bigamia e filhos

A: o esqueminha ter filho contra a ideia de ter dois caras. e daí aquela coisa: se tiver filho, vai ser de quem? vão ser dois papais?
B: ah, mas sempre pode ter o primário e o secundário. o problema dos humanos é essa coisa baleia do filho ter de ficar grudado durante anos na mãe.

postado em 25 de março de 2017, categoria crônicas : , , , ,

aquele empurrãozinho

escolho viajar na segunda-feira, na perspectiva de um ônibus vazio, então silencioso e uma estrada vazia, então tranquila – pela internet só mais 3 pessoas reservaram lugares. chegando lá, ao entrar no ônibus, vejo um jovem rapaz, de uns 25 anos, óculos escuro, malandragem-do-bem, sentado no assento 30. eu lhe informo: minha passagem é no 29 (a sua é no 30 mesmo? ele faz que sim). indignado, mas sempre cético, levanto o olhar pros lugares de novo: não há nem mesmo metade deles ocupados; por que raios alguém escolheria um lugar ao lado de um ocupado?! não aguento e dou bronca, inutilmente; contrariado, ocupo o 25 e minha mochila o 26.

passados dois terços da viagem o motorista avisa: olha, tem um acidente na estrada, vamos ficar parados, certo? (que bom ele avisar, mas o tom de “a culpa não é minha” irrita, chega a perguntar “o que vcs acham?” bom eu acho ruim, mas é melhor esperar na estrada do que esperar no gral, certamente). olho para os dois assentos logo do outro lado do corredor, aquela loira que esbarrou em mim na parada, estabanada, passados 40 anos, com jeito de carente, meio perdida e ansiosa, semi deitada na diagonal. um pensamento vem, intuído: ela está procurando alguém, ela quer sexo, aquele rapaz gostaria de ter seu lugar sorteado ao lado dela, como quem pensa “vai que eu sento do lado da mulher de meia idade carente, eu, jovem ingênuo e otimista”. imediatamente solto um “pqp” mental. isso vai acontecer. adeus viagem agradável, eles vão escolher sentar atrás de mim e ficar interminavelmente falando sobre a vida (dela).

20 minutos depois o ônibus para e a primeira coisa que faço é olhar para o lado. em instantes, de fato, eles começam com o básico, um para o outro: “será que vai demorar muito?” “ainda faltariam 3 horas de viagem, estava tão tranquilo, que azar” e “bom meu nome é”. fico me perguntando por que não iniciariam a conversa com “que bom que o ônibus parou, acidentes são como empurrãozinhos não é mesmo, posso agora falar de como eu estou finalmente me afastando da minha família e procurando outros relacionamentos, da história com meu ex-marido, minha filha, os ciúmes, beijo no ombro dele, é, você é charmoso etc”. mas no fundo, tanto faz. tiro meus protetores auriculares, que não são suficientes e escolho ouvir música, tentando mascarar a conversa (similarmente, mais um homem e uma mulher começaram a conversar, mas mais à frente, com um tom menos promissor).

saio do ônibus e espero lá fora, até ele dar a partida. sento e 30 minutos depois, eles ainda estão animadamente conversando, mas, e nisso me enganei, mantiveram seus lugares. falam alto, um de cada lado do ônibus. desisto e vou sentar no último assento, logo à frente do banheiro. melhor amônia, xixi do que humanos. ah… 人間だ.


postado em 4 de março de 2017, categoria crônicas : , , , ,

não-bloco

ao contrário do que teorizei em 2013, o não-bloco, agora que pude observá-lo caminhando durante algumas horas no domingo, do centro cultural são paulo até a paulista, descendo até o centro e virando para a república, apresenta-se como uma solução tipicamente paulista para as aglomerações carnavalescas. há sempre uma expectativa, mas em nenhum ponto do trajeto uma realização: pessoas semi-embriagas caminhando em direção a “mais caminhadas”, de uma felicidade contida, do deslocar-se, às vezes quase dançando – pequenos fragmentos de canto e coreografia; um clima de possibilidades (tensão de briga, olhares ansiosos por azaração), mas ao fim, conscientes da sensação de que há um objetivo virtual (o bloco), que é mero pretexto para o atual (o não-bloco), e que na verdade, esse último, que seria condição de existência para o primeiro, encontra-se aqui estável, invertendo a relação.

ânsia de poder como desaparecimento? segue uma pequena lista de momentos divertidos:

  1. um senhor de 70 anos de idade vestindo uma camiseta larga branca, com bolinhas vermelhas, toca mp3 pendurado no pescoço, fazendo uma dança ridícula, mas com um balde ao lado, para que os transeuntes depositassem dinheiro.
  2. um senhor de 60 anos de idade parado em uma escadaria, impassível, com óculos escuros e terno, segurando a coleira de seu cachorrinho de pelúcia (mas vejam, ela rompeu-se, a qualquer momento o dog pode escapar (?!)).
  3. na frente do novo shopping (cidade?) plantaram alguns pau ferro, em buracos minúsculos. os paisagistas (?) sabem que essa árvore cresce bastante e por vezes cai, não? (imaginei isso acontecendo)
  4. uma jovem de 20 anos de idade com a boca muito aberta e a língua inteiramente para fora, em pose pornográfica que no momento parecia ter sido realizada para tentar irritar dois rapazes hipócrito-libertinos, que se afastaram em seguida.
  5. uma tentativa de formação de bloco, ao som de enter sandman, próximo ao anhangabaú, com uma adesão distanciada e não coordenada (aquele grupo estaria tentando dançar axé?).

