machismo acadêmico
no livro de divulgação filosófica-científica “the ego tunnel: the science of the mind and the myth of the self” (basic books, 2009, p. 37-8) thomas metzinger escreve (tradução minha):
É quase impossível experienciar como uma gestalt temporal unificada um motivo musical, um trecho de poesia rítmica, ou um pensamento complexo que dure mais do que três segundos. Quando eu estudava filosofia em Frankfurt, professores tipicamente não improvisavam durante as palestras; ao invés disso, eles liam de um manuscrito por 90 minutos, disparando rodadas de sentenças excessivamente longas e aninhadas, uma após a outra, na direção de seus estudantes. Eu suspeito que essas palestras de modo algum visavam efetuar uma comunicação bem sucedida (embora elas fossem frequentemente sobre isso), mas sim que eram um tipo de machismo intelectual. (“eu vou demonstrar a inferioridade da sua inteligência jorrando em você frases fantasticamente complexas e aparentemente intermináveis. Elas vão fazer seu buffer de curto-prazo colapsar, por você não poder mais integrá-las em um único gestalt temporal. Você não entenderá nada, e você terá de admitir que seu túnel é menor que o meu!”)
Eu suponho que muitos dos meus leitores tenham encontrado esse tipo de comportamento. É uma estratégia psicológica que herdamos dos nossos ancestrais primatas, uma forma levemente mais sutil de comportamento exibicionista que se incorporou na academia. O que permite esse tipo novo de machismo é a capacidade limitada da janela movente do Agora.
obs: quando metzinger fala de tunel, está se referindo ao modelo que ele tem da consciência. quando fala de “moving window of Now”, fala da capacidade de integração gestaltica da consciência, segundo seu modelo e experimentos da neurociência e psicologia.
postado em 10 de junho de 2016, categoria excertos : academia, machismo, palestra, the ego tunnel, thomas metzinger