o mundo já havia acabado. naquela mesa o lance de dados sempre obedecia a uma progressão aritmética. naquela velha mesa, tiras de madeira gastas, esburacadas, naquela casa, naquela praça, naquele quarteirão, ruas de asfalto gasto, esburacadas. progressões aritméticas. das árvores na rua, dos cestos de lixo na rua, dos postes na rua, das ruas no quarteirão, dos quarteirões no bairro. foi passeando e notando que desde então, desde o fim do mundo, tudo sempre obedecia a alguma progressão aritmética. foi passeando e notando que ele vislumbrou a possibilidade da grande morte. da morte que encerraria tudo. encerraria a sequência de todas as sequências. e que todas as sequências encerradas, seriam aritméticas.
[dias sem dia di dis do undo]
[dos rascunhos, fevereiro de 2014]
postado em 9 de dezembro de 2024, categoria prosa / poesia : aritmética, lance de dados, undo
era um bebe que nasceu falando. os cérebros das pessoas acharam aquilo tão absurdo que imediatamente converteram aquela fala bem articulada (significados) em ruídos e balbúcios sem sentido.
o dia ia começando cada vez mais tarde. um pouquinho aqui, um segundinho ali. o objetivo do dia era virar noite sem que ninguém percebesse, invertendo. a noite o acompanhava, indulgente. para ela não importava. continuaria tudo o mais 12 por 12.
em um determinado dia, finalmente O EVENTO: tudo o que era azul passara a ser verde e tudo o que era verde passara a ser azul. então, nada de verdul ou azerde. as pessoas, entretanto, agora chamavam as cores por nomes trocados.
como a mente e o corpo são distinta e claramente separadas, então essencialmente díspares, um corpo de homem em uma cena, sua dome a torturá-lo, SSC etc, sofria, enquanto sua união com a mente jubilava, e sua mente pensava na falta de necessidade ontológica para a existência da palavra de segurança.
era uma estrela negra, a black star, non shining, sem brilhar, não brilhando naquela noite noturna, em toda a sua ominosa sombrietude. no céu, pontos luminosos. mas não ela.
kim jong-un estava primeiro a olhar coisas. depois passou a não-olhá-las. passou a se chamar kim jong, mas apenas secretamente.
ao se tornar imperador supremo, seria lhe outorgado finalmente o selo mental que dizia: agora, desde agora, a partir e então, todos os seus pensamentos são e serão seus, de você.
antes do undo as vores eram vores e depois do undo.
***
(essa série, apesar das datas das postagens, é de dez 2012, jan 2013. vide)
postado em 5 de fevereiro de 2019, categoria prosa / poesia : bdsm, black star, corpo-mente, grue, gx jupitter-larsen, histórias, kim jong-un, linguagem, ludwig wittgenstein, nelson goodman, noite e dia, rené descartes, undo
mais de dois nos atrasados, recebo o comunicado 5.
se a realização total é o aniquilamento, então a destruição total só pode ser a não realização, a realização de nada, a absoluta não realização.
se por paramnésia reduplicativa chamamos a crença de que um local foi duplicado, existindo simultaneamente em dois, então nosso mundo foi desfeito e assim, bifurcado; estamos no duplo deslocado. doppelgänger de nós mesmos, seguimos sonambulando.
há décadas, capgras pode ter descrito um delírio muito específico, da substituição de pessoas próximas por sósias idênticos. delírio ou não, philip k. dick já alertava: “até mesmo um paranóico tem inimigos”.
#somostodoshomensdopântano
postado em 16 de março de 2016, categoria prosa / poesia : absoluto, aniquilação, doppelgänger, homem do pântano, paramnésia, paranóia, síndrome de capgras, sonambulismo, undo
existem causas que exibem o mesmo efeito. inexistência e omnipresença, por exemplo.
postado em 26 de maio de 2014, categoria aforismos : causa, efeito, inexistência, omnipresença, undo, xylowave
stalin disse uma vez: “a solução final é o extermínio da raça humana”. morte, onde justamente não estou. se alguém pensasse que talvez só o extermínio da humanidade fosse necessário, logo se lembraria que essa solução seria apenas parcial. a destruição total: a manutenção de tudo tal qual; a admissão que as coisas são. vida, a cada instante, pedindo o redescobrimento do entusiasmo. o céu infinitesimal, o inferno infinito. mas tanto num como noutro, também não estou, tampouco estarei.
[comunicado no.6 do undo]
postado em 14 de junho de 2013, categoria aforismos : destruição total, josef vissaniorovitch stalin, morte, solução final, soluções, undo, vida
houve natal, e depois dele, ano novo. foram-se os dias. chegou a páscoa tanto quanto passou. houve um novo ano novo. todas tentativas vãs, antigas, inoperantes.
