Experimentações Pedagógicas em Arte e Tecnologia

Quando a escola de arte e tecnologia Oi Kabum! BH encerrou suas atividades em 2016, eu, Débora Braun, Diana Castilho e Leonardo Mascarenhas ficamos de escrever, a partir dos textos e documentos produzidos pela equipe da escola, uma revista. Ela está agora disponível. Contém material sobre a metodologia da escola, a matriz curricular, a equipe e gestão escolar, o processo seletivo, o núcleo de produção, além de proposições dadas em sala de aula. Aspectos importantes de nossa prática são abordados, como

  • a preocupação com processos de avaliação que fossem próximos aos educandos,
  • o desenvolvimento gradual de uma gestão tão participativa quanto possível,
  • a importância da motivação como motor do aprendizado,
  • a predileção para o aprendizado ligado à resolução de problemas,
  • a valorização de habilidades envolvidas em trabalhos coletivos,
  • o estabelecimento da orientação como espaço pedagógico regular,
  • a ideia do tempo livre,
  • o fomento à atividades extra-classe de diversas naturezas (estágios, encontros, clubes de aprendizado, grupos de estudo, festas, assembléias, mostras, shows).

Oi Kabum! BH: Experimentações Pedagógicas em Arte e Tecnologia (ISBN: 978-65-00-93785-5) pode ser lida no issuu da extinta escola, ou baixada no meu servidor ou ainda aqui, no archive.org. A revisão foi feita por Flávia Peret e a diagramação e arte gráfica por Kawany Tamoyos, usando imagens do acervo digital da escola.


postado em 28 de janeiro de 2019, categoria oi kabum bh, textos : ,

referências e discussão: éter, silêncio, vazio

a respeito do artigo éter, silêncio, vazio: experiências problematizadas, disponibilizado aqui.

(i). referências

  1. dadaforma, a de-compilation of plataforma records (PLATARECS100).
  2. henrique iwao – §6.4311 (2014).
  3. henrique iwao – éter 2 (2014).
  4. nick land sobre georges bataille – the thirst for annihilation: georges bataille and virulent nihilism, (routledge, 1992, +).
  5. ray brassier – genre is obsolete (em noise & capitalism, organizado por mattin e iles, arteleku audiolab, 2009).
  6. to live and shave in l.a.
  7. ruzelstirn & gurgelstøck (um dos nomes artísticos de rudolf e.ber).
  8. verbete da wikipedia em inglês sobre os pontos de experiência.
  9. ghost in the shell, série de mangás e animes, originalmente por masamune shirow (1989-2015).
  10. código 46, um filme de michael winterbottom (2003); matrix, um filme dos irmãos wachowski (1999).
  11. compression sound art, vídeo de johannes kreidler (2009).
  12. babylon sisters and other posthumans, coletânea de contos de paul di filippo (2002, +).
  13. exemplo de pássaros tocados mais lentamente ( contra +).
  14. james whitehead em the shortest piece of music, aborda questões muito caras e por vezes parecidas ao que eu me preocupei (especialmente em §6.4311) (também de 2014).
  15. gx jupitter-larsen – vacant lot (1981).
  16. xylowavepoderes, uma postagem desse blogue (2012).
  17. a anedota sobre terry jennings (há um erro na segunda aparição do nome no artigo) foi lida aqui, e apesar de lembrar da história, não consegui achar uma outra fonte para a mesma (mais confiável).
  18. parece que os feitos de henry flynt estão cada vez mais presentes na cultura (vídeo de uma retrospectiva, 2013).
  19. recomendo bastante a leitura do livro no medium, de craig dworkin (+, , 2013).
  20. jens brand trata de stille-landschaft em sua página (2002).
  21. christian wolff: stones (CD, editions wandelweiser, 1996 , +).
  22. ano passado escrevi um artigo sobre o álbum assonâncias de silêncio, de raquel stolf, para a revista linda.
  23. 0’00” de john cage pode ser uma peça cheia de sons (1962); silent prayer, por outro lado, não (1948).
  24. meu conhecimento das obras de jarrod fowler, como 70’00″/17, é meramente textual.
  25. henrique iwao – 13 horas de nada; 24 horas de nada (2015).
  26. a peça mencionada de mieko shiomi é boundary music (1963).

