eu estava em foz do iguaçu, a ministrar uma oficina de edição de som na unila. então, soube depois. leucemia. antes, entretanto, comportamento louco: após anos sem caçar, pega 2 lagartixas e as come, na minha frente, muito magra mas ágil. esconde-se num banheiro úmido. sabendo o tamanho da bronca, dorme 3 vezes em cima das minhas malas, no quarto. urina num recipiente de plástico jogado no jardim. espera secar um pouco; deita-se em cima. faz tempo que não baba. é outra pessoa. ou vê fantasmas da juventude que não conheci. descanse em paz, mel.
postado em 5 de janeiro de 2018, categoria crônicas : gatos, juventude, leucemia, loucura, morte, necrológio
como era dia das crianças e einstein é pura molecagem, recebi e usei sua máscara. na parte da frente, uma língua à mostra. atrás, fortuitamente, um depoimento sobre o tempo: “a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”. a tragédia pois, é ilusória (dizia simone weil, apud collor: “todas as tragédias que se podem imaginar, reduzem-se, a uma mesma e única tragédia: o transcorrer do tempo”). eu tinha uma camiseta da palestina na bolsa, bem intifada, comprada no al janiah, estabelecimento que possui o melhor doce de pistache do mundo; coloquei-a, uma espingarda da qual brotava a árvore da paz, com um dito que creio ser “o que foi tomado à força, será retomado à força”. de qualquer forma, o cargo da presidência de israel seria pró-forma, e o velho físico o recusou. sentado, com sono, pesquei algumas vezes. terminado o trabalho, 1 hora depois, percebi como as posições das obras na instalação eram coerentes entre si. liberado, agachei-me em uma posição incômoda, subalterna e na verdade, humilhante, para enfiar minha cabeça no buraco presidencial. o próximo trabalhador já estava lá, com um surreal tênis branco, acompanhado de um óculos de realidade virtual, daqueles em que se acoplam celulares.
tudo isso foi no oi futuro flamengo, festival multiplicidade 2025. participei como contratado na instalação do grupo manifestação pacífica. somaram-se à hora sentado na cadeira as 20 horas necessárias para editar os votos da câmara dos deputados quando do impeachment. pelas minhas 21 horas de trabalho, recebi r$89,46, o pior montante por hora da minha vida. a causa era nobre, diziam: ganhar o mesmo honorário que um indivíduo que ao final de um mês, recebe o seu mínimo.
postado em 15 de outubro de 2017, categoria crônicas : al janiah, albert einstein, dia das crianças, doce de pistache, fernando collor de mello, honorário, impeachment, intifada, israel, manifestação pacífica, multiplicidade 2025, oi futuro, palestina, presidente, salário mínimo, tempo, tragédia
1. #pokemonparanoia
2. “o que é o alfabeto para você?”
3. #365diasdesexo
4. “tudo dá pra definir. mas definir nunca é fixar, porque a mente não é um papel.”
5. “contata improvisa vai descendo até o chão”
6. “primeiro, lavar a louça. depois comer. aí então cozinhar.”
***
* a epilepsia foto sensível é extremamente rara, mas há um prazer de colocar avisos – é como se você tivesse poder, como se pudesse realmente causar algo violento; * com matheus preto albatroz dutra e/ou – chegamos à conclusão que não concordamos; * não lembro o conteúdo real da frase da maria caram, mas me pareceu um bom projeto para um quarentão desocupado; * imagino a renata campos pensando com essa cara :s, o seguinte: “obrigado iwao, que explicação linda”; * lembrei dessa canção de 2003 esses dias – juliana frança, que talvez a tenha inventado, curtiu no face, mas duvido que pratique; * paródia de um suposto provérbio japonês contado por eizaburo, meu vô: “de manhã planeja, de tarde trabalha, de noite descansa”.
postado em 10 de setembro de 2017, categoria crônicas : alfabeto, contato improvisação, definição, epilepsia, louça, pokemon, provérbios, sexo
bem, seu cartão não passa e então deve comprar passagens na hora, para chegar em BH antes das 17h30 na loja a qual seu computador encontra-se em manutenção. na noite do sábado ninguém comprou nada, então ok, mas às 7h30 da manhã da segunda já não há mais cometas, apenas um util 9h (união transporte interestadual de luxo s/a nove horas) que resolve cobrar 35% a mais pelo fato de não haver cometas.
