uma preleção sobre legumes

existe uma maneira de olhar para as coisas como nós de relações. mas não de relações em que a coisa se define como objeto independente de relações. porque daí, já estamos no fim. e o que queremos é resgatar o começo. como se ainda não soubéssemos. e seguir as situações. verificar como nelas aparecem certas funções. a situação em que alguém come um alface. o alface é um hortaliça, e como legume tem como propriedade servir para consumo humano. só que isso é de novo, o final. um palhaço, ricardo puccetti, em la scarpetta, come alface do mesmo modo que alguém comeria pipoca, e do maço oferece folhas ao público. somos levados a crer que são vendidos em balcões de guloseimas em cinemas comerciais? infelizmente não. mas ao começarmos a andar com coreanos, facilmente aceitamos que a função da folha é embalar a carne, quando do churrasco, e facilitar seu consumo. então aí está. o hábito. pois há quem veja nos pepinos oportunidades sexuais, avaliando-os pelo tamanho, textura, grossura e densidade, como brinquedos da vida adulta. dessa tendência vêm a designação de legumes de duplo sentido. mas o fato é, o duplo existe mais na imaginação, como situação imaginada da intersecção de dois mundos, do que na prática, onde ou um objeto é legume, então comestível, ou dildo, então não. de modo que não seria errado dizer que o pepino, no segundo sentido, não é um legume, mas apenas um dildo, embora também um fruto. dificilmente em um estúdio de música, para dar outro exemplo, um alho poró será cortado em rodelas e refogado no azeite. pois todos sabemos que, em uma batalha fictícia são precisos ossos quebrados, e que o som de ossos quebrados vem do porro-bravo. sob esse ponto de escuta, então, trata-se de uma fonte sonora da mesma categoria da acelga e dos fios de espaguete cru. voltando aos frutos, temos o tomate. na tomatina, dificilmente veremos alguém o mastigar. o valor balístico do tomate não é tão apreciado no brasil, ao contrário da mamona. a mamona, mero vegetal não leguminoso não balístico não sonoplástico não erótico é tal que, entretanto, nenhum químico em sã consciência diria inútil. pois o óleo é seu fruto.


postado em 31 de janeiro de 2020, categoria prosa / poesia : , , , , , , , , , ,

heidegger e a virilidade

o pau brocha: argumento heideggeriano contra o dildo.

“o próprio martelar é que descobre o manuseio específico do martelo” (o ser e o tempo, $15) e “a ferramenta está quebrada, o material inadequado. de qualquer forma, um instrumento está aqui, à mão” (idem, $16).

 


postado em 27 de outubro de 2015, categoria comentários : , , , , , ,

3 histórias que ouvi

1. a história do rapaz que pediu um cd do bon jovi para a sua mãe e recebeu um do joão bom jovem. anos depois, a história de um outro rapaz, também belo horizontino, que foi dispensado por sua namorada crente, que começou a namorar um não tão jovem joão, o mesmo.

2. a história do colega que capinava seu jardim quando viu um pedaço de plástico no chão. imaginando ser o braço de um bebê de plástico, todo queimado, abandonado por uma criança raivosa, pensou em tirar uma foto afim de troçar aos colegas “se alguém quando criança perdeu um braço de um querido amigo nas imediações de ___, por favor manifeste-se, pois o encontrei”. mas depois, ao puxar o braço, não era um braço; não era nem de plástico. era um pênis de borracha dura, gigante, coberto de fungos, um baita consolo. teria sido largado por antigo morador da casa ou atirado da rua por cima do muro? a quanto tempo estaria ali, por quais aventuras teria passado? o colega, após lavar o pênis com cândida, desistiu e jogou-o fora. semanas depois ganhou uma viagem pro butão. teria sido um presságio? lembrou dos falos protetores nos frontispícios. quase se arrependeu de não ter mais o pênis.

3. a história contada por um velho numa fila na lotérica, que não entrava na preferencial porque tinha tempo e saúde, e tinha que gastar como todo mundo sua saúde, mas tinha ainda mais que gastar seu tempo, porque não trabalhava.  ele contou de outro velho que usava a fila preferencial. esse outro velho carregava inúmeras contas e um monte de dinheiro, porque aceitava dos vizinhos fazer isso se ganhasse 5 ou 10 reais de cada pelo serviço. ele era um pouco trouxa, porque carregava tudo isso na mão, dava muita bandeira.


postado em 6 de novembro de 2014, categoria crônicas : , , , , , , , , , ,