aqui vai ser maior

enquanto você fica em casa
em quarentena
um político da comitiva passeia
um político da comitiva presidencial viaja
e encontra um outro político
(ou um militar)
que passeia e viaja
e passa no mercado
vai à academia vai à padaria vai ao culto
onde jesus do apocalipse agradece
brasil
#AquiVaiSerMaior


postado em 19 de março de 2020, categoria prosa / poesia : , , , , , ,

o apito de cachorro e a falsa sirene

a política do apito de cachorro envolveria mensagens cifradas em meio a discursos políticos, direcionadas a um subgrupo de apoiadores, mas que, em termos literais, não daria suficiente elementos ao público em geral para que dali se conclua da mensagem geral a mensagem específica. o dog-whistle produz um som ultra-sônico, isto é, um som sem som, aos humanos – as vibrações estão acima daquelas captáveis por nós. poderíamos, entretanto, grava-las e tocar seu conteúdo a uma velocidade de reprodução menor, fazendo com que o seu âmbito frequencial decrescesse, e escutássemos o chamado. se o processo for lento, entretanto, seremos surpreendidos pelos cães raivosos ou melindrosos, que obedientemente ou desdenhosamente, atendem ao sinal. mas mesmo preparados, ainda teremos de enfrentar o argumento: “trata-se de coincidência. não há nada (literal) em x que permita atribuir y (implícito). nós temos de nos ater à linguagem”. como se a linguagem só tivesse superfície.

na combinação com a mangueira de incêndio da falsidade, entretanto, uma nova forma é obtida. não se trata mais de encontrar as equivalências que traduzem um discurso no outro, acessando assim as segundas intenções ditas, mas não explicitadas – aquelas enterradas abaixo da primeira camada de significados. como não há comprometimento com consistência nessa mutação, o apito pode muito bem ser substituído por um berrante, cujo som é não só audível, mas escancarado, ou bem melhor, porque se procuram touros descontrolados e não vacas ruminantes, por uma sirene. que essa sirene seja de plástico vagabundo e pintada de verde e amarelo toscamente é proposital: quem levaria a sério o chamado de uma sirene dessas, tão ridículo? de modo que a mensagem é agora explícita, mas contextualizada como uma brincadeira, um desabafo, um xingamento ou outro modo que deveria desqualifica-la de prontidão. na operação, é importante dizer x ao mesmo tempo em que se desautoriza outros a tomarem x como significativo. alguns saberão que é preciso relevar o contexto e tomar x como mote de ação; para o resto, basta dizer que há um equívoco. que é preciso atentar não ao significado literal, mas o que aquilo expressa naquele contexto: descontentamento, jocosidade, descontrole emocional, desejo pessoal. que o emissor desminta e logo em seguida inverta os sinais do chamado só contribuem para o efeito. há valores que se prestam à ação; as inversões não são simétricas. girar a manivela ao contrário pode de fato produzir o mesmo som. mas se a intenção é gerar silêncio, por que não ficar quieto? é o caso quando as inversões são sensos comuns. a idiotia de um código que apenas inutiliza o não deve ser levada a sério. a falsa sirene não é apenas a versão incompetente do apito de cachorro.


postado em 23 de outubro de 2018, categoria comentários : , , , , , , ,

a iconoclastia / lei de fomento

entre março de 2009 e março de 2010 participei de um grupo em são paulo, que procurava articular a criação de uma lei de fomento à música, naquela mesma cidade, moldada na lei de fomento à dança, da mesma. eu e vanderlei lucentini alimentamos um blogue na época.

existe um maravilhoso conto de karel čapek, chamado a iconoclastia, em que o amante da arte procópio pede ao pintor e padre influente nicéforo que intervenha ao grande sínodo e assim ao imperador para que a arte seja salva dos iconoclastas, que gritam “morte aos idólatras” e pedem a retirada da arte dos espaços públicos. nicéforo, entretanto, parece mais interessado em que mosaicos de uma infame escola de creta, essa arte moderna e deturpada, sejam por fim destruídos.


postado em 19 de setembro de 2017, categoria comentários, resenhas : , , , , ,

pós-verdade

esse conceito, que soa como pseudo-pós-mordenismo – fake pos-mo – só pode querer indicar que hoje, quando temos mais acesso a fontes e meios de verificação, somos pós-enganados; então, antigamente, éramos verdadeiramente enganados.

enquanto acreditávamos que fatos e decisões coincidiam, olhávamos para o fato errado (a verdade), ao invés de olhar para o fato que nos seria supostamente interessante olhar (a enganação). de modo que, ao pesquisar por resumos rápidos sobre técnicas de manipulação e retórica, entendemos melhor como funciona a opinião pública. a dificuldade é que, dito isso, nada muda.

 


postado em 19 de fevereiro de 2017, categoria comentários : , , , , , , ,

voto

definir democracia como o sistema em que o cidadão vota é um pouco como dizer que gostamos de gatos pois a maioria nunca matou sequer um. de modo que não é preciso valorizar tanto o voto a ponto de ser contra votar e então não votar. você pode, sem perigo nenhum de parecer hipócrita, criticar todo o sistema (ainda mais tal como é feito: privilegiar os grandes em detrimento dos pequenos) e, no dia da eleição, escolher alguém que possivelmente não é um imbecil ignorante corrupto e apertar uns botões, rabiscar uma assinatura etc.

se a representatividade está em questão, não é porque ao votar depositaríamos nossa confiança em alguém, mas sim porque esse alguém, quando eleito, não cumpre em representar-nos. não há contrato de sangue. não há sequer contrato. há um jogo em que pontuações maiores levam a cargos e privilégios. e a porcentagem de ganhadores que pretende manter cargos e privilégios cada vez mais pode ser maior ou menor.

