Embora 君の名は não trate de uma possível divisão do ser ou “meio período da alma”, como talvez Ranma 1/2 faça (a ver), o filme mostra que, mesmo mantendo o ser, é a situação que define como ele deve referir-se a si mesmo; ou seja, “o eu é outra coisa”. E as situações dependem de costumes e conhecimentos implícitos: os jogos de linguagem adequados. Os “eu”s são efeitos da gramática.
Um pequeno texto de Hisayasu Nakagawa (中川 久定) intitulado Lococentrismo (publicado em Gratuita Vol 2, Tomo 1, Editora Chão de Feira, trad. Gustavo Rubim) discute rapidamente essa concepção (obrigado Anna Arbo pela referência). Cito dois trechos:
Augustin Berque cita uma fórmula do linguista japonês Takao Suzuki: “O eu dos japoneses encontra-se num estado de indefnição por falta de coordenadas, digamos assim, antes de aparecer um objeto particular, um parceiro concreto, e o locutor lhe determinar a natureza exata.”
Ora, segundo a análise de Maruyama, no Japão nenhum facto histórico se explica como produto de vontades individuais. A história, em princípio, é interpretada como se a) todas as coisas se formassem por si próprias, b) sucessivamente, c) com força. Assim, compete a cada historiador colocar a ênfase em cada um destes três fatores da fórmula precedente — a saber: em a) (a formação espontânea dos acontecimentos), em b) (a sucessão dos acontecimentos), ou em c) (a força com que os acontecimentos se formam com espontaneidade).
O canal do Sahgo propôs uma solução em português interessante.