Quando alguém fala em AOTY ou álbuns do ano, está somente dizendo: eu recomendo fortemente, durante esse período arbitrário mas ritualisticamente instituído (o ano), esses álbuns. Mas ao fazer isso, tem a ilusão de que o a ser recomendado é aquilo que realmente há de melhor, esquecendo que álbuns existem dentro de contextos, cuja inserção do estranho, do muito ruim e do medíocre são essenciais, e que estes também formam recomendações válidas, além de fornecerem o relevo necessário ao conjunto, que tornará asserções possíveis. Além disso, esquece que melhor quer dizer, além de “melhor que estes, que não menciono nem incluo, por estes motivos que não revelo”, “o que eu escutei mais”, “o que compensou certas fraquezas internas com” etc. De modo que as listas costumam ser muito decepcionantes – o melhor é quase sempre ideológico e não construído. Há um amontoado de álbuns pré-selecionados, e cada grupo é um mundo, frequentemente extravagante, e que não forma um pensamento ao qual é realmente possível responder. Então, é necessário selecionar de novo, de modo fragmentário, na esperança de que em uma lista de 100 álbuns, exista, perdido no conjunto, aquele único que você gostaria tanto de escutar, mas que as descrições não dão conta de indicar de prontidão. Mas os números das posições não dão boas indicações da probabilidade de achar algo decente (não é que o consenso seja burro sempre, mas só às vezes). Ademais, muita coisa tem cheiro de bem embalado.
Ou seja, durante as festas, não é hora de pensar, mas de achar o melhor produto. Mas tudo bem, é final de ano: hora de pesca. Mas melhor dizendo: as listas de melhores são na verdade o grande banco da repescagem.