Relatório de Atividades: Pdcon09 – Terceira Conferência Internacional de Puredata, São Paulo, 2009


Eu, ao lado do poster no MIS-SP, com a camiseta oficial, cuja arte é de Pan&Tone.

Eu, Henrique Iwao, fui responsável encarregado da produção de todas as performances noturnas do Pdcon09, que se estenderam por 8 dias, do dia 19 ao 26 de julho. Abaixo vão relatos e reflexões, divididos por assunto (em ordem alfabética), depois por dia (em ordem cronológica inversa).

A. Por assunto.

Armadilha: Alexandre Porres, duas semanas antes da conferência, me manda um e-mail perguntando se eu conhecia alguém que conhecia Pd, conhecia música experimental, conhecia algo de técnica de som, sabia inglês, possivelmente espanhol e já tinha trabalhado na produção de coisas. Essa pessoa seria contratada por algo em torno de R$ 1000,00 para trabalhar durante a Pdcon09. Depois de dizer que “podia ver se conhecia alguém” e de trocas de mensagens do tipo “é, ainda não achei ninguém”, uma semana antes do evento, na mesma linha de raciocínio do primeiro e-mail, escrevi: “mas você realmente acha que eu estou apto para esse trabalho?”.

Vontade de colaborar e de receber pelo trabalho eu tinha, mas às vezes passamos por momentos na vida em que as prioridades não são claras e então hesitamos perante o próprio destino.


Paloma, a produtora, por Hersschebella.


Comida, pianista e mesa: ir almoçar no MIS, boa comida vegetariana radical seguida de feijoada, em papel alumínio. Porres, por necessidade, retirou a mesa que deixou no Ibrasotope. Aproveitei a ocasião, comi no chão e ainda impedi que ele a trouxesse de volta (comprei bancadas, bem mais leves, portáteis e retangulares – a mesa dele é maciça, em formato de cabeça de peixe). 3 semanas depois, no lançamento do CD do grupo N-1, a mesa ainda estava no MIS, com um coquetel em cima.

Num restaurante italiano semi-chique, um pianista toca jazz bossa nova. Sua expressão é completamente nula. Isso provoca em mim desconforto, mas quando olho a cara de Craig, percebo que ele está com olhar de “aaaaaaaaaaah” e provavelmente quer aproveitar a estadia em São Paulo para comer bifão de padaria / boteco de esquina. O que segue é um pouco incongruente: ele diz que quer comer algo leve, como frango e salada, mas a salada do local não é salada, é queijos e picles, e o frango tem uma textura suave e uniforme demais, além de ser caro (não é como um bom bife, eu penso).


Restaurante feliz, outro dia.


Conclusão: para um trabalho mais tranquilo, equilibrado e eficaz deveria ter começado ao menos 1 mês antes, conferindo mapas de palco e lista de necessidades técnicas. Isso permitiria visitar as unidades do SESC e o MIS, de modo a me preparar adequadamente, conversar com os responsáveis locais, debater soluções e negociar locações (com ajuda do resto da produção do Pdcon09). Isso também permitiria mandar e-mails a todos os artistas, pedindo informações, esclarecendo dúvidas e propondo ações. O meu pagamento teria de ser mais alto e eu teria de dividir meu tempo entre a conferência e as outras coisas durante esse período preparatório.

Quando Alexandre disse “essa conferência vai acontecer!”, não sei se esperava ficar 3 meses sem dormir. Foi um sucesso, realmente, mas a tranquilidade esteve longe, prejudicando a eficiência de algumas ações.

Alexandre Fenerich conta o mesmo, de maneira mais escatológica: “tem gente que sai na rua e pisa na bosta do cachorro; o Porres para na calçada, olha para o céu e diz: ‘venha oh grande bola de merda, caia aqui em mim’ – e a merda cai…”.

A experiência que ganhei trabalhando foi bastante valiosa e contribuiu para um melhor entendimento de várias questões e ações necessárias para a organização de shows e performances de música / arte multimídia.

Precisando de descanso (também “prova” que emprestei dois adaptadores para Ricardo Brazileiro). Foto de Kruno Jost.


