intervenção no iii encun, em curitiba, 2005

encontrei os anais do terceiro encontro nacional de compositores universitários. procurei meu nome (ctrl+f) e encontrei essa intervenção. tinha acabado de decidir que era uma bobagem estudar estatística a sério. na mesma época estava fazendo iniciação científica, e estudava o livro formalized music, de iannis xenakis. considerava minhas condições de trabalho na unicamp bastante ruins, mesmo ganhando uma bolsa.

henrique iwao (discente – unicamp) — não farei uma pergunta propriamente, mas quero fazer um comentário sobre o que foi dito. falou-se muito sobre o aluno não estar preparado para entrar na universidade, e, eu gostaria de dizer que em muitos casos, a universidade não está preparada para receber os alunos. há um exemplo simples disso: eu não só curso composição na unicamp como curso matérias de estatística, só que todas elas são extra-curriculares. não existe nenhuma facilidade para que eu me forme interdisciplinarmente em estatística e música. isso não é encorajado. outra coisa, é que da mesma forma que existem alunos que não estão preparados segundo os parâmetros x, existem professores que não estão preparados segundo os parâmetros y. temos esse contraponto. e, se falta reflexão crítica nos alunos, não é só nos alunos que falta reflexão crítica.

os anais do iii encun podem ser baixados aqui (embora não considere a discussão especialmente interessante).

o artigo mais relevante da minha iniciação científica aqui (curiosamente, não tem nada de estatística nele, mas apenas teoria dos crivos [sieves], para a construção de escalas musicais).


postado em 7 de agosto de 2012, categoria Uncategorized : , , , , ,

Plágio? Uma conversa com Guilherme Rebecchi

Realizada através de sistema de conversa via internet, dia 11 de junho de 2012. Resposta adicional dada por Victor Valentim, dia 12 de junho de 2012. Entrevista por Henrique Iwao. Revisão por Sofia Betancor.

[A. Conversa com Guilherme Rebecchi]

Olá, Rebecchi. No VIII Encontro Nacional de Compositores Universitários, em Goiânia, na Universidade Federal de Goiânia (UFG), no dia 25 de outubro de 2010, foi apresentado uma obra supostamente sua. Gostaria de saber sobre ela, pois era basicamente uma gravação do primeiro movimento da Sonata op. 27 no. 2 “ao luar”, de Beethoven.

Ocorreu um fracasso.

Explique o que aconteceu. Foi uma situação bastante estranha.

Imagino. Até hoje não consegui falar com o rapaz que projetou. Aquilo foi uma gravação do Beethoven, não uma música que fiz.

Mas tinha um errinho nela, no meio; como um erro de codificação MP3, que fez com que todo mundo ficasse imaginando que ia acontecer algo. As pessoas ficaram se entreolhando. Foi bem bacana, ao meu ver, uma situação ímpar. Mas enfim, explique.

Curioso. Sim, vou te mandar a música. Se estiver no meu e-mail te mando já.

Certo, você tem as informações, nome, data, quando foi esse dia em que ocorreu o fracasso? Isso ajudaria também. Mas me explique o que gerou aquela versão que presenciamos.

Também não sei. Te mandei o e-mail com a música que era para ter sido tocada. Mas essa série de músicas tem isso: como a ideia é ser uma parceria de duas pessoas que não eu, fica uma sensação de estranhamento. Mas acho que foi válida a experiência.

[Informação do e-mail:
Título: Série Parcerias – O Rei dos campos de beterraba (Sonata tan-sá).
Autor: Guilherme Rebecchi Kawakami.
Ano da composição: 2010.
Categoria: envio de peças eletroacústicas.
Nota de concerto: Nesta série, parcerias aparentemente impossíveis são forjadas por um terceiro agente.]

Estou ouvindo. É um mashup?

