dinheiro e risco

para todos aqueles que não conseguem fazer as tarefas colocando nelas aquele mínimo de paixão que permite a alguém adoecer por elas e angustiar-se, o dinheiro serve como método compensatório: aqui, ali, aposto também minha vida, um pedaço dela.

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na minha adolescência,essa tese vinha acompanhada da característica colocação aristocrática-juvenil da superioridade de tudo que não envolvesse ganhos. porque as pessoas ignorantes, pensava eu, invertiam a questão: “para que se arriscar se aquilo gerará perdas?” – o contra-senso era: o dinheiro já era a nostalgia do risco. é claro que essa posição era sustentada por um desconhecimento tanto da vida daqueles que não tem dinheiro algum, quanto daqueles que têm sobrando.


postado em 8 de março de 2018, categoria aforismos : , , , ,

ramos do conhecimento

talvez seja mais fácil para as pessoas perceberem que a medicina é um ramo da veterinária do que perceber que matemática teórica é um subgrupo da matemática aplicada.


postado em 19 de fevereiro de 2018, categoria aforismos : , , , ,

um koan de presente

renata me pediu um koan de presente. eu lhe disse que daria um koan não dando um koan. mas isso ainda não era um koan. isto sim.


postado em 22 de dezembro de 2017, categoria aforismos : ,

a ideia / a foto

1. nos faz prometer muito mais do que é possível cumprir.

2. nos faz lembrar que não nos esquecemos.

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o homem é um projeto? se não, é preciso ter a fotografia mas não a foto. e deixar fluirem as ideias até que o rastro seja tênue ressonância.


postado em 11 de dezembro de 2017, categoria aforismos : , , , , , , , ,

velocidade no trabalho

como eu sou uma pessoa que não acredita na lentidão no trabalho e que evita ponderar sempre que pode, tenho de distribuir aqui e ali tarefas repetitivas, seja estafantes ou simplesmente copiosas. deep working? i’d rather go surface tinkering. either way, “let the brain do the job”.


postado em 1 de dezembro de 2017, categoria aforismos : , , , ,

alma

ter uma alma significa primeiro que não somos essencialmente nosso corpo, mas logo depois, que tampouco somos nossa mente e consequentemente, que não somos essencialmente nosso ego. ter uma alma, portanto, implica eu ≠ eu. o profundo e o superficial. como essência, quer indicar um descentramento constitutivo, ou seja, uma estabilidade puramente formal, e a nossa liberdade não é, em verdade, nossa. uma determinação que não nos diz nada é uma ótima oportunidade de forjar deveres. mas os deveres só valem pra outrem.


postado em 27 de novembro de 2017, categoria aforismos : , , , , , , , ,

o tamanho dos seres

intelectualmente, não teríamos grandes questões éticas se seres alienígenas muito grandes invadissem a terra e começassem a indiscriminadamente matar os pequeninos humanos e a limpar terreno, varrendo construções e cidades inteiras. não deixaríamos de protestar, reclamar, vociferar e desesperar. mas como muito bem colocou william blake: “o verme cortado perdoa o arado”.


postado em 17 de novembro de 2017, categoria aforismos : , , , , , ,

quanto ao excesso de sentido da vida

1. a arte reduz/fixa
2. a ciência desloca/elimina
3. a filosofia circunscreve/delimita


postado em 1 de outubro de 2017, categoria aforismos, prosa / poesia : , , , , ,

provérbios japoneses

1. se a xícara queima sua mão, o chá queima sua língua.

2. de manhã, planeje. de tarde, trabalhe. de noite, descanse.

3. não importa o quê: depois de 10 anos, você sente que começa a entender.


postado em 28 de setembro de 2017, categoria aforismos : , , , ,

arte contra a vida

1. um poema

barrar o devir
expiar a experiência
domar a loucura

arte contra a vida

2. são notórias as reclamações de bataille contra o (segundo) surrealismo, ou o “surrealismo estético”. não sei se ele teria previsto o quão rápido seria a apropriação ou o paralelismo publicitário nesta direção, produzindo um misto de arte e vida contra a vida. mas ele estava suficientemente consternado com um tipo de arte expressiva, a ponto de escrever:

se um homem começa a seguir um impulso violento, o fato de exprimi-lo significa que renuncia a segui-lo ao menos durante o tempo de expressão. A expressão exige que se substitua a paixão pelo signo exterior que a figura. Aquele que se exprime deve, portanto, passar da esfera ardente das paixões à esfera relativamente fria e sonolenta dos signos. Em presença da coisa exprimida, é preciso, portanto, sempre se perguntar se aquele que a exprime não prepara para si mesmo um profundo sono.

{georges bataille, a loucura de nietzsche, trad. fernando scheibe, editora cultura e barbárie, achephale vol. 5, p.9}

em relação à impostura de “um pesadelo que justifica roncos”, nada mais frouxo e distanciado da loucura, de tornar-se vítima de suas próprias leis. eis a potência da arte expressiva: normalizar.


postado em 24 de setembro de 2017, categoria aforismos, prosa / poesia : , , , , ,