Cronograma e plano de ações: não foi possível organizar um cronograma completo para a semana, sabendo que esta continha 35 apresentações, tendo para tal 3 dias de antecedência em relação ao evento. Se isso era muito pouco, ainda assim não podia dispor de mais tempo, e a solução foi fazer um cronograma / plano de ações parcial, contendo todas as tarefas e planos de passagem de som para os dois primeiros dias, mais rascunhos para os outros. Era minha intenção que, na manhã de cada dia, eu tivesse ao menos os planos para os próximos 3, com algum tempo para adiantar os outros subsequentes.

Além disso, como essas ações envolviam listar equipamentos necessários, conversar com os técnicos dos locais, telefonar e mandar e-mails, era preciso que algumas tarefas tivessem pesos maiores (ordem preferencial) – quando envolviam viabilizar ou não certos aspectos das performances. Isso funcionou razoavelmente bem, exceção feita ao descumprimento de prazo em relação à lista de necessidades técnicas e equipamentos para a performance de encerramento do evento, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, dia 26.


Tim precisava de um adaptador PS2-USB, por exemplo.

Dinheiro, hibridismo: de onde vem o dinheiro para o desenvolvimento do software livre e aprofundamento das relações dos membros da sua comunidade? Algumas vezes, quando convidado para festivais, ouvi algo como: “nós não pagamos cachê, é um evento colaborativo” ou “as relações de valor se estabelecem fora da esfera monetária”.

Dentro da música experimental, é comum tocar de graça. Pessoalmente, o faço se entendo que está ajudando a criar e fortalecer uma comunidade que valoriza a música experimental / contemporânea – e que futuramente isso gerará desdobramentos diversos. Esse entendimento implica em uma noção de investimento.

Mas, se há como ser valorizado financeiramente, é melhor. É o caminho mais certo para um aumento de qualidade do que se está fazendo, por permitir gastar mais tempo com a música e adiquirir material e condições de espaço melhores. Por isso, mesmo que exista algum dinheiro envolvido em um evento, dentro das possibilidades, não se pode perder de vista que o melhor é receber um bom cachê – mesmo que tenham pago seu hotel, viagem e comida.

Eu toquei de graça no SESC durante a Pdcon09, mas era meu solo “Primeiro Acorde”, que já havia tocado em eventos do SESC-SP 5 vezes, de 14 minutos (ou 17, dependendo), e se encaixava no contexto da mostra de performances do evento, com várias apresentações por dia, uma espécie de panorama dos usuários de Pd. Agora, não seria estranho tocar um show inteiro no SESC de graça?

As instituições que realizaram a conferência arcaram com muitas dispesas, passagens para muitos estrangeiros, estadia, comida. O acordo feito não previu pagar cachê para os artistas, que tocariam, mesmo porque existem muitas complicações para pagar estrangeiros a trabalho no Brasil.


Primeiro Acorde, ao fundo, SESC Consolação (foto de Mark Grimm).


Documentário: munido de uma câmera fotográfica que faz videozinhos, decidi, ao invés de tirar as habituais fotos, filmar trechos e situações que se relacionassem à passagem de som e preparação das performances. A única condição para isso era que essa atividade não poderia me atrapalhar na função de produtor e que eu não filmaria, de modo algum, as performances. Isto é, uma vez que o público chegava, eu parava.

De certo modo, acho mais interessante essa abordagem do que filmar e fotografar as apresentações. Tenho sempre a impressão de que a documentação da apresentação rouba um pouco do tempo presente da mesma, tão precioso. Nas passagens de som, por serem bastante funcionais, pode-se criar mais – tratar a documentação como algo valioso, porque também autocentrada.


Qaurta-feira no SESC Pinheiros, por Kruno Jost.


Energia elétrica: em um e-mail expliquei a todos artistas que o padrão da energia aqui era 110V 60Hz e que as tomadas eram de dois tipos. Para evitar problemas de última hora, carreguei um transformador de 750W o tempo todo, e dois adaptadores de tomadas européias (um dos quais sumiu depois da festa no Ibrasotope… – R$ 15,00).