Quase. Alego a diferença por querer tratar da questão autoral. É como se duas pessoas fizessem uma parceria, mas ela é improvável. Com isso, quem seria o autor? Com essa série eu quero tratar dos limites da autoria. No entanto, é um mashup, na prática.

A versão que recebi aqui também é estranha. Ela tem 43 segundos, é isso?

Isso. É apenas um recorte sem edição de uma música do Roberto Carlos.

Entendi, então não é um mashup, na prática; é um pseudomashup.

Digo, pra quem escuta.

Você induz o ouvinte, pelo título a pensar que aquilo, o piano do início, realizando harpejos, poderia ser Beethoven.

Isso. Tem a indução. Nessa música não tem nada de Beethoven que eu tenha colocado; só o título. Mas cada música é um caso diferente. Tem mais duas aqui: http://sussurro.musica.ufrj.br/pqrst/r/rebecchi/.

Você consideraria a peça, tal como apresentada no Encun, como uma peça tua?

Boa pergunta. Provavelmente sim, pois deve ter gerado um estranhamento e as pessoas devem ter pensado sobre a autoria, embora devam ter achado muito ruim.

De qualquer forma, mesmo na outra peça, o foco não é o acontecimento em si, mas os desdobramentos. Certo?

Sim, além da diversão. Só não é no caso, nessa série parcerias, da música Sino (Ockeghem & Björk).

E esse interesse pelos limites autorais? Você tem alguma opinião sobre a questão da autoria, afora a exploração dessas áreas de dúvida? Ou algum pensamento sobre essas áreas difusas, entre a apropriação, a criação e o plágio?

Sim. Tem a questão que uma criação contém criações anteriores, seja por citação, referência ou pelo conhecimento gerado pelas criações anteriores. Tem também a questão de ego e comercial. Não creio que uma produção intelectual possa ser exclusivamente de uma pessoa.

Mas isso não exclui a categoria plágio, mesmo admitindo que a apropriação move a cultura, que as práticas de apropriação sejam um dos motores do desenvolvimento da cultura.

Não exclui o plágio. É interessante.

De qualquer forma, um plágio categórico se faz passar pela música que plagia. Isso não ocorre em O Rei dos campos de beterraba (Sonata tan-sá). Mas já quanto ao Beethoven tocado no Encun…

O plágio é uma caracterização de algo além da citação e sem fazer referência ao autor.

Ocorreu um plágio no Encun. Mas não me preocupo tanto com o plágio, que eu vá plagiar mesmo algo, porque isso está distante da minha atuação.

E esse plágio que ocorreu no Encun. Você o atribui ao Victor? Quer dizer, qual o papel do Victor nessa história?

Não, porque não sei o que ocorreu. Não sei se enviei um arquivo errado. E também, ele deveria ter passado o som com a música ou tê-la escutado antes.

[Guilherme está ocupado(a). Talvez agora não seja uma boa hora.]

***1

[B. Troca de mensagens com Victor Valentim]

Olá Victor, sobre o episódio Rebecchi, no VIII ENCUn. Você pode me explicar como é que foi tocado o “arquivo errado”?

Olá Henrique. Acho que foi porque o Rebecchi não tinha feito a inscrição no site do Encun na época, então eu mandei um e-mail pedindo que ele me mandasse uma peça para que não ficasse de fora do concerto. Ele deve ter me mandado o arquivo errado por e-mail, por engano, e eu, como estava com muito material pra organizar para o concerto, acabei me esquecendo de avisá-lo. Daí a confusão, porque ele mandou o arquivo certo para a Laiana e ela não me encaminhou. Não fizemos isso de malgrado de nenhuma forma, gostamos muito do Rebecchi e devemos infinitas desculpas a ele.

Abração, Valentim.

***

1Fim da entrevista com Rebecchi: achei curiosa essa mensagem aparecer exatamente nesse ponto. Dei boas risadas.


postado em 5 de agosto de 2012, categoria Uncategorized : , , , , , , ,