é o rio de janeiro, então a passagem de volta já é 40 e tantos por cento mais cara, devido a (tarifas municipais?). serto. o ônibus é executivo, porém o que é “executivo hoje em dia, não?” podemos dizer que um convencional seja executivo, se quisermos. “podemos” (e não nos dar o trabalho de repor os copinhos de água no frigobar do translado). e no site constava a miraculosa chegada às 15h. ora(s). perfeito, só que não, porque chegou após o ônibus de mesmo horário da viação competidora. não que eu morra de amores por ela, mas tive de correr para pegar o metrô e o computador do qual escrevo agora.
postado em 19 de junho de 2017, categoria crônicas : cometa, competição, executivo, taxas, transporte, util, viações
1. ao nascer, dormi por praticamente 2 anos. minha mãe tinha de verificar se eu estava vivo ou presente, de quando em quando. alguns anos depois, sofri de terror noturno e tive pesadelos todo dia durante 6 meses, além de sonambulismo (subia e descia as escadas correndo). meu pesadelo predileto era subir a escada em espiral de uma torre, sem nunca chegar a lugar algum.
2. aos 2 anos de idade cai de um fosse de teatro de 3 metros, batendo a orelha. as tias gostam de contar a história de como meu vô heroicamente me socorreu, saltando em seguida no abismo. o causo poderia facilmente recair sobre alguma história de como o mesmo vô perdeu um primo, ou na discussão sobre saber se ele ficava 1 hora de ponta cabeça para depois poder beber, ou se por beber, ele ficava 1 hora de ponta de cabeça para recuperar-se.
3. na quinta série comecei a escrever uma história de aventura fantástica cujo personagem principal chamava-se vrum, que seria repleta de intrigas palacianas e poderes mágicos, como uma fusão de x-men, cybercops e literatura juvenil como berenice detetive e outros de joão carlos marinho. um dos fatos marcantes na minha vida emocional foi perceber que eu não era tão talentoso ao entender que nunca a terminaria. o mesmo se deu quando comecei a escrever um concerto para piano quando da oitava série. talvez a demora para lançar as coleções digitais tenha secretamente alguma ligação com isso.
4. meu ódio por cigarro era tão grande que eu expulsava colegas dos meus pais não apenas de dentro da casa mas da parte coberta da garagem, com 8 anos. anos depois namorei uma fumante. depois descobri que diferentes linguas absorvem diferentemente diferentes cigarros, mas sem cigarro é sempre bem melhor. uma das minhas primeiras formulações da ideia de que o mundo está tão bom quanto pode ser foi devido a essa aversão (inteiramente justificada).
5. sempre tive um lado romântico (lê-se: imaturo). uma vez, arrasado, no corredor da entrada do curso de dança da unicamp, acabei enfiando um estilete na minha perna direita. apesar de ter ficado pendurado, o corte foi plenamente irrelevante. frequentei bastante esse local, mas não tive meus 3 meses de aulas de balé clássico aí. quando cursei 1 ano de moderno, holly cravell disse “let the fingers walk”. há um desenho de um telefone com esses dizeres no meu quarto, dentro de uma pasta.
6. passei anos inteiros sem derramar uma sequer lágrima. lembro de algumas das vezes que chorei, como quando na escola, ao saber que minha vô yolanda tinha falecido. a vez que mais chorei foi em 2016. tinha pego dengue, mas era um dia apenas de fadiga e rede. foi um dos melhores dias da minha vida: como finalmente poder expressar uma imensa fragilidade. estava lendo “o chamado da selva”, de jack london, um livro sobre um cão.
7. aos 13 anos fui vice-campeão da copa nescau de hokey in-line, jogando pela ponte preta no limits. uma vez sonhei que conseguia fazer um “score” no goleiro do são paulo. na final do campeonato paulista perdi a oportunidade. me contundi seriamente em um treino e com o braço enfaixado, recusei a viajar com os colegas na formatura da oitava série. passei pelo menos os próximos 20 anos com inflamações nos pulsos, e já me foi indicado que teria artrose precoce mais de uma vez. quando minha família foi à espanha, preferi ficar lendo, em casa.
