Baronesa

Depois de ver Baronesa no cinema, o que me pergunto é o seguinte: eu deveria estar de alguma forma chocado ou indignado com a condição de vida colocada em ação, através da estética bruta e na marra do filme?

Porque, por mais distante que essa vivência esteja da minha, por mais marginalizada, ela não me é de modo algum estranha. Por mais diferentes os personagens, sinto que conheço bem os tipos. Não me identifico com eles, mas tenho simpatia pelas soluções, e compreendo as preocupações e problemas, mesmo sendo tão diferentes dos meus.

Saí do filme pensando se a indignação é mesmo um motor da ação. Projetei o que esperariam de mim, quando saí do cinema sorrindo porque era uma obra  incrível, muito boa, mas não porque as condições de vida dos personagens (interpretando “a si mesmos”) eram extremamente precárias. De certa forma, aquilo também sou eu, o aquilo do filme, o algo que ronda, mas não o absurdo ou o trauma. Não a iminência real de perder tudo, de levar tiro, de ter de fazer arranjos escusos. E isso como informação, não era novidade.

Então, não é a violência e a precariedade que tornam o filme incrível, nem as imagens e conteúdo informacional destas, mas a forma que habita, se transforma e resiste, nessas condições.

O que extrapolo disso é que há quem, indignado, caia em melancolia e a carregue como um fardo; há aqueles que sentem que seria melhor evitar e se afastar de tudo isso, como se para diminuir a existência relativa da miséria. Ou seja: há vários possíveis resultados para o mesmo sentimento (e vários afetos para a mesma relação). A aceitação de uma dada situação pode se ligar ao conformismo, tanto quanto apenas à avaliação de que algo é daquele modo. Não segue disso que o comportamento será passivo. À impulsividade ligada à indignação, pode-se responder com planejamento; com argumentos que orientam a ação, inclusive fazendo caso de sentimentos. De um modo ou de outro, o que é buscado não é uma vantagem do ponto de vista da “honra interior”, mas a precipitação da mudança (para melhor).

{Baronesa, filme longa metragem de 1h13, dir. Juliana Antunes, com Andreia Pereira de Sousa, Leidiane Ferreira, Gabrila Souza, Felipe Rangel dos Santos, 2018}

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