O problema do transformador, além do peso, é o consumo. Não entendi direito essa questão, mas tive a oportunidade de presenciar na terça-feira, no SESC Avenida Paulista, a fase caindo, ao ligar o transformador na mesma tomada que outros equipamentos. Antes de ligá-lo, ainda perguntei aos técnicos presentes: “vocês tem certeza que não tem problema eu ligar isso aqui, quer dizer, na mesma tomada?” Eles não eram técnicos da unidade do SESC e apenas achavam que dava – perdemos 30 minutos; quando a energia voltou usamos outra tomada.

A oscilação da energia elétrica no Brasil (em geral) é problemática. Quedas rápidas e praticamente imperceptíveis de energia elétrica podem sim causar instabilidade no funcionamento de placas de som mais sensíveis. A oscilação na corrente pode eventualmente prejudicar equipamentos eletrônicos. Uma solução para evitar isso é ter grandes estabilizadores nos locais de apresentação ou, mais localmente, no-breaks (sem-quebras) e ficar os carregando para cima e para baixo (programa de musculação do compositor).

Após conversar com os artistas (perguntando se os problemas que tiveram eram conhecidos) e com José Augusto Mannis (antigo professor meu, atua na Unicamp), acredito que três apresentações podem ter sido prejudicadas nesse sentido: Ed Kelly (dia 19, parte de imagem não funcionou, som trancava de quando em quando – dado que Ed estava muito nervoso, haviam pelo menos motivos de ordem mental para acreditar que a energia não foi o principal fator, mas…), Tim Vets (dia 25, um problema que nunca aconteceu antes, pd travar em um som retroalimentado) e Sven König (dia 26, o software dele está sempre sujeito a travar, mas aparentemente também ocorreu um problema nunca antes presenciado).


A fase estava prestes a cair…

Erros: uma lista sumária.

1. Não entregar com suficiente antecedência a lista de necessidades técnicas à produção do MIS para a performance do dia 26. Como isso só foi feito na sexta, a produção não tinha como locar nada, muito menos um comutador(?) VGA->2VGA para que Sven König pudesse tocar de frente para a platéia, com um monitor de vídeo virado para ele, e ao mesmo tempo projetando as mesmas imagens – algo já bem difícil de conseguir normalmente. A solução foi pedir a ele que usasse sua própria tela de computador para monitoramento – a projeção ficando intacta, mas as imagens de monitoramento bem pequeninas.

2. Quando visitei o teatro do SESC Avenida Paulista, olhei para cima e vi que tinham toda a parafernalha de iluminação. Ao passar o mapa de palco para eles, não mencionei que Eleonora Oreggia precisaria de um ou dois focos. Como se não bastasse, não levei os abajures emergenciais do Ibrasotope (que foram usados para iluminar o duo Araújo-Monteiro, no dia 22). Chegando lá, a iluminação pedida estava pronta, mas os técnicos não podiam alterar nada, porque o equipamento não era do SESC e não tinha sido expressamente locado para a ocasião. Como Eleonora chegou tarde, não teve jeito de buscar nada e tivemos que achar uma posição possível na escuridão. Por sorte, o vídeo dela tinha resolução baixa, e não precisava de contornos muito definidos.


Set de Eleonora no escuro (na foto, Pan&Tone e VJ Palm).


3. Fanfarra no SESC Avenida Paulista na mesma hora das performances no teatro (dia 24); como ninguém me avisou? Bem que deveria ter desconfiado do funcionário que disse que “existiam duas apresentações na mesma hora, e por isso o som aqui não pode ficar tão alto”. Nunca imaginaria que a apresentação concorrente estaria a 10 metros de distância, em clima de olodum e muito muito alta, vazando e atrapalhando a primeira performance.


Mais estrondosa do que Ryan Jordan e Julien Ottavi juntos, a fanfarra.

4. Olho para a mesa de som e o técnico é outro, na segunda passagem de som (teve de ser particionada, porque Palmieri e Sukorski não podiam pela manhã e a Internet Livre do SESC Avenida Paulista tinha que funcionar normalmente durante à tarde), às 19h. O som está mais baixo, mas acredito ser apenas porque é passagem e tem gente arrumando outras coisas. O que se segue, no entanto, é que o novo técnico altera para baixo todos os volumes, mas só percebo quando estamos na última performance, de Kruno Jost, que deveria soar bem agressiva, e o som faz apenas cósquinhas nos ouvidos. Olho meio desesperado para Kruno e ele não dá o menor sinal de descontentamento. Fico confuso e deixo de agir; deveria ter levantado, andado até a mesa de som e aumentado o volume, olhando bem feio para o técnico novo (que nem sabia o nome).