(ii). discussões.

  1. no congresso da abre, ana rita nicoliello questionou meu entendimento da noção de experiência. como ela estudava john dewey, resolvi considerar o “a arte como experiência”. lá, dewey insiste na completude: “começo, meio e fim”. seria necessário usar de modo interessante a insuficiência e incompletude, quanto a esse esquema (mesmo que estes formem totalidades estéticas). também ao vitalismo é preciso responder: a arte não procurará acentuar a vitalidade, nem ampliar a vida humana (não buscará a sinergia com “a estrutura de seu organismo”).
  2. nas minhas anotações constam observações confusas:
    1. a arte sem finalidade tem como resultado não apenas o improdutivo, mas o não-cognitivo (uma formulação negativa: cinismo; uma positiva: absurdo).
    2. o anti-cognitivo como um não-sublime (sublinhar a insuficiência).
    3. pode ser aproximado do sublime pós-moderno (brassier) [mas seria mais tornar possível intuir que podem haver outros entendimentos do que são regras do que propor que existiriam regras impossíveis]
    4. habitar a borda da arte: não-experiência como um tipo experiência (remissões)
  3. no seminário livre do sô(m), com a performance de éter 2, versão performance, 30 minutos, comentaram, mencionando john cage, que “saindo da música entra-se no teatro”. aspectos enriquecedores da experiência notados: a iluminação modula a escuta; no silêncio, o público percebe o seu próprio corpo mais (como uma experiência proprioceptiva especial), por não poder fazer barulho; o público, pela atenção do performer no palco, percebe cada pequeno movimento dele como parte de um drama; o silêncio atua às vezes como um limite da escuta – aquilo que a aguça, ou a origina; o silêncio desloca a escuta para a visão (ver os gestos, não ouvir direito o resultado sonoro, mas imaginá-lo).
  4. um rapaz lembrou da experiência de chegar em casa de madrugada, querer fazer várias coisas, mas não poder, por medo de acordar os pais. lembrou do cuidado excessivo com que se movimentava nessas ocasiões, quando jovem.
  5. no mesmo evento citou-se o buda tv, do nam june paik, porque poderia constar nos meus exemplos.
  6. pedro marra mandou-me o artigo de douglas kahn: silence and silencing (a ler); também comentou e enviou o livro, de don ihde: voice and listening (a perguntar qual trecho teria relação mais direta com o debate). acredito que tergiversando, miguel javaral mandou-nos um artigo, com um nome curioso (a ler): finishing school: john cage and the abstract expressionist ego, de caroline a. jones (“silêncio como estratégia queer“, disse ele).
  7. apontaram-se dois tipos de fracasso em relação à performance: fracasso no sentido de que era difícil ouvir o que se produziu por mim; fracasso da performance por ser demasiado dramática/rica. o seminário pode ser reouvido aqui.
  8. foi comentado que a dicotomia “experiência / não-experiência” é tanto imprecisa demais, quanto dura demais para acomodar o projeto, mas que dá o que pensar (espero que não por ser confusa, mas por ser instigante).
  9. tentei explicar, no caso de §6.4311, que a não-experiência poderia ser uma qualidade intrínseca da obra e não da fruição (a maneira como ela se organiza aponta racionalmente para uma impossibilidade).
  10. na sessão aberta do fime, após o vídeo (éter 3) comentei sobre a possibilidade de criar algo como uma não-meditação. lembramos da competição de “não fazer nada” anunciada na coréia do sul.
  11. por algum motivo, talvez lembrando dos textos de lyotard no inumano, mencionei “a melancolia como a essência da produção conjunta” (do silenciamento, espero).
  12. em um sentido o muzak e a música de mobília de erik satie não são voltadas para a experiência de escuta. mas elas rapidamente se tornam indícios de presença humana, o que eu gostaria de evitar.
  13. javier bustos mencionou a ideia de um “espaço sem conteúdo” e depois de um “conteúdo sem suporte”. a especular. (conteúdo sem suporte é uma formulação bem no estilo da xylowave).
  14. j.-p. caron gostou do texto a ponto de incluir ele e éter 2 como parte de seu módulo (v: processos de individuação e sutura arte/ciência/política)  no curso de extensão da faculdade de pedagogia da ufrj, arte e devir, arte do devir, coordenado por bernardo oliveira.