8. no dia 06 de junho de 2006 mandei imprimir 666 cópias de um texto contendo 66 nomes para o diabo, usando uma impressora remota no mesmo prédio que o departamento de plasmas. como a obra consistia apenas na ação, nunca fui buscar o papel, mas fui descoberto e o diretor do instituto no qual estudava me forçou a pagar uma multa. por um erro de configuração de página, seriam R$74 pois 740 delas. aquilo era impensável, de modo que paguei apenas a quantidade correta, com 6 notas de R$10, 6 de R$1 e 6 moedas de dez centavos. colei na porta do auditório uma nota explicativa. ninguém deu muita bola, mas de alguma forma eu e mário del nunzio conseguimos convencer a nossa turma a eleger maurício florence como paraninfo. demos um cachimbo e um livro do sherlock holmes como presente. ainda me orgulho dos meus presentes.
9. eu tive uma fase rosa, tal como picasso, mas infinitamente mais sem talento. nunca tive paciência alguma para a pintura, e quando criança me recusava a sujar minhas mãos, o que poderia me explicar meu amor por glenn gould. mas já fui fanático por “all overs” (tanto quanto por william blake ou por kafka, o qual queimei todos os livros que tinha em uma fogueira, junto a vinis do miles davies). da minha coleção de 70 bichos de pelúcia, o que mais gostava era preto, mas o bicho mais importante não.
10. uma vez eu defini minha música composta como “complicada mas não complexa”. quando jogava magic the gathering meu baralho tinha basicamente a função de matar de tédio o oponente, com stasis e às vezes alguma criatura trambolhenta como taniwha. basicamente eu tinha reinventado o turbo stasis mas querendo puxar o freio de mão. entretanto, sempre detestei jogos inerentemente lentos, como war e nunca joguei xadrez bem. quando finalmente me encantei pela música, parei de jogar videogame, achando a partir dali aquilo muito entediante. esportes competitivos também perderam todo seu charme agonístico.
postado em 21 de abril de 2017, categoria crônicas : 666, baleia azul, choro, cigarro, fosso, hockey, joão carlos marinho, magic the gathering, pelúcia, romance, romantismo, rosa, sono
lançaram um jornal do globo (falso) no qual o editorial reclama de um suposto jornal falso do globo (inexistente), expondo assim toda a ideologia do verdadeiro globo (não publicado).
postado em 2 de abril de 2017, categoria comentários, crônicas : falsidade, ideologia, jornal, mídia, o globo
A: o esqueminha ter filho contra a ideia de ter dois caras. e daí aquela coisa: se tiver filho, vai ser de quem? vão ser dois papais?
B: ah, mas sempre pode ter o primário e o secundário. o problema dos humanos é essa coisa baleia do filho ter de ficar grudado durante anos na mãe.
postado em 25 de março de 2017, categoria crônicas : baleia, bigamia, filhos, mamíferos, primado
escolho viajar na segunda-feira, na perspectiva de um ônibus vazio, então silencioso e uma estrada vazia, então tranquila – pela internet só mais 3 pessoas reservaram lugares. chegando lá, ao entrar no ônibus, vejo um jovem rapaz, de uns 25 anos, óculos escuro, malandragem-do-bem, sentado no assento 30. eu lhe informo: minha passagem é no 29 (a sua é no 30 mesmo? ele faz que sim). indignado, mas sempre cético, levanto o olhar pros lugares de novo: não há nem mesmo metade deles ocupados; por que raios alguém escolheria um lugar ao lado de um ocupado?! não aguento e dou bronca, inutilmente; contrariado, ocupo o 25 e minha mochila o 26.
passados dois terços da viagem o motorista avisa: olha, tem um acidente na estrada, vamos ficar parados, certo? (que bom ele avisar, mas o tom de “a culpa não é minha” irrita, chega a perguntar “o que vcs acham?” bom eu acho ruim, mas é melhor esperar na estrada do que esperar no gral, certamente). olho para os dois assentos logo do outro lado do corredor, aquela loira que esbarrou em mim na parada, estabanada, passados 40 anos, com jeito de carente, meio perdida e ansiosa, semi deitada na diagonal. um pensamento vem, intuído: ela está procurando alguém, ela quer sexo, aquele rapaz gostaria de ter seu lugar sorteado ao lado dela, como quem pensa “vai que eu sento do lado da mulher de meia idade carente, eu, jovem ingênuo e otimista”. imediatamente solto um “pqp” mental. isso vai acontecer. adeus viagem agradável, eles vão escolher sentar atrás de mim e ficar interminavelmente falando sobre a vida (dela).