Kruno Jost (Gentle Giant), por Fernando Codevilla.


5. Combinei com Tim Vets de nos encontrar no albergue às 10h, mas cheguei lá apenas às 10h35, e Tim confundiu o horário, achou que era 9h, esperou até às 10h e depois foi embora. Se eu não tivesse me atrasado não tinha perdido a viagem, e tinhamos resolvido algumas pendências no próprio dia, ao invés de no dia seguinte.

6. Muita tempestade em copo d’água por causa de um estrobo. A comunicação com Porres nesse sentido foi falha e deixou margem a preocupações absolutamente inúteis, pois o estrobo era pequenino e portátil. Ademais, esqueci de combinar precisamente horário com Ryan, o dono do equipamento, e o que aconteceu foi que chegou em cima da hora no teatro pequeno do SESC Vila Mariana.

7. Quando Kátia, do SESC Pinheiros, comentou que Maryana queria falar espanhol, tive a infelicidade de insinuar para Luka que era melhor ele deixar de lado que era italiano e ir tomar café com ela, junto com os amigos espanhóis do Segmentation Fault. Gracinhas nem sempre são bem recebidas, e a chance de “errar a mão”, em se tratando de um estrangeiro desconhecido, é ainda maior.

8. Marco Donnamura precisava de uma correia de baixo. Discussão vem e vai e meus dois amigos nunca tocam de pé e por isso não possuem correia. Finalmente acho uma, emprestada por Tim Vets. O problema é toda a problematização desnecessária e discussão com o resto da produção para eventualmente adiquirir uma. Pura afobação.


Tim Vets prestes a ter problemas, SESC Vila Mariana, por Hersschebella.


9. Lá pelas tantas, não sabia se tinha ou não pedido o desnecessário mixer de imagens para Palmieri (eu não tinha). É ruim ouvir reclamações sem saber exatamente se é culpado ou não. É ruim também dizer ao artista: “olha, seu mixer chegou”, e ele olhar com cara de “não faço idéia do que você está falando”.

10. Atrasar início da passagem de som a culpa não é minha. Agora, encurralar Greg Dixon e seu percussionista em um canto do palco, não tendo tempo hábil para mudar sua posição e assim tentar melhorar a relação som da caixa clara / sons eletrônicos processados em tempo real… Por mais que a equipe de som atrase e/ou tenha dificuldades, é necessário ter cartas na manga. Usar um filtro na frequência que se retroalimentava ajudou, mas não foi suficiente. Era preciso um espaço um pouco mais flexível.

11. Não ter conferido se as apresentações no SESC Consolação precisavam de uma caixa de subgraves. Iohannes garantiu que tinha pedido um.

Notas: é sempre bom tomar notas, e gosto de fazê-lo ora como anotações ordeiras, ora como diagramas semi-confusos. Para melhorar meu relacionamento com os artistas, e ao mesmo tempo garantir que eu saberia quem faria qual apresentação, escrevi em uma caderneta:

[Dia Número – Nome do grupo (nomes dos integrantes) – Proveniência (quando possível com cidade onde mora)
Nome da apresentação, duração
E-mail]

Os diagramas eram uma mistura de listagem de necessidades técnicas com mapas de palco e setas.


Tarú, descansando em cima do Silent Construction, de Jaime Oliver.


Festa: oferecer uma festa artistinha com o N-1 como organizadores na sede do Ibrasotope esbarra no fato de que a sede também é minha casa, e as pessoas bebem e fumam muito, então é necessário ficar acordado, avisar 58 vezes que não se pode fumar na casa, umas 13 que não se pode consumir substâncias ilícitas, 27 vezes que existe uma contribuição de R$ 2,00, 92 vezes que as caixas de som na verdade são meus monitores de estúdio que uso para trabalhar e é preciso maneirar.