postado em 27 de fevereiro de 2017, categoria comentários, crônicas : , , , , ,

cachoeira secreta

em um serviço de localização na internet, bruno descobre um nome para a cachoeira: cachoeira secreta. na pequena trilha de entrada, sua amiga alerta: está cheião – o jeito é subir pelo rio, 300 metros, tal como explorado nas fotos via satélite (as partes brancas são quedas). a segunda das três gera uma espuma que se faz e desfaz periodicamente, subindo nas rochas. o sol é refletido e há tanto riscos de luz branca, ziguezagueando frenéticos, quanto uma coloração âmbar, tingindo a pequena queda. sentamos e somos massageados. na volta, sumodjo lembra de quando ia pular no lago e perguntou, aqui dá? ao que responderam – um cara acabou de morrer aí, olha o chinelo dele.

de volta, em casa, a ideia era preencher as imagens com os nomes cachoeira secreta 1.2 e cachoeira secreta 1.3. mas no dia seguinte, quando outros tentaram entrar, a passagem estava fechada e dizem terem vistos capangas. propriedade particular é facão na mão.


postado em 17 de janeiro de 2017, categoria crônicas : , , , , , ,

minicrônicas japonesas

すき焼き todo dia. o caso dos estagiários 澄夫 e 藤雄 (“cadê o sumiu? está com o fugiu”). うどんと鳥の唐揚げ (frango a passarinho e sopa de macarrão). a mãe que indicava aqui no ônibus falando ここ (cocô). a outra mãe que pedia pro seu filho por uma cesta (かご – cagô). 6 kilos de robalo para sashimi. o pai que gritava o nome do filho, seguido de 筆! (fudê), para que ele trouxesse um pincel. a cantora 加賀まりこ(mariko caga). o café que era ou ホト (“hoto”) ou アイス (“aissu”). o caso da velha no elevador dizendo コールド (cold) e só depois 寒い.


postado em 8 de janeiro de 2017, categoria crônicas : , , ,

24, 25 ou 26

eu aprendi que o dia 24 é diferente do 25 e que natal é no 25. quando criança, a principal caracterização disso era: você tinha de ficar passando fome até as 0h, caso fosse comemorar a data. caso você perdesse essa virada (alguém te alimentasse e você distraidamente dormisse antes, sem perceber nada de estranho), era possível saber ser natal se o almoço fosse ainda farto, mas composto de sobras. se alguém te oferecesse um presente logo de manhã, a confirmação seria plena. você jantaria normalmente pelas 20h, e o dia seguinte amanheceria com a confiança vitoriosa de tratar-se do 26.


postado em 24 de dezembro de 2016, categoria crônicas : , , ,

novembro de 2016

1. um milhão de formigas transportam ovos brancos, do lado de fora do portão de casa até o centro do muro do lado de dentro.

2. quarenta minutos esperando o pompéia no ponto. ah, mas é que o trajeto nos próximos 2 kilômetros mudou, descubro andando de um ponto a outro (obrigado de novo bhtrans) (correção – não mudou tanto, mas aparentemente nesse dia não…).

3. conversa do cobrador com o motorista: o filho lá morto e aí vem a família culpar o motorista, querendo bater nele, falando vou te matar, vê se pode, a audácia. a sorte dele é que lá era amigo do patrão. aí foi aquela porradaria, desceu uns 20. pai, cunhado, mãe, filha tudo apanhou. eu não tenho nada disso de não bater em mulher não, não tenho pena. gente insolente. ser motorista não é fácil não, vê você mesmo.

4. vou ao correio com um pacote, para a alemanha, para concorrer a uma residência, em cima do prazo. o que tem dentro? (tenho de contar minha vida inteira?). mas tem um cd, certo? então a coisa complica (quando o correio colabora com a receita federal, kafka no chinelo). coloca-se um pacote dentro de uma caixa de papelão, e acabo por assinar 12 vezes (isso mesmo, com 2 delas ficando para mim), provavelmente dizendo que se o cd quebrar ou os papéis dentro forem papéis ilegais, a culpa é minha mesmo, mas nunca do sistema de envio. 100 reais depois, e 30 minutos (sério), parece que está tudo certo, exceto – nenhum dos carimbos consegue imprimir a data de envio. a data vai sair, tem mais um carimbo lá dentro que este sim está funcionando, e some.


postado em 30 de novembro de 2016, categoria crônicas : , , , , ,

dois comunicados e uma conversa

1. vamos combinar né, moçadinha – idiota é positivo, imbecil é negativo.

2. qual sua profissão? ah, sou crítica de portfólios.

3. deus e satanismo não combina. deus e religião não combina. deus no controle.


postado em 19 de novembro de 2016, categoria crônicas : , , , ,

um ser verdadeiro

cedo ir ao açougue, mais tarde ao empório; cansado deixo o banco pra depois (maravilhas da internet). de barriga cheia, uma bela postagem ou comentário. tenho poupança e investimentos. amanhã quem sabe?


postado em 6 de setembro de 2016, categoria crônicas : , , , , ,

3 pedidos

1. bar da esquina, madrugada pré e pós trackers, mais de 10 pessoas, muita cerveja, peço: uma água com gás e um croassã. paulo dantas, estupefato, oferece 50 centavos como prêmio.

2. depois de 1h10 em uma fila para conseguir ingressos para a instigante peça de teatro “adeus, palhaços mortos”, com trilha e sonorização ao vivo por tiago de mello, vamos ao café. estou de ressaca, então peço: um pão de batata, um croassã, um combo donuts + café expresso, uma água com gás, um cachorro quente, uma coxinha e o molho tabasco para acompanhar.

3. na linha amarela, pausa na lanchonete interna ao metrô. pergunto: quanto é o refresco? 2 reais. pago e falo, quero o laranja, qual o de maracujá, não esse aqui, ah o de frutas vermelhas, esse mesmo, é laranja não é, a cor…


postado em 4 de agosto de 2016, categoria crônicas : , , , , ,