the neonazi turn

1.
é cristão mas vota em bolsonaro
e agora cristãos não podem ser neonazistas?

2.
meu jesus é o da espada
o meu não comunga com o diabo

3.
em defesa da família
(de deus e da pátria)
e o trabalho liberta

4.
muito evangélico
22% evangélico

5.
em 2006 o pl
se fundiu com o prona

de lá, já vem a conjunção
bandeira nacional e beethoven

“quando vejo a bandeira do brasil
já penso em beethoven”
e “quando escuto beethoven
já ouço pés marchando”

(não, mas não importa)

6.
paulo koglos fazendo
cosplay de enéias carneiro

7.
quanto mais vazia a fé
mais fundamental a crença

8.
garoto armado entra e mata
um custo baixo
comparando
não há mais arte lésbica

(para cada isento ofendido
uma academia de tiro?)

9.
e assim caminha
a jesuscracia


postado em 10 de novembro de 2022, categoria prosa / poesia : , , ,

pipoca

quando deus estava a criar o melhor dos mundos, garantiu que neste existisse pipoca. das 13 possibilidades analisadas, entretanto, embora em todas menos uma ocorressem humanos, em nenhuma ocorriam humanos razoáveis. especula-se se entre os outros pequenos milagres que balizaram o trabalho do arquiteto do mundo estariam o pastel santa clara, a feijoada, o café expresso a arte da fuga (que, devido à conserva de nabo, teria de ser essa, sem o final mesmo). ou, ao menos, é o que eu posso pensar (dado que existem).


postado em 11 de agosto de 2022, categoria prosa / poesia : , ,

a b c o

A fez C por causa de B.
B fez C por causa de A.
A e A não eram o mesmo.
B e B não eram o mesmo.
A e A eram homônimos.
B e B eram homônimos.
A e B estranharam.
faziam C por motivos diferentes.
A e B, respectivamente.
perguntaram a C o que C achava.
sobre C, é claro.
C e C não eram o mesmo.
C e C eram homônimos.
C disse: A e B fizeram por O.
na verdade, A e B eram O.
A e B, estupefatos, exclamaram: Ooo.
(ø)


postado em 27 de agosto de 2021, categoria prosa / poesia : , , , , ,

vai que

sonhava com o dia em que iria encontrar uma pessoa, e ela ia ficar pelada. essa pessoa seria linda. e isso ia mudar tudo.

sonhava com uma xícara de café. ia beber um gole dessa xícara. e o café estaria realmente especial. e tudo então adquiriria sentido.

estava em busca da batida perfeita.

guardou dinheiro para ir no show da sua vida.

pensou agora vai.

dando um jeitinho, como o gnomo, se formos devagar, quando estacionamos o carro. afasta um pouquinho o outro carro e o nosso cabe exato na vaga.

dando um jeitinho, quem sabe tudo não transmuta, como na parábola messiânica de benjamin.

ou tudo muda, ou tudo fica igual, mas resplandesce.

vai que.


postado em 23 de março de 2021, categoria prosa / poesia : , , ,

a nova babel virtual e o colapso da máquina

1. a cidade tornara-se um labirinto global em constante expansão, enquanto nós continuávamos recolhidos. na pós-pandemia, reclusos que somos, finalmente entendíamos o valor da permanência. o apocalipse havia chegado e aceitávamos tratar-se de fim de mundo. a revelação viera da separação entre os elementos do binômio economia e saúde. Sustentabilidade enfim: maximizadores autônomos de urbanismo bricoleur nos forneciam os materiais necessários para o condicionamento paulatino rumo a circuitos de digitalização em espiral. a natureza era refeita e não precisávamos mais de sol nem pele, positivamente hikikomoris, e olhávamos para dentro. restáva-nos a infinita tarefa da construção da nova babilônia, imenso playground virtual de perpétua mobilidade daqueles que redescobriam o nomadismo verdadeiro.

2. no seu incrível conto the machine Stops (a máquina para), de 1908, e. m. forster especula uma humanidade cujos indivíduos vivem isolados em abrigos subterrâneos auto-sustentáveis, geridos por um eficiente sistema – a máquina. desdenham tanto o corpo quanto o personalismo, e sua existência toma a forma de um formigueiro cibernético, de fluxos de imagens, pra usar a expressão do vilém flusser. o problema é que não há um completo abandono da prisão de carne para uma nova liberdade. os humanos evitam contato direto, tanto visual não mediado quanto tátil, mas o fazem em uma dependência excessiva dos equipamentos que os circundam, sem entretanto fundir-se a estes. o estado de coisas, depois de um ponto ótimo, reproduz uma mecânica que degenera em atavismo, e o ressurgimento do religioso, no mecanicismo não-denominacional, é um sinal que o colapso se aproxima. a cessação de atividade finalmente dá lugar ao terror inesperado do silêncio informacional. aprender de segunda mão, tomar tudo como mediado, acaba por mostrar que sair da caverna para encontrar o sol não é tanto encontrar as ideias, mas a incorporação das mesmas em coisas. penso que seja uma forma de vida e seus problemas o que torna as articulações valiosas e vivas, em mutação contra a estagnação do puro espiritual.