Nunca vi tanta latinha na minha vida. Em um momento estratégico, desligo o som, olho para as pessoas e digo: ”vocês não tem maturidade para manter o som em um nível aceitável. Por isso vou colocar esse limiter aqui”.

(a festa tinha mesa de som aberta a quem quisesse plugar laptop. Foi um erro não começar a festa já com um limiter impedindo o volume excessivo. Outro erro, deixar o banco do piano na frente do piano – é impressionante como as pessoas querem pateticamente ficar batendo coisas feias de qualquer jeito no piano, só para fazer som).

(só para não entenderem errado, eu gostei da festa, foi relativamente tranquila e agradável).


Hans-Christoph, Oscar Martin e Vanessa no Ibrasotope, mesa de som aberta.


Flashfobia: não bastasse eu ter certa implicância com fotografar e filmar apresentações (sentimento que se contrapõe com minha vontade de documentar as mesmas, em uma negociação constante), quando tem flash fico verdadeiramente irritado.

O flash emite luz, e a luz caminha em uma velocidade tão rápida que quase a percebemos como um evento absolutamente pontual, instantâneo, mas que preenche todo ambiente, se este está escuro. Assim, o flash pontua a apresentação, não necessariamente onde ela teria um acento, e é uma intervenção direta na ritmica da mesma.

Esse fato reforça uma certa noção espetacular de que a documentação vai ser algo a mais, em si, e que disloca o foco da apresentação do presente para o futuro e o passado (no sentido de que as fotos tiradas serão mostradas num futuro a alguém que então admirará o passado).

Além disso existem pessoas mais sensíveis à luz. Na terça-feira, Sukorski pediu a Guilherme para tirar fotos durante sua apresentação, e como estava desenvolvendo aos poucos um caso clínico de flashfobia, fiquei bem irritado, leventei e tive que sair da sala por um momento.

(reclamação em voz baixa) É chato pensar que nosso comportamente vai tendo que se moldar sempre de modo a minimizar o impacto que as tecnologias tem. (tom dramático) Mesmo que alguns aborigenes australianos tenham morrido ao ver carros funcionando, os aborigenes foram aos poucos se acostumando, os donos dos carros não deixariam de passar por ali nem que dizimassem todos (pausa longa).


Wilson Sukorski, com flash.

Gravações: não era minha incubência gravar os shows, mas porque eu podia e ninguém ia fazê-lo, exceto o panetone alguns dias, então gravei. Agora que gravei, tenho que minimamente editar, fazer backup em DVDs e entregar para o Porres e a Paloma, transformar em MP3, fazer upload no sítio Sussurro, disponibilizar em uma página (fazer a página), divulgar aos artistas.

Piada: não sei quem entendeu, mas mandei para todos antes do início da conferência, para fechar o e-mail sobre condições das passagens de som:

“See you until bang or
as Sabine would say ‘DO NOT CLICK. DO NOT CLICK. DO NOT CLICK.’
Or as Kim Deal would sing ‘i´d bang it all day’”.

As referências são: documentação do objeto until do Pd (faz repetições lógicas) e canção da banda The Breeders (Divine Hammer).


Trajetos: convivendo com pessoas de fora de São Paulo, pode-se ter a noção de que é difícil locomover-se de carro nessa cidade, não apenas porque está constantemente congestionada, mas também porque, a despeito das placas indicativas, os caminhos são tortuosos. Convivendo com estrangeiros, pode-se ter a impressão de que São Paulo na verdade é um labirinto automotivo que tem na figura do caracol sua mais simplificada representação.

“Parece que as pessoas aqui tem noção da direção geral em que devem ir, mas não fazem idéia de qual caminho tomar” – Mark Grimm.

“Cara, nós acabamos de virar 4 vezes direita em seguida!” – Brennon Bortz.


Círculos, SESC Vila Mariana, por Hersschebella.

Velocidade: o moço encarregado de transportar as mesas está trabalhando fora da ordem de serviço dele, adiantado, de favor. Eu digo que eu mesmo posso transportar as mesas depois, se necessário, mas ele insiste em tentar fazer tudo agora. O fato é que o SESC é uma instituição grande e cada pessoa tem uma função definida e precisa atender a várias demandas. Isso implica em uma velocidade lenta, e as coisas podem demorar.

