ao invés de adiar, viver o fim do mundo

“então, talvez o que a gente tenha de fazer é um paraquedas. não eliminar a queda, mas inventar e fabricar milhares de paraquedas coloridos, divertidos, inclusive prazerosos.” diz krenak num livrinho com 3 palestras curtas (ideias para adiar o fim do mundo). é uma mensagem de que é preciso viver bem o fim do mundo, passar por ele bem, ou melhor, perdurar e conviver com ele. porque um fim do mundo da civilização é necessário, mas há uma tragédia dentro dele que deve ser evitada, que é a tragédia da vida mal vivida, enquanto esse fim acontece.

apesar dos tons eminentemente cristãos, poderíamos dizer “apocalipse, não fim do mundo”. isto é, desvelamento, revelação. mas, como é viver dentro do desvelamento, da revelação? talvez seja como cair.


postado em 9 de maio de 2020, categoria comentários, livros : , ,

aqui vai ser maior

enquanto você fica em casa
em quarentena
um político da comitiva passeia
um político da comitiva presidencial viaja
e encontra um outro político
(ou um militar)
que passeia e viaja
e passa no mercado
vai à academia vai à padaria vai ao culto
onde jesus do apocalipse agradece
brasil
#AquiVaiSerMaior


postado em 19 de março de 2020, categoria prosa / poesia : , , , , , ,

já houve n fins de mundo

nunca dei muita bola para os escritos do viveiros de castro. gostei de um ou outro artigo do inconstância, se é que os li direito, mas odiei o tom ácido e publicitário (“farei um livro, o anti-narciso”) do metafísicas. quando li o há mundo por vir?, junto de danowski, tive outra impressão. talvez primeiro porque a parceria tenha atenuado um pouco o tom blasfêmio, “anatemista”. se bem que espantalhos e aquele clima de “erro sobre porque desprezo meu inimigo” continuam. então poderia ser outra coisa. talvez porque há indicações interessantes – um livro do tarde, um filme do ferrara, e ainda a incitação à leitura do livrão do kopenawa. mas isso ainda seria pouco.

acho que a contraposição entre as concepções excepcionalistas do humano e o entendimento perspectivista / panpsiquista fizeram especial sentido aqui. porque se os perspectivistas têm o humano como um tipo de relação, móvel, dependente de perspectiva, com a predação como fator fundante, isso torna-se mais interessante quando lembramos da análise do anti-édipo de deleuze/guattari. pois existem técnicas que as tribos da floresta etc empregam para impedir que sua civilização mude de escala. e isso se contrapõe muito bem, como forma de pensar, a um pensamento ambíguo em relação à técnica, como o de heidegger, em que ou o humano quer manter-se longe das consequências da revolução industrial, mas não possui uma técnica social para tal (o resgate da poiesis sendo claramente insuficiente); ou milagrosamente o perigo abrirá uma outra via (mas começamos a ver que antes disso haverá o apocalipse antropocênico).

e sobre esse apocalipse, eles apresentam um dado que não deixa de ser reconfortante: já houveram inúmeros fins do mundo. este novo fim só o é em maior escala, ou ainda, na escala daqueles que se consideram vencedores, destruidores de todos os outros mundos. pois inúmeras sociedades já enfrentaram seus fins do mundo, ou ainda vivem num fim do mundo que se alastra. muitos humanos vivem jogados na precariedade existencial, arrastados pela decadência de uma terra e cosmologia arrasada.


postado em 9 de dezembro de 2019, categoria livros : , , , , ,