado em 19 de novembro de 2016, categoria crônicas : deus, idiotia, portfólio, religião, satanismo
cedo ir ao açougue, mais tarde ao empório; cansado deixo o banco pra depois (maravilhas da internet). de barriga cheia, uma bela postagem ou comentário. tenho poupança e investimentos. amanhã quem sabe?
postado em 6 de setembro de 2016, categoria crônicas : capitalismo, individualismo, jean-paul sartre, karl marx, pós-história, socialismo
1. bar da esquina, madrugada pré e pós trackers, mais de 10 pessoas, muita cerveja, peço: uma água com gás e um croassã. paulo dantas, estupefato, oferece 50 centavos como prêmio.
2. depois de 1h10 em uma fila para conseguir ingressos para a instigante peça de teatro “adeus, palhaços mortos”, com trilha e sonorização ao vivo por tiago de mello, vamos ao café. estou de ressaca, então peço: um pão de batata, um croassã, um combo donuts + café expresso, uma água com gás, um cachorro quente, uma coxinha e o molho tabasco para acompanhar.
3. na linha amarela, pausa na lanchonete interna ao metrô. pergunto: quanto é o refresco? 2 reais. pago e falo, quero o laranja, qual o de maracujá, não esse aqui, ah o de frutas vermelhas, esse mesmo, é laranja não é, a cor…
postado em 4 de agosto de 2016, categoria crônicas : bar, café, comes e bebes, croassã, lanchonete, são paulo
1. filosofia da queima de livros (book burning philosophy / bücherverbrennung philosophie)
livros são bons itens para queima. é que, do ponto de vista do fogo, cada página é um objeto. um livro é formados por inúmeros objetos-páginas, leves e combustíveis. diferentemente de um toco de madeira, ou um tijolo, uma página resiste pouco, permitindo um passeio flamejante em que extinção e transmissão se confundem.
2. museu das traças
cultivam-se traças. quando há um número suficiente destas, digamos, 100 mil, elas são espalhadas em uma biblioteca, que logo se transforma em um museu das traças. livros viram traçados – relíquias do império lepisma.
postado em 24 de abril de 2016, categoria crônicas, proposições : bibliotecas, fogo, lepisma, livros, traças
na livraria de um simpático senhor para o qual o melhor livro já escrito é tuareg, de alberto vázquez-figeuiroa, no centro de belo horizonte, descubro que há uma compilação pós-morte de máximas de schopenhauer intítulada a arte de ser feliz. resolvo comprar, na certeza de encontrar logo no começo do mesmo a afirmação da impossibilidade real da felicidade. satisfeito, considero a máxima 36 representativa:
O meio mais seguro de não se tornar muito infeliz consiste em não desejar ser muito feliz, portanto em reduzir as próprias pretensões a um nível bastante moderado no que diz respeito a prazeres, posses, categorias, honra etc., pois a aspiração à felicidade e a luta para conquistá-la por si só já atraem grandes desventuras. A moderação, por sua vez, é sábia e aconselhável, porque é facílimo ser muito infeliz, enquanto ser muito feliz não apenas é difícil, como também é totalmente impossível.
de forma que a melhor opção de todas é estar sereno (que é uma qualidade que depende em 90% da sua disposição interna e não do mundo exterior), e estando sereno, apenas estar sereno: sem motivos. assim, descobrir o verdadeiro egoísmo, o egoísmo da dissolução sem esforço do eu. auto-ajuda.
após pagar, o livreiro me confidenciaria: “você sabe que a humanidade nos trouxe apenas dois filósofos. um deles foi platão. o outro…” e então olharia pro manualzinho em minhas mãos.
postado em 13 de abril de 2016, categoria crônicas, resenhas : arthur schopenhauer, auto-ajuda, felicidade, livraria van damme, serenidade
1. estou com um monte de equipamentos: mala de rodinhas média, mochila abarrotada, tripé de fotografia. paro o ônibus no ponto e pergunto: vai pra bahia com a augusto de lima, ou perto? o motorista, olhando de esguelha pra mim, parece ter mexido a cabeça para baixo num gesto que poderia dizer sim. peço pra entrar por trás e ele abre a porta. que bom, deve ter me ouvido. entro. o ônibus não vai pra lá.