20 minutos depois o ônibus para e a primeira coisa que faço é olhar para o lado. em instantes, de fato, eles começam com o básico, um para o outro: “será que vai demorar muito?” “ainda faltariam 3 horas de viagem, estava tão tranquilo, que azar” e “bom meu nome é”. fico me perguntando por que não iniciariam a conversa com “que bom que o ônibus parou, acidentes são como empurrãozinhos não é mesmo, posso agora falar de como eu estou finalmente me afastando da minha família e procurando outros relacionamentos, da história com meu ex-marido, minha filha, os ciúmes, beijo no ombro dele, é, você é charmoso etc”. mas no fundo, tanto faz. tiro meus protetores auriculares, que não são suficientes e escolho ouvir música, tentando mascarar a conversa (similarmente, mais um homem e uma mulher começaram a conversar, mas mais à frente, com um tom menos promissor).
saio do ônibus e espero lá fora, até ele dar a partida. sento e 30 minutos depois, eles ainda estão animadamente conversando, mas, e nisso me enganei, mantiveram seus lugares. falam alto, um de cada lado do ônibus. desisto e vou sentar no último assento, logo à frente do banheiro. melhor amônia, xixi do que humanos. ah… 人間だ.
postado em 4 de março de 2017, categoria crônicas : acidente, comportamento, estrada, ônibus, sedução
ao contrário do que teorizei em 2013, o não-bloco, agora que pude observá-lo caminhando durante algumas horas no domingo, do centro cultural são paulo até a paulista, descendo até o centro e virando para a república, apresenta-se como uma solução tipicamente paulista para as aglomerações carnavalescas. há sempre uma expectativa, mas em nenhum ponto do trajeto uma realização: pessoas semi-embriagas caminhando em direção a “mais caminhadas”, de uma felicidade contida, do deslocar-se, às vezes quase dançando – pequenos fragmentos de canto e coreografia; um clima de possibilidades (tensão de briga, olhares ansiosos por azaração), mas ao fim, conscientes da sensação de que há um objetivo virtual (o bloco), que é mero pretexto para o atual (o não-bloco), e que na verdade, esse último, que seria condição de existência para o primeiro, encontra-se aqui estável, invertendo a relação.
ânsia de poder como desaparecimento? segue uma pequena lista de momentos divertidos:
- um senhor de 70 anos de idade vestindo uma camiseta larga branca, com bolinhas vermelhas, toca mp3 pendurado no pescoço, fazendo uma dança ridícula, mas com um balde ao lado, para que os transeuntes depositassem dinheiro.
- um senhor de 60 anos de idade parado em uma escadaria, impassível, com óculos escuros e terno, segurando a coleira de seu cachorrinho de pelúcia (mas vejam, ela rompeu-se, a qualquer momento o dog pode escapar (?!)).
- na frente do novo shopping (cidade?) plantaram alguns pau ferro, em buracos minúsculos. os paisagistas (?) sabem que essa árvore cresce bastante e por vezes cai, não? (imaginei isso acontecendo)
- uma jovem de 20 anos de idade com a boca muito aberta e a língua inteiramente para fora, em pose pornográfica que no momento parecia ter sido realizada para tentar irritar dois rapazes hipócrito-libertinos, que se afastaram em seguida.
- uma tentativa de formação de bloco, ao som de enter sandman, próximo ao anhangabaú, com uma adesão distanciada e não coordenada (aquele grupo estaria tentando dançar axé?).
postado em 27 de fevereiro de 2017, categoria comentários, crônicas : atual, carnaval, não-bloco, possibilidades, são paulo, virtual
em um serviço de localização na internet, bruno descobre um nome para a cachoeira: cachoeira secreta. na pequena trilha de entrada, sua amiga alerta: está cheião – o jeito é subir pelo rio, 300 metros, tal como explorado nas fotos via satélite (as partes brancas são quedas). a segunda das três gera uma espuma que se faz e desfaz periodicamente, subindo nas rochas. o sol é refletido e há tanto riscos de luz branca, ziguezagueando frenéticos, quanto uma coloração âmbar, tingindo a pequena queda. sentamos e somos massageados. na volta, sumodjo lembra de quando ia pular no lago e perguntou, aqui dá? ao que responderam – um cara acabou de morrer aí, olha o chinelo dele.
de volta, em casa, a ideia era preencher as imagens com os nomes cachoeira secreta 1.2 e cachoeira secreta 1.3. mas no dia seguinte, quando outros tentaram entrar, a passagem estava fechada e dizem terem vistos capangas. propriedade particular é facão na mão.
postado em 17 de janeiro de 2017, categoria crônicas : botucatu, cachoeira, cachoeira secreta, capanga, geolocalização, propriedade privada, segredo