– Yo, Y. T. – diz Roadkill. – Iaí? – Iaí você? – Surfando a Tura. Iaí você? – Puxando uma cara na The Clink. – Urrú! Quem te pipocou? – MetaCops. Me grudaram no portão do White Columns com uma arma de catarro. – Urrú, que muito! Quando é que você tá saindo? – Já, já. Pode passar aqui e me dar uma mãozinha? – Como assim? Homens. – Você sabe, me dar uma mãozinha. Você é meu namorado – ela lembra, falando de modo muito simples e objetivo. – Se eu sou pipocada, a ideia é você vir ajudar a me tirar daqui. – As pessoas já não tinham que saber um negócio desses? Será que os pais não ensinam mais nada aos seus filhos? – Bom, ahn, onde é que você tá? – Buy ’n’ Fly número 501.762. – Eu estou indo pra Bernie com uma superultra. Isso quer dizer San Bernardino. Isso quer dizer uma entrega de superultra-alta prioridade. Isso quer dizer que você está sem sorte. – Ok, valeu por nada. – Desculpaí. – Surfa seguro – diz Y. T. no tradicional câmbio sarcástico. – Continua respirando – despede-se Roadkill. O ruído de rugido se desliga. Mas que babaca. Na próxima vez em que saírem, ele vai ter de implorar. Mas, nesse meio tempo, tem outra pessoa que lhe deve uma. O único problema é que ele pode ser um babaca. Mas não custa tentar.
O kendô é para a verdadeira luta de espadas samurai o que a esgrima é para os verdadeiros espadachins ocidentais: uma tentativa de pegar um conflito altamente desorganizado, caótico, violento e brutal e transformá-lo num jogo bonitinho.
– Sabe como é, o trabalho de um monopolista nunca termina. Monopólio perfeito é coisa que não existe. Parece que você nunca pode conseguir aquele último décimo de 1%.
Os japoneses não engolem essa besteira de ir até o final. Se alguém atingir um homem no topo da cabeça com uma katana e não fizer nenhum esforço para deter a lâmina, ela dividirá o crânio e provavelmente ficará presa na clavícula ou na pelve, e aí o cara vai ficar lá no meio do campo de batalha medieval com um pé do rosto de seu falecido oponente, tentando soltar a lâmina, enquanto o melhor amigo do adversário se aproxima correndo com um certo brilho de vingança no olhar.
Me fale do terceiro grupo: os essênios. – Eles viviam em comunidade e acreditavam que a limpeza física e espiritual estavam intimamente ligadas. Eles tomavam banho constantemente, deitavam-se nus ao sol, purgavam-se com enemas e iam a grandes extremos para ter certeza de que sua comida era pura e sem contaminação. Eles tinham até mesmo sua própria versão dos evangelhos em que Jesus curava pessoas possuídas não com milagres, mas retirando parasitas, como tênias, de seus corpos. Esses parasitas são considerados sinônimos de demônios.
A Torá é como um vírus. Ela usa o cérebro humano como hospedeiro. O hospedeiro – o humano – faz cópias dela. E mais humanos vão à sinagoga e a leem.
– Escuta – continua ele –, desculpe por ficar lembrando você disso, mas se ainda tivéssemos leis, a Máfia seria uma organização criminosa. – Mas não temos leis – ela alega. – Portanto, ela é apenas mais uma franquia.
Até um homem completar 25 anos de idade, ele ainda acha, com muita frequência, que, sob as circunstâncias corretas, poderia ser o cara mais filho da puta do mundo. Se eu me mudasse para um mosteiro de artes marciais na China e estudasse com muito afinco por dez anos. Se minha família fosse toda assassinada por traficantes colombianos e eu jurasse me vingar. Se eu tivesse uma doença fatal, tivesse um ano de vida, dedicasse esse ano a erradicar o crime das ruas. Se eu simplesmente largasse tudo e dedicasse a vida a ser mau.
– O importante, Hiro, é que você precisa compreender o jeito como a Máfia faz as coisas. E o jeito como a Máfia faz as coisas é que nós perseguimos metas maiores sob o disfarce de relacionamentos pessoais.
Hiro e Y. T. já comeram muita junk food juntos em diferentes pontos em toda LA – donuts, burritos, pizza, sushi, é só dizer – e tudo sobre o que Y. T. sempre fala é sua mãe e o emprego horrível que ela tem com os Federais. A regimentação. Os testes do detector de mentiras. O fato de que, por mais trabalho que ela faça, ela realmente não faz ideia de em que o governo está trabalhando. Isso também sempre foi um mistério para Hiro, mas é como o governo é. Ele foi inventado para fazer coisas que as empresas privadas não querem executar, o que significa que provavelmente não há motivo para serem realizadas.
{Neal Stephenson, Snow Crash. Trad. Fábio Fernandes. Editora Aleph, 2015}