uma desavisada conversa com a amiga em meio a uma improvisação musical na kasa invisível, uma quinta de improviso. é logo repreendida por outra ouvinte. desaforada, responde: “mas isso não é tudo uma experimentação? minha conversa também pode fazer parte”. acontece que ela mesma, frente a um público silencioso e atento, não consegue realmente acreditar no que disse. queremos ser indulgentes sem que isso seja evidenciado socialmente. a desavisada sai da sala.
após a apresentação, no botequim vegano, gabi comenta o ocorrido e carol cita o episódio do irmão do jorel em que um legume fala: “tá achando que o reino do caos é bagunça?!”. é que, quando os músicos devem criar a música na hora, em meio à liberdade da experimentação, precisam estar concentrados, atentos uns aos outros. fazem música de câmara, no fundo, e interferências exteriores dificultam esse equilíbrio instável. em contraposição, em um show de rock, por exemplo, em que todos sabem o que devem fazer, o público pode cantar, beber e falar, que a música sairá incólume. de modo que
enquanto o império da ordem permite o caos, o reino do caos exige a ordem.
escreve seth kim-cohen em in the blink of an ear: toward a non-cochlear sonic art, pag. 203
One feels sorry for the musicians. It seems an unfair assignment to play with a man like Bob Dylan. One is likely to be victimized; Dylan may opt for a version of the song that fails to display your talents. Perfectly good players are immortalized playing indecisively and sloppily on a recording that sells in the millions and is played on the radio five, six, or seven times that often in the forty years since its release.
Dá para sentir pena dos músicos. Parece injusto tocar com um homem como Bob Dylan. Eles podem ser vitimados; Dylan pode optar por uma versão da canção que falha em mostrar seus talentos. Músicos perfeitamente bons podem ser imortalizados tocando de modo incerto e desleixado num álbum que vende aos milhões e é tocado no rádio cinco, seis ou sete vezes mais nos 40 anos desde de seu lançamento.
em 2010 eu estava preocupado especificamente em explorar a indecisão, o incerto e o pânico na improvisação livre. escrevi nessa época essas considerações e fiz o vídeo abaixo.
show após a exibição das animações que compõe mar de brita, de ismael vaz de araujo. henrique iwao: brinquedos, mini tábua, objetos cotidianos, mesa de som. marco scarassatti: instrumentos manufaturados. duas sessões de improvisação livre, a primeira com 25 minutos aproximadamente, a segunda com menos de 10. instituto undió, belo horizonte. 08 de agosto de 2014. fotos de beatriz goulart. gravação de som de henrique iwao.
improvisação livre durante uma tarde na ocupação comedoria comum, durante o 46º festival de inverno da ufmg. henrique iwao: brinquedos, mini tábua, objetos cotidianos, mesa de som. blu simon wasem: violão, sintetizador, bateria eletrônica, canto. aproximadamente 100 minutos. estaurante setorial ii da universidade, em belo horizonte, 24 de julho de 2014. foto pseudo-fake e cartaz de blu simon wasem. gravação de som de henrique iwao.