postado em 16 de agosto de 2016, categoria textos : , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

cem anos de música no brasil

no livro cem anos de música no brasil 1912-2012, organizado por joão marcos coelho, há um capítulo escrito por marco scarassatti denominado instrumentarium: dispositivos e contradispositivos no instrumentário brasileiro dos últimos 100 anos. nesse décimo capítulo, marco inclui pequenos textos de diversos músicos da cena brasileira, realizados a partir da pergunta “o que é um instrumento?”.  nas páginas 186 a 189 há minha contribuição, disponível nessa página. disponibilizei também as respostas às 5 perguntas de marco sobre o tema; escrevi-as em 18 de março de 2013 – soam como se eu tivesse acabado de ler os livros “ciência em ação” e “a esperança de pandora”, do bruno latour.

quanto ao livro, um aviso: folheando rapidamente, já noto diversos pequenos erros – nome de autor (na capa, marco scarassatti aparece como “marcos scarassati”), ano de publicação duplo (2014 ou 2015?), número de página referente ao capítulo que eu participo incorreta (p. 128), informações biográficas fictícias ao final (de novo, o marco aparece como professor de composição, e o conheço bem o suficiente pra saber que não), além de nos anexos de um texto – descrições da atuação de grupos musicais – haver pequenas inconsistências aqui e acolá.

não deixa de ser um livro que promete interesse, mas já na primeira passada esses descuidos aparecem como falta de cuidado e pouca preocupação com a boa qualidade do texto (e visualmente, o livro é bonito). meu próprio excerto contém um parágrafo em que falta um pedaço de uma frase… (mas, obviamente, revisei ambos na versão que disponibilizei).


postado em 21 de abril de 2016, categoria livros, textos : , , , , ,

música-ruído e forma: referências

saiu na revista linda impressa número 2, dezembro de 2015, um artigo meu intitulado música-ruído e forma: começo de conversa. ainda não vou vincular o texto aqui, porque espero que alguns comprem a edição física e usufruam de alguns meses de exclusividade. para estes, inicialmente, mas depois para todos, deixo aqui a lista de referências utilizada, conforme me é caro (remendando-caos). (entrando em contato, é possível comprar algumas unidades de mim).

2016-02-20 linda 2

ø: uma fala do merzbow no filme beyond ultra violence: uneasy listening by merzbow. contém a famosa colocação da década de 90 de que, à medida que noise [música de ruído] passou a ser considerado um gênero musical, ficou mais fácil tanto se concentrar no ruído puro (no som), quanto pensar a forma (musical) da música de ruído. extrarreferencialidade, que nada! (chega de shibari). ademais, a sanannda acácia, que fez a arte ao lado do título do texto, tem uma página no cargo collective.

1. paródia de da mihi factum, dabo tibi ius, do vocabulário jurídico.

3. a referência à disturbação, vem do livro o descrendeciamento filosófico da arte, de arthur danto, capítulo arte e disturbação.

4. as performances de kasper toeplitz e hrönir no bhnoise 2013 podem ser ouvidas aqui.

5. yersiniose lançou 1911 pela seminal records. de god pussy, governocídio é atribuído a darker days ahead e terceiro mundo chaos discos, e favela, a debila records. há um ou dois vídeos do duo nunzio-porres no youtube. the joy of noise poderia referir-se ao mashup homônimo do grupo riaa, mas mais provavelmente é um eco mental de informações adquiridas nesse programa idiota.

