do papel do sentimento na interpretação musical

as melhores músicas que toquei , toquei como um autômato.

[dos rascunhos, fevereiro de 2014]


postado em 15 de junho de 2024, categoria comentários, música : , ,

monadologia

se o ensaios sobre de teodicéia tem 417 pontos, excursões, respostas à objeções e anexos, o monadologia tem apenas 90 pontos e é um fantástico resumo, direto ao ponto. exemplo de como a maturidade pode permitir simplificações de pensamento (as obras do final da vida de iannis xenakis vêm a mente). a única questão que não fica clara para mim é §55, da demonstração da necessidade de deus à priori.

seria ainda necessário produzir um texto proporcionalmente equivalente, ainda mais curto em 18 pontos, sem introdução, e outro ainda, lacônico, com 4 pontos, com um título tal como os quatro princípios da providência divina e imensa. se o ensaio sobre a graça humana tem 18 parágrafos, leibniz não nos forneceu a versão mínima.

como aforista, me arrisco aqui apenas a fornecer o último trabalho, e se um livro cabe em parágrafos que cabem em ainda menos parágrafos, estes devem caber em frases, que por sua vês podem ser resumidas em conceitos de uma ou duas palavras.

1. deus.
2. mônadas (harmonização).
3. razão suficiente.
4. não contradição.

como deus decorreria de 3, e disso segue a harmonização, o livro pode ser ainda resumido em “a razão suficiente se encontrou com a não contradição”. 

[dos rascunhos, provavelmente 2015]


postado em 24 de maio de 2024, categoria comentários : , ,

a coleção particular

lendo o discurso preliminar sobre o acordo da fé com a razão de leibniz (em ensaios de teodiceia), ou então a origem do drama barroco alemão de walter benjamin, vemos desfilar diversas referências a autores e obras diversas, obscuras e datadas. de modo que muito dificilmente vamos consulta-las ou checar sua proveniência. no caso de benjamin, inclusive, o próprio autor alerta para essa peculiaridade: afora calderón, que está lá como contraponto (e é espanhol), quem conhecerá os objetos da pesquisa, aqui transformada em texto?

parece que, acertadamente, georges perec viu nisso uma grande potência. essa existência lateral, imaginada, a todo momento deslizando para a ficção, construindo a prática de ler sem conhecer efetivamente (porque apreendemos as posições, conceitos e conclusões, mas de onde partem é nebuloso). e nisso teve a astúcia de deslocar o tema para a área na qual a questão da autenticidade era dado maior valor: a pintura. (e é interessante imaginar como às vezes parece haver mais preocupação com a pintura do que com a pesquisa social, nesse sentido – penso nos inúmeros estudos forjados contra a renda básica universal, por exemplo, como os que aparecem no livrinho divertido de rutger breger, uma utopia para realistas).

autores como simon reynolds e david toop causam por vezes grande angústia na leitura porque, referenciando uma quantidade enorme de canções e acontecimentos musicais, evocam a necessidade de conhecer os objetos abordados. ao invés de borrões e passagens, obstáculos e opacidade. um outro exemplo desse tipo de escrita que bombardeia referências, em música, é dado por glenn watkins no seu pirâmides no louvre – um livro sobre o pós-modernismo na música, que de tão desconhecido entre as pessoas da minha área, me parecia apócrifo. até hoje me pergunto se a citação de stravisnky na minha dissertação, isto é “tudo o que me interessa, tudo o que eu amo, eu desejo fazê-lo meu”, que de lá veio, não é pura ficção. de todo modo, seria interessante verificar quais os modelos existentes que perec usou para ativar sua imaginação, como stravinsky, que como finnissy e peter wustmann, para elaborar seus corais, inspirou-se em gesualdo, compositor do qual watkins é de fato especialista.


postado em 22 de setembro de 2017, categoria livros : , , , , , , , , , , , , , , , ,

sr. ninguém

o que o filme mostra mas não assume é: uma vida projetada com base em relacionamentos se desdobra como uma infantilização da imaginação, em realizações insatisfatórias: mortes de todo o tipo, uma deprimida que ama um fantasma, um homem bem sucedido que vai do blasé ao ausente e finalmente ao suicida, um reencontro em que o apego ao porvir é mais forte que o encontro presente.

nesse sentido, ao contrário da ambiguidade com a qual o filme trata da aparição final de ana como o mundo mais perfeito (na figura do círculo contra a série de fibonacci), tal como sextus, nos parágrafos finais da teodiceia de leibniz, o caminho do meio, ou da recusa das decisões, possivelmente lhe trará uma existência medíocre, mas humana, de alguém.

{mr. nobody, 2009. dir. jacob van dormael, com jared leto}


postado em 9 de fevereiro de 2017, categoria resenhas : , , , , , ,

interstício

1. no conto “a cor que caiu do espaço”, de h.p. lovecraft, há momentos em que o alienígena parece se manifestar como qualidade e não como substância. em um texto sobre o conto, kate marshall reforça essas perplexidades: a percepção dessa adição (do estranho), quando entre a vigília e o sono, mostra algo que não pode ser nem verdadeiro nem falso (pois não-verificável).

