elaborei duas frases para irritar as minhas colegas da dança, quando estudava composição musical na unicamp (2001-6):
sensações matam o pensar.
quem se exercita muito, emburrece.
meu objetivo era perguntar, enquanto elas olhavam de volta para mim com desprezo, “quantos livros você leu nesse último mês?”. com uma média superior a um livro por semana, minha vitória era garantida (mesmo que elas descontassem nas práticas que fazíamos juntos, mandando eu subir e descer a porcaria de uma rampa do tamanho de um quarteirão, seguidas vezes). é óbvio que eu tinha em mente um sentido específico de “inteligência” e “pensar”, mas não importa – a dificuldade de leituras aprofundadas era geralmente suficiente para estabelecer o ponto. e ainda havia o fato de que, no período em que eu fazia aulas de balé (moderno, três vezes por semana, com a holly cavrell), e tinha de entender do mundo das “sensações” para fazer trilhas para dança, minha capacidade (isto é, vontade, concentração, disposição) de leitura, diminuíra consideravelmente.
de fato, sensações em demasia dificultam ou impedem o pensar. mas ter pensamentos não é tudo nessa vida; na falta de coisas que te forcem a pensar, eles simplesmente não ocorrem – e nada melhor pra sensibilizar o corpo e a mente a si mesmos que exercícios físicos.
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acho que sempre associei esses momentos mais sentimentais a aproximações com o caos impensável. pequenas incursões que, no estilingue da existência, pa reenchem de sentido para depois atira-la ao nada da angústia (às vezes, perde-se o alvo e atinge-se o vazio produtor da autocriação).
postado em 3 de março de 2016, categoria comentários : angústia, dança, exercícios físicos, fora, nada, pensamento, sensação, unicamp, vazio
eu sou (apenas) um fragmento do todo
tenho toda a tranquilidade que preciso
eu mergulho no vazio, não no caos
a energia do mundo passa por mim
postado em 20 de abril de 2015, categoria prosa / poesia : caos, fragmento, mantras, mundo, todo, vazio
no dia 13 de dezembro será lançado meu álbum éter 2, pela seminal records, no seguinte endereço: www.seminalrecords.bandcamp.com/album/eter2. abaixo, um dos textos do encarte.
Comecemos pela possibilidade de colocar um objeto nu (4’33”, de John Cage). Depois, de usá-lo, dizendo: é preciso escutar. E então ampliar esse ato disciplinado de atenção (0’00”). Esfumaçar as fronteiras entremundos. Ou estabelecer e habitar fronteiras: Mieko Shiomi pedindo o som mais sutil. Muito tempo depois, o grupo Wandelweiser.
Brincar com a possibilidade de indiscerníveis. Dizer: a ocorrência no tempo diferencia as partes, as músicas. Ou ainda, o toca-CDs é um relógio de quatro minutos (70’00″/17, de Jarrod Fowler). Dizer: a duração e a autoridade diferenciam as partes, as músicas: o convite de Guilherme Darisbo para coletânea DADA do selo Plataforma Records.
Querer, como Cage, silenciar um pouco a presença humana (Silent Prayer), seus sons, suas imagens. No estilo o melhor da internet, usuários postam uma, cinco ou dez horas de nada e/ou de “absolutamente” nada. Zen for Film (Nam June Paik) ampliado, planificado. Se a conexão é estável, muito pouco ruído. ‘Se seu computador dormir, acordará sem pedir a senha. Desculpe-me não estar em qualidade HD’ (SpritePix). Alguns desses vídeos usam tela branca. Mas o transparente não deveria aparecer como preto, em um vídeo para internet? Erro conceitual? – Uso expressivo do branco/fala em Hurlements en Faveur de Sade, de Guy Debord.
Seguindo Raquel Stolf (Assonâncias de Silêncios), é possível empilhar silêncios? E se pensarmos em termos de mascaramento: não estariam os sons mascarando um silêncio subjacente? Um negativo de substância, vazios e nadas permeando. Ou então: soterrados. Tal qual a noção de espaço, quando lhe tiramos todos os objetos. Que inexistência e omnipresença sejam homoefetivas não garante que suas ideias correspondentes também sejam.
postado em 11 de dezembro de 2014, categoria obras, textos : 0'00", 10 horas de nada, 13 horas de nada, 4'33", álbum, artigo, assonâncias de silêncios, boundary music, espaço, éter 2, guy debord, henrique iwao, homoefetividade, hurlements en faveur de sade, jarrod fowler, john cage, lançamento, mieko shiomi, nam june paik, raquel stolf, seminal records, show, silêncio, silent prayer, substância, vazio, wandelweiser, zen for film
obra musical/conceitual/audiovisual irmã de §6.4311 e éter, composta também em outubro de 2014. existe em versão de áudio, com uma imagem acompanhante, que pode ser baixada aqui. também existe em versão de vídeo, que pode ser vista ou baixada aqui (muito embora seja necessária uma internet muito rápida para ver no link, é mais prudente salvar como).
infelizmente o tamanho máximo para vídeos no youtube é de 720 minutos, o que fez com que, para essa plataforma, a obra tivesse de ser particionada em duas.
postado em 11 de outubro de 2014, categoria obras : 13 horas de nada, audiovisual, conceitual, obra, silêncio, vazio