6. corpo código aberto era um duo, mas a um tempo é um solo. carla boregas não tem seu material lançado ainda. volume 1, de thiago miazzo, pode ser ouvido aqui.

7. uma entrevista com romain perrot no the quietus inspirou esse trecho (detalhe: eu deveria ter pedido para incluir essa imagem nesse ponto). o artigo citado é o capítulo 17 do livro editado por michael goddard et al, resonances: noise and contemporary music, qual seja, into the full: strawson, wychnegradsky and acoustic space in noise musics, de j.-p. caron. o álbum heavy metal maniac, de alfa lima international, pode ser ouvido aqui.

8. um vídeo-resumo do fime 2015 foi postado pelo ibrasotope, com um trechinho da performance de yuri bruscky.

9. um vídeo de uma performance de stones ii (noisecomposition iii), de j.-p. caron, pode ser visto aqui. é uma obra inspirada em stones, de christian wolff, parte da sua coleção de prosa. meu brasil não chega às oitavas vem desse álbum, mas existe também como performance. há uma vídeo de pronunciamento, de Manifestação Pacífica. vitrola e lixa, de gustavo torres, é descrita no seu site. a referência en passant à martin tétreault fica esclarecida ao consultar-se essa pequena entrevista dada para a trienal de quebec. o comentário sobre insignificanto se refere à segunda parte dessa performance (embora, nessa ocasião, o alto falante não tenha se desconectado, o que por vezes acontece, por engano, no meio da ruidera).

10. gx-jupiter larsen tem diversos trabalhos que podem ser situados na junção entre o noise e a arte conceitual. o monolito é uma imagem bonita, do clássico 2001: uma odisséia no espaço, de arthur c. clarke, mas não apenas: 3001 nos espera.

11. victim! tem vários álbuns. os dois lançamentos pela toc label devem exemplificar melhor esse ponto. verjault lançou alguns álbuns pela plataforma records e brainflesh, pela seminal records. bella acabou lançando o álbum dela, cantar sobre os ossos. há uma entrevista bacana com ela, aqui.  vejam: não tenho nenhum interesse em não divulgar os trabalhos dos meus colegas e do meu selo virtual – eles me fazem pensar, eles me dão uma boa dose de alegria!

12. argh, gostaria de poder reescrever esse. enfim, acavernus tem um bandcamp. o álbum rainha, do grupo dedo, foi lançado pelo qtv.


postado em 20 de fevereiro de 2016, categoria reblog, textos : , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

item 3 de um portfólio de 2009

descobri a pouco, mexendo num hd antigo, uma espécie de portfólio. creio tê-lo realizado para mostrar ao agrupamento de sonologia da eca/usp minhas credenciais, antes de lá ingressar no programa de pós graduação. (eu haveria de pleitear o mestrado)

3. Proposições de ordem poética

3.1 Sistemas Opressivo-Repressivos

. através de protocolos de conduta, o sistema circunscreve a ação dos improvisadores / performers, dificultando o cumprimento das metas estabelecidas por eles.
. através de comportamento imprevisível, os sistemas cortam e impossibilitam certas ações dos participantes, tais como “soar” (cortar o som, por exemplo), “aparecer” (cortar a luz).
. existe alguma conjuntura de jogo por trás de algumas ações mais ou menos nefastas dos sistemas, certos posicionamentos ou combinações de valores nos parâmetros avaliados.

3.2 Hiper Instrumentista Amputado

. amplia-se a atuação de um instrumentista improvisador, envolvendo, botões e mapeamentos diversos, para controle de luz, temperatura e outro (vídeo, etc).
. amputa-se alguma característica principal do mesmo, como a capacidade de soar para si mesmo, ou a de soar para o público.


postado em 3 de fevereiro de 2016, categoria música, textos : , , , ,

7 parágrafos para a linda iii

escrevi um texto para a revista de música e cultura eletroacústica linda, edição iii, 23 de novembro de 2014. o texto comenta outros textos da revista, tangenciando seus assuntos (procurando outras direções de pensamento, dentro de cada assunto extraído). para conferir na revista, e em contexto, visite esse elo. abaixo, reproduzo o texto como se ele fosse algo que se sustentasse por si, por achar que ele merece essa oportunidade de leitura.

