1. um poema
barrar o devir
expiar a experiência
domar a loucura
arte contra a vida
2. são notórias as reclamações de bataille contra o (segundo) surrealismo, ou o “surrealismo estético”. não sei se ele teria previsto o quão rápido seria a apropriação ou o paralelismo publicitário nesta direção, produzindo um misto de arte e vida contra a vida. mas ele estava suficientemente consternado com um tipo de arte expressiva, a ponto de escrever:
se um homem começa a seguir um impulso violento, o fato de exprimi-lo significa que renuncia a segui-lo ao menos durante o tempo de expressão. A expressão exige que se substitua a paixão pelo signo exterior que a figura. Aquele que se exprime deve, portanto, passar da esfera ardente das paixões à esfera relativamente fria e sonolenta dos signos. Em presença da coisa exprimida, é preciso, portanto, sempre se perguntar se aquele que a exprime não prepara para si mesmo um profundo sono.
{georges bataille, a loucura de nietzsche, trad. fernando scheibe, editora cultura e barbárie, achephale vol. 5, p.9}
em relação à impostura de “um pesadelo que justifica roncos”, nada mais frouxo e distanciado da loucura, de tornar-se vítima de suas próprias leis. eis a potência da arte expressiva: normalizar.
postado em 24 de setembro de 2017, categoria aforismos, prosa / poesia : arte, expressão, georges bataille, loucura, surrealismo, vida
sobreviver : talvez de fora não se veja
a opacidade da presença é também
a opacidade da ausência
cada pequena ação, como uma marionete
uma vitória sem sentido
entretanto
a barriga conduz o homem
e o tempo dissolve o drama
que mesmo com seu desejo de queda
e sonhos de lama e escuridão no abismo
a vontade soberana empurra
e seduz da pior forma possível
monotonia:
insista só mais um pouco
a melancolia de uma vida medíocre
o sorriso de uma nova chance
e de novo
postado em 9 de agosto de 2017, categoria prosa / poesia : abismo, depressão, desejo, lama, mediocridade, melancolia, produtivismo, vida, vontade
stalin disse uma vez: “a solução final é o extermínio da raça humana”. morte, onde justamente não estou. se alguém pensasse que talvez só o extermínio da humanidade fosse necessário, logo se lembraria que essa solução seria apenas parcial. a destruição total: a manutenção de tudo tal qual; a admissão que as coisas são. vida, a cada instante, pedindo o redescobrimento do entusiasmo. o céu infinitesimal, o inferno infinito. mas tanto num como noutro, também não estou, tampouco estarei.
[comunicado no.6 do undo]
postado em 14 de junho de 2013, categoria aforismos : destruição total, josef vissaniorovitch stalin, morte, solução final, soluções, undo, vida
há dias em que só a morte aparece como solução. nesses dias, é preciso parar de pensar em termos de soluções. pensar em vivências, por exemplo.
postado em 12 de junho de 2013, categoria aforismos : morte, soluções, vida