2.vou ao banheiro do arcangelo no maletta. desconfio pela demora, adentro o corredor que leva à porta fechada e pergunto, tem alguém aí. tem. certo. ao tentar voltar pra fora, descubro uma garota de saia curta frisada óculos de armação preta e celular, infernalmente teclando, vidrada nele. oi moça, quero ir ao banheiro mas preferiria não esperar no corredor. ela olha pra mim de esguelha, em seguida voltando ao luminoso mensageiro que segura em mãos. repito, moça, vou esperar ali fora, um pouco mais alto. ela parece se virar um pouco e eu passo. pequeno tempo depois o banheiro se abre e uma outra garota, conhecida, sai. sorri amigavelmente pra mim, mas não posso vacilar, porque tenho de dizer moça, firmemente. ela para, meio decepcionada por não poder burlar a ordem da fila, o banheiro é unissex. eu, licença o corredor é estreito, ela e o maldito celular, passo apertado mas acabo esbarrando com o ombro nos óculos, virados como estão pra baixo, e entro, pessoa mais sem noção.
postado em 9 de abril de 2016, categoria crônicas : banheiro, comunicação, esguelha, ônibus
13h entre a gustavo da silveira e a silviano brandão antes dela propriamente – pro lado de lá do viaduto. passo apressado como sempre, rumo ao local de trabalho. dessa vez entretanto vejo um sujeito grandalhão e desengonçado segurando uma pré-adolescente magrela, com os dois punhos pressionando com certa violência o braço dela. ela grita e chora. o ambiente é de drama familiar, com um tanto de teatralidade edipiana, mas no meio da rua. passo, mas paro e me viro.
eu: o que está acontecendo?
ele: nada não. ela é minha filha, eu sou o pai.
ela: ahhh, me laargaaaa.
eu: senhor, ela não está gostando, você está usando força bruta.
ele: olha, você não tem nada a ver com isso, você não sabe de nada. essa muleca está 5 dias fora de casa, falta à escola, agora não quer voltar.
ela: mentira, ele que me expulsou de casa!
pessoas passando, um cara começa a manobrar atrás do duo. rua movimentada.
eu: olha, mesmo que ela esteja errada, você está sendo violento. vocês tem que tentar resolver de outro jeito.
ele: eu sou o pai dela. ela tem 14, é menor. é minha dependente, porra.
eu: bom, ela é sua dependente mas tem direito de agir por si.
ela: me larga, me larga!
nisso ela escapa. ou ele deixa ela escapar. estou a dois metros deles. apenas atiçando moralmente a situação. ela corre e passa o viaduto, rumo a silviano brandão propriamente dita. ele olha pra mim. o sujeito da manobra parece ter conseguido parar numa vaga, a 1 metro do pai, eu a 2 dele.
ele: estou com raiva. vou descontar minha raiva em você seu filho da puta. pode chamar a polícia, você vai ver só, se intrometendo.
eu: cara, vai na sua.
mas não ter medo e encarar a situação com altivez é uma burrice terrível pra quem está tanto tempo longe das artes marciais. desvio dois chutes mas levo um soco na cara. olho desacreditado, um olhar de “não acredito, seu idiota”.
ele: se vc não for embora vou te bater pra valer.
eu: eu vou, estou indo embora.
legal, o brinde por ser bom moço, bancando o herói (mas que herói comedido). estou tranquilo, mas com a cara ensanguentada e me pergunto horas depois se vai ficar cicatriz. tomara que não. e se eu encontrar o sujeito de novo no mesmo caminho de sempre, qual será o diálogo?
“ei, seu puto” “puto por que, por ter falado pra vc soltar a sua filha e depois ter oferecido a cara a tapa? você foi um idiota, sabia? e ainda mais: percebi que no fundo você queria mesmo era soltar ela o tempo todo, só não tinha coragem. coisa feia descontar em mim.” “é e vai ter mais” “ah não. dessa vez eu fujo e chamo a polícia, fica aí na sua. te fiz um favor”.
e a filha. será que apanharia na rua? e quando finalmente voltar pra casa, será que não apanhará proporcionalmente mais por ter escapado? imagino o tipo de problema que leva a filha a confundir fugir e ser expulsa: fazer sexo com alguém, ser lésbica, chegar drogada etc – essas amenidades que pais adoram para alimentar sua maldade e ira.
postado em 6 de abril de 2016, categoria crônicas : briga, moral, silviano brandão, soco, violência