politicamente correto #1

comparemos duas frases.

1. ah, os brasileiros são amáveis.

2. não passa de um paulista (os paulistas são frios e mesquinhos!).

imaginemos um paulista amável (precisamos pensar o que é ser um paulista, nessa frase, e também em outros contextos, e também como alguém pode ser e ainda ser frio). agora imaginem um brasileiro (paulista?) que está ofendido por ter sido chamado de amável. ele tem orgulho de sua frieza. seriam as reações iguais?

(é possível usar tanto brasileiro como paulista de um modo pejorativo; eu mesmo já presenciei usos desse tipo. entretanto, também existe a possibilidade do modo laudativo; para mim, a mudança de modo quase nunca está relacionada com o desgosto na recepção)

***

o fato de não existir racismo reverso, como exemplificado nessa ótima piada, não coloca em questão o fato de existirem diversos racismos e diferentes pesos e usos para a palavra racismo. e da mesma forma que ed motta poderia pensar sobre não apenas os preconceitos em si, mas como eles moldam a utilização da linguagem como uma série de generalizações apressadas e excludentes (especialmente se houver um pedreiro na europa, fã de chapter 9), podemos pensar: na moeda da moral, escolhemos só um lado?

***

a) o politicamente correto não é caracterizado por atentar ao uso genérico da linguagem, mas pela tentativa de, no uso genérico, ser neutro.

b) não seria melhor ser mais específico? (mas com isso perdem-se as capacidades semi-functivas da linguagem – quando de um caso projetam-se mais casos porvir, com graus diferentes de possibilidade de acerto e cuidado de definição).

c) e quando se cai no que a linguagem revela, estamos aí num domínio próprio da representação. o quanto acreditamos nesse domínio, reflete o quanto levamos a sério o modo representativo (isso não impede de sermos mais ponderados e enxergar os textos como índices apenas) (não precisamos confluir ser e linguagem).


postado em 15 de abril de 2015, categoria comentários : , , , , , , , , , , , ,