postado em 23 de dezembro de 2020, categoria comentários, livros, prosa / poesia : , , , , , ,

fonte de babosa

1. compra um terreno

tudo de babosa
maconha de babosa
cocaina de babosa
café de babosa
chocolate de babosa
pinga de babosa
heroína de babosa

2. a fonte da juventude

como no conto, que acredito já ter escrito
ou nas viagens de gulliver
aqui


postado em 12 de agosto de 2020, categoria prosa / poesia : , , ,

o mais belo momento da história ocidental

de repente, aconteceu. o japão, que nunca fora moderno, abraçava o pós-moderno e o tornava fashion. em teoria e prática, frança e usa. lacan e aeróbica. consumindo simulacro e crítica conceitual. nascia o humano novo, 新, sem resíduos modernistas, recalque de estilo, ser-para-a-morte, profundidade. verdadeiro homos ecoenomicus, humano adequado à tecnologia e ao consumo. ao futuro que se materializava. o japão na ponta de lança, a grande bolha, ápice do capitalismo, ampliando rumo ao ponto ótimo, desemprego zero, robôs gigantes, city pop e videogame. o melhor dos mundos e seus fantasmas, compulsões comerciais, já a projetar na sua derrocada, toda bolha estoura, o seu imortal interiorizado, de ficcionalização de mundos e artificialidade idol, relíquias etéreas e vapor.


postado em 23 de julho de 2020, categoria prosa / poesia : , , , ,

top topzeira

1.
pergunte meu top 3 de qualquer coisa
então top tops metatopzeira
2.
mas essa é a terceira vez
que me perguntam topzeira top
3.
a resposta é a mesma
perguntaram há pouco
não deu tempo de mudar
4.
*. top vídeos nóia
*. top revistinhas infantilóides
*. top animes estronchos
5.
é como num auditório tem três competidores
quem apertar primeiro leva
6.
então top qualquer coisa
mas não qualquer top um top 3 qualquer
as 3 coisas mais quaisqueres
top 3 qualquer coisa
7.
*. top 3D tosca
*. top vídeo cocô
*. top topzeira metatopzeira top
8.
que qualquer 3D é tosqueria
e é difícil separar das fezes o cheiro
e metatopzeira é sempre top
9.
muito bem então
esclarecida a questão
vamos top top por aí




(argumento roubado de uma postagem de caroline enilorac)


postado em 24 de junho de 2020, categoria prosa / poesia : , ,

reduplicado

1.
escreveu você é parte da história então venha participar dessa história
disse que a palavra história repetia
mas a história de da história não era a mesma
que a história de dessa história
a diferença era sutil
não estava reduplicado
e nem era tautologia
e além disso lembrem whitehead não há tautologia
e deleuze escreveu um livro
chamado diferença e repetição

2.
de tanto dizerem não reduplique
varie ao invés de repetir
a reduplicação e a repetição repetida
(além da reduplicação reduplicada a repetição
reduplicada e a reduplicação repetida)
viraram recurso poético
os portugueses são uns tautológicos dizem
os brasileiro uns desleixados
e na polêmica lopes x helder é claro que eu voto lopes
(eu gosto muito
não dela
de adília lopes mas dos poemas
dela adília lopes é um pseudônimo
eu nem conheço maria josé da silva vianna fidalgo de oliveira)
mas insisto que
uma tia fuxiqueira mais vale
que um homem de ideias perigosas

(agosto de 2014)


postado em 17 de junho de 2020, categoria prosa / poesia

poemas bobos #2

1.
você só bombas
eu vida pacata

2.
deus me livre ai quem me dera
é tão ruim vou ver de novo

3.
todo mundo tem uma pedra
no caminho

no meu caso um cisto
e meu caminho é o pulso
esquerdo, ele dói
e toco piano mal

nessa vida de mãos cansadas

4.
sua mulher está bem?
depende, comparado com quem?

5.
3,1415etc
queria picolé
recebeu colé


postado em 30 de maio de 2020, categoria prosa / poesia : , ,