1. se a xícara queima sua mão, o chá queima sua língua.
2. de manhã, planeje. de tarde, trabalhe. de noite, descanse.
3. não importa o quê: depois de 10 anos, você sente que começa a entender.
postado em 28 de setembro de 2017, categoria aforismos : entendimento, planejamento, provérbios, temperatura, tempo
1. um poema
barrar o devir
expiar a experiência
domar a loucura
arte contra a vida
2. são notórias as reclamações de bataille contra o (segundo) surrealismo, ou o “surrealismo estético”. não sei se ele teria previsto o quão rápido seria a apropriação ou o paralelismo publicitário nesta direção, produzindo um misto de arte e vida contra a vida. mas ele estava suficientemente consternado com um tipo de arte expressiva, a ponto de escrever:
se um homem começa a seguir um impulso violento, o fato de exprimi-lo significa que renuncia a segui-lo ao menos durante o tempo de expressão. A expressão exige que se substitua a paixão pelo signo exterior que a figura. Aquele que se exprime deve, portanto, passar da esfera ardente das paixões à esfera relativamente fria e sonolenta dos signos. Em presença da coisa exprimida, é preciso, portanto, sempre se perguntar se aquele que a exprime não prepara para si mesmo um profundo sono.
{georges bataille, a loucura de nietzsche, trad. fernando scheibe, editora cultura e barbárie, achephale vol. 5, p.9}
em relação à impostura de “um pesadelo que justifica roncos”, nada mais frouxo e distanciado da loucura, de tornar-se vítima de suas próprias leis. eis a potência da arte expressiva: normalizar.
postado em 24 de setembro de 2017, categoria aforismos, prosa / poesia : arte, expressão, georges bataille, loucura, surrealismo, vida
é a obra de arte total do povo.
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Die Ehe Trauung ist das Gesamtkunstwerk des Volkes.
postado em 28 de agosto de 2017, categoria aforismos : arte total, casamento, gesamtkunstwerk, povo
é comum que alguém, vira e mexe, pergunte-se porque músicos em geral são tão desengonçados para dançar. afinal, eles não deveriam dançar bem, sabendo o ritmo? mas quem disse que ritmo era um conceito capaz de unificar fora da mente e da abstração duas práticas tão diversas quanto música e dança? (imagine que se diz de um ciclista: mas porque ele corre tão devagar, se pedala tão rápido?).
postado em 11 de julho de 2017, categoria aforismos : ciclismo, conceito, corrida, dança, gramática, música, ritmo
christian wolff dizia sobre tocar notas que não importava o que você fizesse, acaba soando como uma melodia. nas reviravoltas da história e nas intrigas políticas sempre queremos enxergar um plano, vislumbrar uma estratégia, e as coisas sempre acabam tendo um motivo (pense nas fases do espírito). ademais, dada uma sequência de números qualquer, um padrão é inevitável. isto é, o padrão é a forma da nossa apreensão de uma sequência. da mesma forma, não importa o quão reprodutível, despersonalizada e genérica uma obra artística seja: acaba tendo aura. essa sombra monadológica.
postado em 10 de junho de 2017, categoria aforismos : aura, christian wolff, história, melodia, mônada, motivo, padrão, walter benjamin
é só muito ocasionalmente as figuras do herói e do vencedor coincidem. pois são ideais que muitas vezes se opõem, como quando se diz que um tem as potências do inédito e outro as possibilidades do efetivo. quer dizer, nada decepciona tanto o adolescente em nós quanto quando um herói finalmente vence. sua batalha deveria ser eterna ou condicionada pelo desaparecimento de ambos o sujeito e a ocasião, ou ao menos por uma derrota do sujeito. o mundo é dos vencedores, mas é preciso destruir o mundo. nada pior do que alguém que deseja vencer na vida para alguém cuja frase “seja herói” já ressoou fundo no coração. derrotando o vencedor, seja ele outro ou uma tendência em si mesmo, o herói não vence mas sim exclui a possibilidade da vitória. no plano da arte contra a cultura, certamente o herói está no lado da arte.
postado em 4 de junho de 2017, categoria aforismos : arte contra a cultura, herói, heroísmo, mundo, vencedor, vitória
a verdadeira competição é contra si mesmo? mas quem garante que o competidor não esteja competindo contra si mesmo contra o outro? (pense nas vantagens de níveis mais altos de psicopatia – no fato de que não precisam vencer o preconceito interno de que é preciso jogar limpo). e a grande sacada: se você conseguir institucionalizar algo, mas de forma que a instituição gire em torno de si, dos seus interesses – a longa vitória.
postado em 7 de maio de 2017, categoria aforismos : auto-superação, competição, instituição, psicopatia
com dinheiro no bolso e comida na mesa, vamos negociar: i’d prefer not.
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quantos empregos são empregos de merda? e que tipo de simetria é necessária para estabelecer uma relação de competição do ponto de vista do empregador: aqui o seu trabalho tem valor, aqui a sua vida não será medíocre etc.
postado em 4 de maio de 2017, categoria aforismos : bartleby, bullshit jobs, david graeber, herman melville, jonathan parker, negociação, o escrevente, trabalho, trabalhos de merda
muitas pessoas adotam posições amenas em que, providencialmente, se omitem enquanto participantes. a observação mais perspicaz que conheço sobre isso é a anedota do congestionamento.
um sujeito, preso em um congestionamento, liga para seu colega de trabalho, dizendo: “vou chegar atrasado. é que estou aqui ajudando a congestionar a via com meu carro.”
no meio artístico é comum que se fale e faça muita arte contra a cultura, querendo dizer: contra a cultura dos outros, não a minha. de modo que o artista nunca fica perplexo em relação ao que fez, ou angustiado; seus amigos sempre podem ir aos seus shows e exposições mantendo um sorriso leve no rosto e curtir. há quem fale de um entretenimento “superior”. ninguém nunca vai comentar que você “forçou a amizade”.
postado em 21 de abril de 2017, categoria aforismos, comentários : amizade, arte, congestionamento, cultura, outrem, participação
diz-se do cavalo hans: não é que sabia matemática, apenas lia as mentes das pessoas; de modo que, se tivesse de responder a ignorantes quanto era 91 dividido por 7, dificilmente bateria a pata 13 vezes. mas se o desafiador fosse sábio, sim. pois a mente era lida no corpo, antes mesmo de poder ser acessada na consciência. e isso era “verdadeiramente racional” – as patadas o demonstraram. assim, sobre a intuição:
se o corpo fala, que diga o cavalo.
postado em 11 de março de 2017, categoria aforismos, comentários : cavalo, der kluge hans, hans, intuição, leitura, mente, o corpo fala