Exemplos: existe uma moça da água. A água chega transportada pela moça, que pode estar ocupada. Alguns artistas não acreditam que pedi água, 20 minutos atrás, e pedem de novo: “você poderia trazer água”, ao que eu respondo: “já pedi, tenha paciência.

(agora é só substituir a palavra água pelas palavras: fita preta, microfone, fusível, direct box, extensão, bancada).

O que é importante aprender disso: ter paciência. O que mais? Ter organização: lembrar de pedir as coisas em blocos, um técnico pode sair para pegar um microfone e levar 20 minutos para cumprir essa tarefa. Se você esquecer de mencionar que precisava de um cachimbo tamanho médio ele terá que voltar lá e o tempo corre e a passagem de som periga atrasar tudo.

Paciência, logo vai.

B. Por dia.

Dia 26: Sven König está ensaiando e só chamo quando acho que está em boa hora. Yroyto recebe suas 6 folhas de papel branco, garrafa de água e copo de leite (ele usa o leite na apresentação, mesmo, para fazer imagem e sons; ele não usa o copo). Exige, porque também é francês, pelo menos 30 minutos de passagem de som concentrada. Concedo, e digo que vamos atrasar 15 minutos (melhor que irritar os artistas).


Fala de encerramento, no MIS-SP.


Dia 25: Sesc Vila Mariana presenciamos o fabuloso show dos técnicos de iluminação, fantástico e rápido, os caras são uns gigantes cafeinados, carregando escada de 10 metros como se fosse uma bandeja. Conseguimos negociar 100 dbs ao invés de 90, e o som é nítido e dá para agradar um pouco o Jullien Ottavi, sem desagradar muito o SESC.


Tim tem muitos problemas, precisamos de técnico eletricista e rola uma tensão absurda e dois fusíveis queimados (também rola uma comoção pela causa dele). Por isso, quando Giuseppe Birardi, atrasado, e originalmente não previsto para tocar (Pan&Tone chamou ele e Faeth, de última hora) entra e fala “Ah, vou plugar isso aqui”, eu grito “Não vai. Não me interessa se não tiver 220V para você, aí você não mexe”. O bom de ter gritado assim é a cara de desespero de Tim se desfez.

Dia 24: de volta ao SESC Avenida Paulista e eu realmente estou preocupado com a Eleonora. Pergunto 6 vezes ao Ryan se ele desplugou sensores antes de começar a solda-los. Ele diz que tinha sensores de luz também, mas nunca soube como usá-los, não com o estrobo ligado infernalmente. Jaime (que usa a barra de espaço com o pé) não sabe selecionar para Pd a opção processamento em tempo real no Linux (mais tarde isso é resolvido). A sua “Construção Silenciosa” é bonita e elegante.


Ryan Jordam, por Fernando Codevilla.

Bom salientar como passagens de som preocupadas e detalhistas trazem à tona o ambiente da “briga de casais”, mas concedo 1h30 ao HP Process e eles ficam quase satisfeitos. Antes do show Ryan me pergunta se era bom avisar que a apresentação dele não era boa para epilépticos, eu digo não Ryan, fica tranquilo – isso antes da fanfarra começar e termos que parar tudo.


HP Process (Hortence Gautier na foto), por Fernando Codevilla.


Dia 23: Chikashi está preocupado com sua mala da Pdcon: disseram que iam fornecer e não o fizeram. Cybele desconversa, mas amavelmente – ela está cansada. Tim tem dor de dentes e não vai tocar na seção amiga. Convidamos Araújo e Monteiro, de sopetão: agora temos carro. Chikashi está sorridente, é a primeira vez que toca seu “7 eye” com outros (7 sensores infravermelhos de distância). Mário e ele se dão bem e nos divertimos a beça no Ibrasotope.


Jaime Oliver no SESC Avenida Paulista, por Fernando Codevilla.