“quando se está na arena, não há fora do jogo”. e no entanto, que seja dito, contra a barbárie: a eleição é algo pontual.


postado em 27 de setembro de 2016, categoria comentários : , , , , ,

política

se a filosofia é a arte conceitual cujo material é o pensamento (rosi braidotti falando sobre françois laruelle), então a política é a arte conceitual cujo material é o poder. nisso, a essência do poder continua sendo a estética, de toda forma (o que não tem, ao que parece, relação direta nenhuma nem com o belo nem com o bom).


postado em 7 de junho de 2016, categoria aforismos : , , , , , , , ,

fatalismo brasileiro

1. é foda, ninguém respeita as leis, deveriam criar uma lei que nos obrigasse respeitarmos as leis.

2. a situação tá ruim, a política, corrupção, mas também, eta povo mal educado, gente que rouba, gente vândalos.

3. congestionamento porra ninguém ajuda, essa merda, eu fecho o cruzamento mesmo, caralho.

4. criticam, metem o pau, que falta de cordialidade, só porque fiz merda esqueci chutei o balde generalizei mesmo.


postado em 19 de dezembro de 2015, categoria crônicas : , , , , , , ,

no melhor dos mundos

seguindo leibniz, cuja visão de mundo comentei nessa postagem, bruno latour, em irreduções, escreve:

3.6.3 Somente na política as pessoas estão dispostas a falar sobre “testes de força”. Os políticos são os bodes expiatórios, os cordeiros sacrificiais. Nós os ridicularizamos, desprezamos e odiamos. Nós competimos denunciando sua venalidade e incompetência, sua visão míope, seus esquemas e concessões, os seus fracassos, o seu pragmatismo ou falta de realismo, sua demagogia. Apenas em política os testes de forças são pensados como definidores da forma das coisas (1.1.4). Apenas os políticos são pensados como sendo desonestos, são tomados como a tatear no escuro.

  • É preciso ter coragem para admitir que nunca vamos fazer melhor do que um político (1.2.1). Nós contrastamos sua incompetência com a perícia dos especialistas, o rigor do erudito, a clarividência do vidente, a visão do gênio, o desinteresse do profissional, a habilidade do artesão, o bom gosto do artista, o evidente senso comum do homem comum nas ruas, o faro do índio, a destreza do vaqueiro que dispara mais rapidamente do que sua sombra, a perspectiva e o equilíbrio superior do intelectual. No entanto, ninguém faz melhor do que o político. Esses outros simplesmente têm um lugar para se esconder quando cometem seus erros. Eles podem voltar e tentar novamente. Somente o político é limitado a um único tiro, e deve atira-lo em público. Eu desafio qualquer um a fazer melhor do que isso, a pensar com mais precisão ou ver mais longe do que o congressista mais míope (2.1.0, 4.2.0).

3.6.3.1 O que nós desprezamos como “mediocridade” política é simplesmente a coleção de concessões que nós forçamos os políticos a fazerem em nosso nome.

  • Se nós desprezamos a política devemos desprezar a nós mesmos. Peguy estava errado. Ele deveria ter dito: “Tudo começa com política e, infelizmente, degenera em misticismo.

{o original francês é de 1984, e intitulado Les Microbes: guerre et paix, suivi de Irréductions. como não leio francês, traduzi do inglês, the pasteurization of france, de 1988, por sheridan e law}


postado em 11 de julho de 2015, categoria citações : , , , , , ,

abril de 2015

1. se o homem estivesse individualmente destinado a grandes feitos, não precisaria comer 3 vezes por dia.

2. eu queria uma música para escutar agora. mas ela não existe.

3. isso é tony hawk para thelonious monk. (iwao-bot)

4. voodoo economics.

5. qual o significado de “uns” em “uns dois”, tal como em “leva uns dois”? (para p.)

6. a mentira tem pernas curtas, mas a verdade nem pernas tem.

7. zettai unmei mokushiroku. (garota revolucionária utena)

8. se remédio fosse bom, todo mundo ficaria doente pra tomar.

 


postado em 2 de maio de 2015, categoria aforismos : , , , , , , , , , , , ,

aécio presidenciável

1. para quem possa ter visto de relance colegas durante um comercial da campanha de aécio neves, gostaria de informar que não houve autorização deles para que tal seja incluído. o fato de trabalharmos numa iniciativa dentro do plug minas não significa que as imagens possam ser assim vinculadas sem aviso prévio. [o vídeo foi retirado do ar – mas como a internet é prodigiosa em multiplicações, deve ser possível ainda ve-lo, ao procurar]

2. minhas “notícias recentes” do facebook mais parecem um mural de anúncios contra aécio para pessoas que claramente nunca votariam em aécio. mesmo desabilitando o “principais histórias”.

3. a propaganda que mostra a família de aécio é uma das piores peças estético-éticas que eu, pessoalmente, já vi. felizmente não vi mais coisas (e nem propagandas da dilma, pois as pessoas não me mandam isso – não se manda propaganda com efeito de anti-propaganda do candidato em que você vai votar – e vide ítem 2). de qualquer forma, não estou aqui dando certeza de que existe algo tão grosseiro por parte da dilma.

4. existe uma confusão terrível nas atribuições de um presidente. porque o presidente poderia ser apenas um porta voz, e aí ficar-se-ia mais tranquilo para ponderar sobre quesitos tais como aparência, desenvoltura, elegância. de qualquer forma, nada mais deselegante que ter aparência de playboy, ao meu ver.

5. os meus conhecidos sabem que eu não voto no segundo turno (e se bem me lembro, nunca votei).


postado em 16 de outubro de 2014, categoria comentários : , , , , , , ,