Improvisos com luzes, novembro de 2010

2010. improviso 17 nov (1)

Resolvi tentar improvisar usando a luz como elemento musical, além dos meus habituais objetos (como pentes, grampeador, espátulas, dados, bichos de pelúcia). Esse vídeo respondeu à necessidade de filmar uma improvisação livre solo para a aula de pós-graduação da USP “Os Territórios da Improvisação: Pensamento e Ação Musical em Tempo Real”, ministrada pelo prof. Dr. Rogério Costa.

Eu já tinha escrito, em um outro trabalho acadêmico: se é fato de que “música” não é por si uma arte meramente sonora / auditiva, mas que se agencia em torno do som e da tradição musical, também é possível pensar que, a partir do ouvido e da escuta e para o ouvido e a escuta, agregamos outros sentidos, aparatos, dispositivos. Dessa forma, tentei “tocar a luz”, não como um iluminador ou como um operador de luz, mas como o músico que sou! (frase brega!).

Nesses improvisos, também incluo como fator importante a apreensão de características de intencionalidade do improvisador (se está deciso, indeciso, pensando, em pânico, se está forjando estar indeciso, etc). Por isso tento deixar bastante aparente expressões corporais e faciais que possam dar informações ao espectador nesse sentido, traçar contrapontos, preencher as pausas sonoras com titubeios.

Momentos em que se olha para frente, há a mini-tábua, o microfone de contato, um pente azul jogado, ao lado o estrobo, a caixa-clara, do outro a luminária, o rádio e uma filmadora na diagonal esquerda, o pim e a outra luminária na diagonal à direita, no chão a pedaleira de efeitos, os pedais de volume, em baixo da mesa a caixa de objetos, acima a mesa de som, os cabos passando de um lado a outro, são 9 cabos, entre a frente e a traseira direita a caixa de papelão com bichos de pelúcia, a coruja, o pisco, o guaxinim, e alguns nãos, tudo ao mesmo tempo, a capacidade de analisar começa a falhar, pego a espátula mas não vou usá-la, já fiz isso, eu sei o que aconteceria, e se… e de-repente um leve pânico: eu não sei onde estou – e a paralisia, mas estou com a espátula na mão, pego um imã e raspo (eu sei raspar), é isso, eu estou aqui, vou subir esse pedal, mas não vou mexer nesse cabo, vou girar isso para que o som ressoe na caixa (giro o botão errado e nada acontece) – estou agaixado, é melhor olhar então com cara de que está tudo errado, ver se a câmera capta isso, e mexer em todos os botões, um por um, pro outro lado, até memorizar e remexer e deixar apenas o correto, a outra mão ainda está raspando o imã, e o pé direito quer desligar a luz, mas está de tênis, é difícil assim, eu deveria estar descalço.


postado em 25 de novembro de 2010, categoria música, performances
  1. Mel-Momentum disse às 22:18 em 8 de dezembro de 2010:

    Iwao, acho que suas explorações sonoras-visuais estão caminhando por vias curiosas e bem interessantes! Gostei do video!! 🙂

  2. henrique iwao » Blog Archive » bob dylan disse às 10:03 em 1 de dezembro de 2015:

    […] em explorar a indecisão, o incerto e o pânico na improvisação livre. escrevi nessa época essas considerações e fiz o vídeo […]