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§0: Eu, autômato orgânico, maquinismos. Se eu puder compreender mal esses textos já é um começo. Lê-los com pressa. Intuir, mas a intuição aí agindo contra a noção de experiência. A intuição como a experiência. E essa experiência como produção não apenas de possíveis desentendimentos, mas como produção de produção.

§1: Uma cadeira surrada. Um tanto de afeto. A imagem de uma cadeira de madeira. A imagem da cadeira de madeira. Por que a cadeira era tão baixa? Pensemos nas posições dos cotovelos, do pulso, no movimento dos dedos. Perspectiva da cadeira. Melhor: foco na cadeira, seus rangidos – Gould move-se, sua bunda. Foco: experimentar transpor mentalmente a microfonação para debaixo da cadeira, esforçar-se para acompanhar o som, tal como ouvido embaixo da cadeira. Pensar microfonações. Como o som é ali. Que tipos de movimentos são necessários para que certos sons sejam produzidos. Partitura de ação – Suíte Inglesa de Bach, por exemplo. Catalogar as passagens mais funcionais, que de fato resultem em rangidos.

§2: É possível dispensar o ouvido ao editar sons. Ao lidar com áudio. Caso curioso em que som não é som. Dois usos. Estabeleço correlações. Estou falando do caso digital. Meu olho funciona em parte como outro ouvido. Representação, referente, transdução. Imaginação de transduções. Nada de novo – é como auditar partituras. Casos fáceis: aumento de intensidade, localização de ataques percussivos, silêncio, compressão. Com os espectrogramas, outros jogos. Depois, há casos mais especulativos. Cada vez mais. As sonoridades resultantes passam a ser resultados de operações guiadas por um ouvido que desentende o outro. Há perda, deslocamento, confusão. Grosserias, reduções simplistas – identificações de famílias de perfis e troca de amostras de lugar, umas com as outras. Finalmente, o som é o resultado de grafismos que não tem como premissa a produção sonora. Mas e o amor pela tesoura, pelo tato que passa pela tesoura? Isso me motivaria. Mais tesoura do que olho, ou o olho para a tesoura.

§3: Contraposição a partir da proposição “desenhar uma linha reta”. A. Tocar um som intenso, periodicamente, sempre o mesmo objeto musical (discussão de Cornelius Cardew sobre a peça X for Henry Flynt, de La Monte Young). B. A velha piada do músico a jogar paciência. De um lado o mito da necessidade de performance senciente. De outro a ação complexa, irredutível, a surgir de instruções simples, e o papel da performance humana nesta.

Ele estava lá, para ajustar a equalização, a intensidade, a posição das caixas (afinal, a peça não se escuta, ainda). Estava lá para proporcionar a experiência de uma escuta que quer ser apenas uma escuta. Ou ainda: que sonha ser escuta isolada de outras experiências.

Eletrônica ou acústica, importa? Um sampler como instrumento musical. Microfones por todos os lados, amplificação, captadores. Um som tipo midi (lembrem do soundblaster, mais de dez anos atrás) junto a um som tipo vinil. Fenerich reimaginando Mahler. A orquestra, tal como o computador, interpreta a partitura. A edição toca o vinil tocando a orquestra e toca o computador tocando o midi.

§4: Sim, há carros, aviões, helicópteros, máquinas diversas – mas, especialmente: alto-falantes, espalhados por todos os lados (tocadores, televisões, rádios etc). Se há saturação urbana e poluição sonora, há sobretudo saturação dos indícios de presença humana. Tanto que nem os percebemos como tal. Viram ambiente. Música de notas e/ou ritmos musicais e falas: nós aqui estamos, nós que dominamos. Um caso na Ilha do Marajó. Andamos 40 minutos sob o sol escaldante. Ao chegar na praia encontramos, além da vasta paisagem de areia e água salobra, um único sujeito e seu quiosque, tocando reggae com muita intensidade, a caixa de som virada para o mar.