[comunicado no. 6, do undo, grande no, perpétuo ia, 01 de abril de 2013 do mundo]
postado em 1 de abril de 2013, categoria histórias : ano novo, undo
nesse dia 10 de janeiro [a que dissimuladamente chamamos de 31 de dezembro] é sempre bom lembrar que, tal como não houve natal, não haverá ano novo. no undo, a que dissimuladamente nos referimos ainda como mundo, ao dizer “2012” significamos “0000”, ao dizer “feliz ano novo”, queremos apenas dissimular a destruição total acometida, sutilmente.
entretanto, entendemos que todos esses costumes, já mortos e decadentes, escondem um desejo real, qual seja: de que os dias sejam bons, de que sejam ótimos, de que sejam excelentes, de que sejam ruins, de que sejam péssimos, de que sejam nulos, que contenham alegria, tristeza, angústia, felicidade, calma, raiva, loucura, normalidade, apatia, alienação, entusiasmo, engajamento, responsabilidade. enfim, que os dias sejam dias, de todo o coração.
assim, por dia, entendemos o valor da continuidade, por natal e ano novo queremos dizer “acostumar-se, habituar-se – fazem parte da nossa vida”. de que ao dizer “feliz ano novo”, simulamos e assim inventamos um ciclo, a espiralar continuamente, mesmo quando não há nem continuidade, nem espiral, mas apenas ruptura e imobilidade.
“todos os anos são o ano”: o que isso significa? que há apenas um único ciclo, imóvel porque inteiro mobilidade – o grande não, o no do undo, um no que afirma nossa existência presente. diríamos “feliz mundo novo” se dizer isso não fosse errado e invonveniente. pois o undo faz-se justamente desfazendo-se; estabelece-se na dissimulada continuidade de um mundo já acabado.
[comunicado do undo no.4, ia único do no único o grande no, perpetuamente: não há futuro, por mais que dissimulemos o hoje no amanhã]
postado em 31 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : ano novo, dissimulação, futuro, george berkeley, natal, o grande não, simulação, undo
5773 do ano judaico; 2013 do ano cristão; 4710, 4709, ou 4649 do ano chinês do dragão; 25 da era heisei; ano zero zero zero zero do novo undo.
todos os anos são o ano. o único ano. o que há. o no. só há um. o único e perene no.
o ano novo foi cancelado. viva o grande no. the great não.
[comunicado do novo undo no. 3, 09 de janeiro do zero zero zero zero; calendário pós-maia do undo, ano perene no]
postado em 30 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : ano novo, monismo, no, o grande não, undo
i. uma onda tão devastadora que destrói tudo, mas também, e inclusive, a sua própria destruição.
ii. a destruição total é o duplo negativo.
iii. duante-ontem aconteceu uma destruição total.
iv. não apenas o mundo findou, mas tudo e o próprio fim.
v. o natal e o ano novo estão cancelados.
[comunicado do novo undo no. 2, três de janeiro do zero zero zero zero; calendário pós-maia do undo]
postado em 24 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : destruição total, duplo, negativo, undo, xylowave
1. ontem o mundo velho acabou. hoje um novo começou. feliz mundo novo.
2. a transição drástica, embora possivelmente imperceptivelmente drástica, se deu num átimo, num instante.
3. sugiro um novo nome para o mundo, qual seja: “undo”.
4. dado que o undo passado findou, sendo este agora o verdadeiro undo, e sendo o primeiro dia do undo, hoje é o primeiro de janeiro do novo janeiro do novo ano primeiro do undo (aqui chamado de “um do um de zero zero zero zero”).
5. consequentemente, não haverá natal, nem ano novo, a não ser que, por hábito, sejam mantidos; de qualquer forma, ocuparão a posição habitual no calendário, que de todo, permanece estruturalmente o mesmo, ou seja – só haverá natal e ano novo em dezembro do ano 0000, daqui a pelo menos onze meses.
(fica assim cancelado o natal e ano novo, como consequência do fim do antigo undo; dada a inexorável imperceptibilidade do evento, ainda assim, por descuido, são previstas ocorrências de atais e anos ovos nos próximos dias)
6. parece mais adequado, ademais, que os dias tenham 22 horas de duração, denominadas “oras” dado o estado do undo, de modo que um dia tenha 22 oras.
7. a desaceleração mental procedente envolve a rede de unidades do mundo: 1 egundo será, aproximandamente e de modo correspondente, 91.67 por cento mais lento que o segundo.
8. 60 b.p.i. é, portanto, equivalente ao antigo 55 b.p.m.; os metrônomos todos e relógios deverão ser refabricados.
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legenda: [mito do recomeço] / [teoria da transição como uma mônada nua] / [valoração nominalista] / [proposição de translação dos dias em 11 unidades] / [consequente] / [proposição de uma estrutura equiparada redutiva] / [consequente] / [consequente]
postado em 22 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : começo do mundo, fim do mundo, mundo, undo