Há um momento em Arábia que bate uma melancolia: é que um acontecimento lembra o protagonista que não era pra ele ter um projeto de vida. A sombra do trágico (do destino que assombra como a falta de destinação possível) o encobre. E então ele retorna ao ciclo de tarefas e precarizações. Mas como a melancolia o acompanha e cada vez mais um grande cansaço, sua escrita conduz ao final como um julgamento vespertino. Nesse momento acontece algo mágico no filme: o som direto some. A ambientação fica muda. Depois de um breve desconcerto, é preciso recompor-se e prestar atenção ao que se fala e ao que as imagens mostram, mas não como uma continuidade num filme, como algo em uma narrativa realista. Antes, as falas, quando expressam a condição da exaustão, devem ser julgadas como a exaustão real, que não vai embora, a tragédia real da exaustão, o julgamento que vêm inevitavelmente e cedo demais.
{Arábia, filme longa metragem de 1h40, dir. Affonso Uchoa e João Dumans, mixagem de som por Pedro Durães, 2017}
Legal! Assistirei o filme quando for o momento certo e irei refletir sobre suas pontuações…nao me parece ser o tipo de filme que de forma genuína, me interessaria. Entretanto, acho instigante a possibilidade de se pensar a “tragédia real da exaustão”…talvez não simplesmente pela carga melancólica que incita e se faz infiltrar na alma, mas sobretudo como exercício de observação de instancias existências…
PS:Como poderia entrar em contato por email?