§5: Luteria digital: a difícil arte de equilibrar o tempo gasto na criação do instrumento e na utilização do mesmo para fazer música. Na (benéfica) falta de um projeto, fuçar. Não ter uma meta composicional não significa não ter outras metas. Na ausência (ou falta de predominância) de metas musicais, metas sonoras. Resolver pequenos problemas. Se formos perguntar aonde está o problema, talvez isso indique onde subsiste um projeto. E viver de modo que a questão da composição musical desapareça, momentaneamente, é favorecer uma relação que ainda assim não resolve o desequilíbrio evocado.

§6: Composers doing normal shit. Cientistas e suas motivações. Penso em como, segundo o livro Caos, de Gleick, Feigenbaum falava “conjuntos de Julia” mas nunca “de Mandelbrot”. Contra o Método, de Feyerabend, tem exemplos curiosos, abordando Galileu. O capítulo 1 – Literatura, do Ciência em Ação, de Latour, finalmente tornou compreensível para mim a escrita de artigos como produção humana. Isto é, mostrou-me como existe sensatez nesse tipo de ocupação, só aparentemente tão inóspita. A questão das alianças. Entre humanos. Entre não-humanos. Entre humanos e não-humanos. “A natureza resolve apenas questões já resolvidas”.


postado em 7 de fevereiro de 2015, categoria textos : , , , , , , , , , , , , , ,

éter 2

2014-12-13 cartaz lançamento éter 2

no dia 13 de dezembro será lançado meu álbum éter 2, pela seminal records, no seguinte endereço: www.seminalrecords.bandcamp.com/album/eter2. abaixo, um dos textos do encarte.

Comecemos pela possibilidade de colocar um objeto nu (4’33”, de John Cage). Depois, de usá-lo, dizendo: é preciso escutar. E então ampliar esse ato disciplinado de atenção (0’00”). Esfumaçar as fronteiras entremundos. Ou estabelecer e habitar fronteiras: Mieko Shiomi pedindo o som mais sutil. Muito tempo depois, o grupo Wandelweiser.

Brincar com a possibilidade de indiscerníveis. Dizer: a ocorrência no tempo diferencia as partes, as músicas. Ou ainda, o toca-CDs é um relógio de quatro minutos (70’00″/17, de Jarrod Fowler). Dizer: a duração e a autoridade diferenciam as partes, as músicas: o convite de Guilherme Darisbo para coletânea DADA do selo Plataforma Records.

Querer, como Cage, silenciar um pouco a presença humana (Silent Prayer), seus sons, suas imagens. No estilo o melhor da internet, usuários postam uma, cinco ou dez horas de nada e/ou de “absolutamente” nada. Zen for Film (Nam June Paik) ampliado, planificado. Se a conexão é estável, muito pouco ruído. ‘Se seu computador dormir, acordará sem pedir a senha. Desculpe-me não estar em qualidade HD’ (SpritePix). Alguns desses vídeos usam tela branca. Mas o transparente não deveria aparecer como preto, em um vídeo para internet? Erro conceitual? – Uso expressivo do branco/fala em Hurlements en Faveur de Sade, de Guy Debord.

Seguindo Raquel Stolf (Assonâncias de Silêncios), é possível empilhar silêncios? E se pensarmos em termos de mascaramento: não estariam os sons mascarando um silêncio subjacente? Um negativo de substância, vazios e nadas permeando. Ou então: soterrados. Tal qual a noção de espaço, quando lhe tiramos todos os objetos. Que inexistência e omnipresença sejam homoefetivas não garante que suas ideias correspondentes também sejam.

 


postado em 11 de dezembro de 2014, categoria obras, textos : , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,