Em 00:08 um rapaz bebe uma xícara de café. Mas como é uma cena animada que assume a linha como a sua essência, abre-se para uma série de transformações. Essa abertura é feita porque redesenhar uma cena de 8 segundos seguidamente não é possível do ponto de vista da linha, ainda mais se o que se bebe é café. E isso por dois motivos. Primeiro, porque uma pessoa e uma xícara são figuras formadas por linhas e há na figuração uma tensão cuja retenção é custosa; os volumes estão sujeitos a pequenas variações contínuas que antevêm a dissolução. Seu fechamento e estabilidade tem de ser conquistado quadro a quadro. As intervenções de rabiscos de preenchimento indicam também um desejo por romper e vagar ou percorrer a página. As áreas de preenchimento descolam-se e tornam-se secundárias. E na estabilidade da forma há um conflito com forças em outro tempo, forças do tempo do traçado, que se congelam em vetores num quadro, cujo movimento é instantâneo, contra a sequência do tempo que deve forçá-las a um conjunto. E dessa tensão, na pressa que advém da taquicardia própria do café (e esse é o segundo motivo), não há como esmiuçar algo e elaborar transformações consistentes, aprisionando a linha num desenho. Pra algo mais minimalista, constante e robusto, seria preciso que fosse uma xícara de chá. Os impulsos diversos e o divagar desordenado que se embrenha na rotina, resolvem-se num desenvolvimento improvisatório das linhas, que de repente vêm-se como princípio não apenas das formas, mas das coisas mesmas: só que não inteiramente. Porque elas não podem manter-se – a viagem é apenas um lapso e não há tempo para ideias, mas apenas efeitos. O próximo gole traz a rotina de volta. É possível trabalhar na dispersão. É só não se envolver demais. A linha aí é como a mente que se agita quando o corpo ainda responde sonolentamente.
Os vídeos do Kubo podem ser vistos no site dele.
{00:08, filme de animação de 5 minutos, 2014, dir. Yuutarou Kubo, nota 7/10}