§6.4311 (2014-10)

uma proposição de guilherme darisbo (para uma coletânea dada da plataforma recs) me fez fazer uma música conceitual e pouco experiênciável. afinal, segundo Ray Brassier, a experiência é um mito (ler artigo genre is obsolete). a peça é uma proposição envolvendo um texto, incluso abaixo, um arquivo .pd (um gerador da própria peça, que precisa do software pure data para funcionar) e um arquivo .wav de curtíssima duração. pode ser baixada aqui.

Henrique Iwao – §6.4311 (Outubro de 2014)

Um arquivo wav de áudio com uma duração quase nula ou nula para produzir silêncio. Uma imagem png transparente muito pequena.

No Tractatus Logico-Philosophicus, Ludwig Wittgenstein escreve: “A morte não é um evento da vida. A morte não se vive. Se por eternidade não se entende a duração temporal infinita, mas a atemporalidade, então vive eternamente quem vive no presente. Nossa vida é sem fim, como nosso campo visual é sem limite.” (Edusp, 2001, Trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos, p.277)

1. Seria esse parágrafo uma confrontação com a doutrina do eterno retorno, exposta no Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche?

2. Em um sentido, o instante não pode ser parte desse presente, porque é justamente o que, apesar de infinitesimal, já passou. (contra Wittgenstein).

3. Eu poderia dar a entender que tender a zero não ajuda em nada. Mas tender a zero nesse caso é tentar eliminar a possibilidade da experiência (fenômeno), para dar lugar ao conceito.

4. A experiência do conceito pode ser então vivida, assim como a de morte (do conceito de morte).

5. Isso de modo algum resolve a crítica esboçada por Brassier (ou melhor – chutada em “Genre is obsolete”) (a alma/o eu não é uma mônada, mas também um composto, ou então, um resíduo).

6. A peça, entretanto, existe. Se há uma tentativa de autoanulação enquanto fenômeno é porque a peça é também essa tentativa (ela nem exemplifica bem o aforismo nem o comenta bem, mas caminha junto a ele).

 


postado em 9 de outubro de 2014, categoria excertos, obras : , , , , , , , , , , , ,
  1. isl4in disse às 10:59 em 10 de outubro de 2014:

    amei

  2. henrique iwao » Blog Archive » 13 horas de nada disse às 11:29 em 11 de outubro de 2014:

    […] musical/conceitual/audiovisual irmã de §6.4311 e éter, composta também em outubro de 2014. existe em versão de áudio, com uma imagem […]

  3. magno caliman disse às 18:54 em 17 de outubro de 2014:

    baixei o patch e gerei a música aqui. abri o arquivo num editor de audio, e não parece ter 1ms. 1ms, com taxa de amostragem de 44100, ainda teria que ter aí umas 44 amostras de alguma coisa. mas o arquivo que o patch gerou era completamente vazio. era mais que silêncio. silêncio poderiam ser amostras alinhadas com o 0 do eixo Y (algo está ali, mas sem amplitude). nem é isso. o arquivo não tem amostra nenhuma. o que é interessante o soundcloud/vlc interpretarem a duração como 0:00. no audacity o zoom out do arquivo gerado é eterno. pelo audacity, a duração é infinita…