2. imaginemos um outro ser espacial, que ocupa os entre-espaços de um objeto, mas de forma miraculosa, no próprio objeto, de forma a se movimentar sincronizando e dessincronizando seus estados de interstício com outras formações corporais. não seria possível falar de hospedeiros. mas haveria uma certa rigidez repentina, um sentimento de estafa, dispnéia, uma tensão a mais.

3. deleuze aponta que, para leibniz, o fundo do espírito é sombrio e exige um corpo. extrapolo aqui: quando as pequenas percepções estão no limiar de sua ampliação, ocorrem relances, percepções vagas, formas de passagem desajustadas. é aí que se alastra o horror da transformação (deformação).

4. meus poros formam labirintos. o oco do meu interior é meu exterior. na cyclonopedia, reza negarestani fala de nemat-spaces – espaços de nematóides.

5. expresso primeiro um mal estar, ânsia, enjôo. em seguida, isso toma corpo:começo a estranhar aqui e ali movimentações suspeitas em mim. finalmente, das minhas narinas caem vermes.

6. penso minha casa, em sua relação com as formigas, mais ou menos assim. as paredes são espaços ocos de comunicação com as forças insurgentes.


postado em 25 de outubro de 2016, categoria comentários : , , , , , , , , , , , , , , , ,

no melhor dos mundos

seguindo leibniz, cuja visão de mundo comentei nessa postagem, bruno latour, em irreduções, escreve:

3.6.3 Somente na política as pessoas estão dispostas a falar sobre “testes de força”. Os políticos são os bodes expiatórios, os cordeiros sacrificiais. Nós os ridicularizamos, desprezamos e odiamos. Nós competimos denunciando sua venalidade e incompetência, sua visão míope, seus esquemas e concessões, os seus fracassos, o seu pragmatismo ou falta de realismo, sua demagogia. Apenas em política os testes de forças são pensados como definidores da forma das coisas (1.1.4). Apenas os políticos são pensados como sendo desonestos, são tomados como a tatear no escuro.

  • É preciso ter coragem para admitir que nunca vamos fazer melhor do que um político (1.2.1). Nós contrastamos sua incompetência com a perícia dos especialistas, o rigor do erudito, a clarividência do vidente, a visão do gênio, o desinteresse do profissional, a habilidade do artesão, o bom gosto do artista, o evidente senso comum do homem comum nas ruas, o faro do índio, a destreza do vaqueiro que dispara mais rapidamente do que sua sombra, a perspectiva e o equilíbrio superior do intelectual. No entanto, ninguém faz melhor do que o político. Esses outros simplesmente têm um lugar para se esconder quando cometem seus erros. Eles podem voltar e tentar novamente. Somente o político é limitado a um único tiro, e deve atira-lo em público. Eu desafio qualquer um a fazer melhor do que isso, a pensar com mais precisão ou ver mais longe do que o congressista mais míope (2.1.0, 4.2.0).

3.6.3.1 O que nós desprezamos como “mediocridade” política é simplesmente a coleção de concessões que nós forçamos os políticos a fazerem em nosso nome.

  • Se nós desprezamos a política devemos desprezar a nós mesmos. Peguy estava errado. Ele deveria ter dito: “Tudo começa com política e, infelizmente, degenera em misticismo.

{o original francês é de 1984, e intitulado Les Microbes: guerre et paix, suivi de Irréductions. como não leio francês, traduzi do inglês, the pasteurization of france, de 1988, por sheridan e law}


postado em 11 de julho de 2015, categoria citações : , , , , , ,

rapadura mônada e cerveja noumena

2014-08-05 rapadura mônada 2

em inferno, da banda efeito gruen, insisti para que a cerveja usada chamasse noumena (talvez algum dia o edson fernando possa produzer alguma variedade com esse nome). no clipe, aproveitei pra divulgar a camiseta competition, de hugleikur dagsson, e o livro the thirst of anihilation, de nick land.

pós-escrito: gosto muito desse quadrinho, a alegorizar a teoria da harmonização da mente e corpo, de leibniz.


postado em 1 de janeiro de 2015, categoria comentários, fotografia, performances : , , , , , , , , , , , ,

leibniz

1. vivemos de fato no melhor de todos os mundos. os outros seriam ainda piores.

2. james franklin: leibiniz’s solution to the problem of evil (pdf)

3. trecho do filme “the matrix” em que a personagem “arquiteto” usa um argumento similar.


postado em 20 de julho de 2013, categoria aforismos : , , , , , ,

uma pequena lista de pensamentos pouco usuais (para auditar)

1. nossa, que rizominha legal.

2. por causa da micropolítica do poder.

3. ele vive numa mônada nua.

4. essa heteronomia é minha.

5. tá lá, no seu momento (de verdade).

6. ela está cheia de vontade (de potência).

7. retornei, é o eterno-retorno. 

8. na estação de taxi sublunar.


postado em 2 de agosto de 2012, categoria Uncategorized : , , , , , , , ,