Mas é hora de trabalhar, e chove. Vamos ao SESC Pinheiros e dessa vez eu conheço o local e é mais tranquilo, além de não ter brasileiros sem noção de organização para conturbar minha mente (não levem minhas generalizações muito a sério – elas tem licensa poética).

Dia 22: A opção de fazer todos os cabos passarem por baixo da mesa e sem acabamento é bonita, mas a quantidade de tomadas necessárias sobe exponencialmente, e o último grupo simplismente tem 6 pessoas (na minha lista só tem 4!) – essas duas chegam 10 minutos antes de começar as coisas, conturbam, me fazem trocar tomadas e todos esses fios extras e desordenação atrasam efetivamente 40 minutos o começo. Como se não bastasse, o campo eletromagnético dos fios mata duas DIs e o som do primeiro grupo não sai mais. A última coisa queria era desestressar e imagina minha cara quando um certo artista me oferece um certo chá calmante. É claro que também não é tão legal ter 3 horas para montagem de 4 grupos, totalizando 9 computadores e várias traquitanas (1h30 delas sem possibilidade de ligar o som).


Glerm participa, apresentação do Coletivo Make Install.

Dia 21: Eu peço café mas é impossível e ainda temos que esperar alguém, responsável pelo som. Tem um gordinho do arduíno que é um cara genuinamente folgado; ele pega a maleta vermelha, bota em cima da mesa de passagem de som, empurra umas coisas do Kruno para o lado e fica lá, eu tentando ir embora e o cara colando adesivos na sua maleta, perigando o equipamento da performance noturna.

John está tendo problemas com energia elétrica, sua instalação zumbe, é a Avenida Paulista, milhares de antenas. Ele é um americano muito companheiro.


Oscar Martin, por Hersschebella.

Dia 20: Franklin é um técnico de som bacana, e o cronograma é cumprido exatamente conforme o previsto. Entretanto o início da apresentação atrasa. Acontece que os participantes da conferência chegam atrasados e vão direto para a área de comes e bebes. Chikashi, preocupado com horário e o fato de que as pessoas não estão sentadas na frente dele (estão sentadas nas mesas ao lado, comendo), me pergunta “mas e as pessoas?”. Sou obrigado a atrasar 15 minutos, é muito ruim começar quando as pessoas presentes estão focadas em outra coisa.


Chikashi Miyama no SESC Consolação.

Dia 19: Ed Kelly chega atrasado com cara de pirata, um olho de cada cor, uma garrafa de coca-cola, uma dúzia de bananas, um laptop e uma sacola plástica. Olha para mim e diz: “bloody hell (sotaque de inglês de ressaca), [traduzo o resto] esqueci a fonte. Vou voltar ao hotel, droga, eu vou e já volto”.

Ed Kelly no SESC Avenida Paulista, passagem de som

Craig, com um inseguro e um riso nervoso, é um grande companheiro. Sua mulher, que ficou nos Estados Unidos, é do tipo que usa saltos. Craig se interessa por plotagens, daquelas que existem no SESC Avenida Paulista, nas paredes. Trabalhando como dono de seu próprio negócio, no ramo de roupas de baixo(?); está desenvolvendo um software livre que facilite toda a burocracia de quem não quer pagar contador. Acho isso admirável.

Craig (MPC2059) no SESC Avenida Paulista, passagem de som

postado em 22 de agosto de 2009, categoria música
  1. porres disse às 1:09 em 23 de agosto de 2009:

    com alegria, confirmo que você era mesmo “The Man for The Job” 🙂 … ainda não entendi muito bem o lance escatológico com a minha pessoa, mas acho que deve ser algo não tão pejorativo como parece…

    valeu por tudo, os registros salvaram o mundo!

  2. Henrique Iwao disse às 21:19 em 3 de setembro de 2009:

    poxa, como um bom comentário do Fenerich só pode ser. aliás, não é pejorativo não (pelo menos eu não entendo assim). é mais do tipo: “puta que pariu, o porres botou na cabeça que ia fazer isso (e deu um jeito de fazer sem maiores tragédias)”.

    é mais do tipo pular do prédio para assim pensar mais rápido e eficiente como não se esborrachar no chão (na verdade, melhor dizendo, não pule! – a pdcon09 foi mais leve que isso).