o pior final de livro de todos os tempos

acontece em a história do olho, de georges bataille, publicado sobre o pseudônimo “lord auch”, originalmente em 1928. trata-se do capítulo posfácio, uma tentativa de segredinho sujo, isto é, de falsamente estragar o próprio livro, como quem diz: “mas veja bem, a psicanálise explica (só que não né, caros amigos, eu estou dizendo isso mas ao mesmo tempo estou mentindo, esse segredinho psicanalítico, agora revelado, dá lugar a outro, cósmico e obtuso, que eu não vou contar, releiam lá…)”. isso efetivamente impede de que seja um dos meus livros prediletos.

os comentários ao final de cada capítulo de athrocity exhibition, de j. g. ballard, se eximem desse tipo de reclamação por alguns motivos: o livro é uma série de cenas curtas, que não se desenvolvem de uma maneira imersiva, na forma de um romance, no modo “entrar na história”. antes, é pela repetição de imagens, pela combinatória insistente mas apreendida em fragmentos, a qual denota obsessão, que desenvolvemos uma relação por contágio. as pausas explicativas certamente atrapalham a fluência da leitura e o acúmulo de tempo necessário para o delirar junto. mas ao menos não permitem delirar junto e depois dizem ser tudo aquilo fruto de uma bobeira. ademais, os textos explicativos são interessantes. ao invés de dizerem sobre uma vida impressionável e chata, como é o caso do texto de bataille, apontam como uma série de preocupações se manifestam diferentemente quando sob o modo da escrita literária ou do comentário espirituoso. as motivações ficam mais claras numa segunda leitura, mas elas não tentam reduzir o próprio texto, e tampouco ao mesmo tempo salvaguardar-se da redução.


postado em 12 de novembro de 2018, categoria livros : , , , , ,
  1. henrique iwao disse às 11:00 em 29 de novembro de 2018:

    mas que seja dito. é muito melhor ler o livro do ballard pulando as explicações e só voltando a elas uma vez que se leu tudo em sequência (esqueçam a opinião do autor, equivocada, na introdução).