da caderneta das três mocinhas, 1

19 de janeiro de 2010 os professores ensinaram muito bem as crianças: “os artistas estão à frente de seu tempo”. assim, quando grandes, vão invejar seus pais, dizendo: “o fulano, aquele amigo seu (que morreu pobre, que te pedia dinheiro, que era um maluco), que grande artista! como eu gostaria de desenhar/ escrever/ etc como ele, de conversar com ele, de conhecê-lo.” ou josé marti (apud francisco fabricio diaz):

“a maior porcentagem dos gênios e até dos supergênios descem ao túmulo desconhecidos até de si mesmos.”

[a segunda parte me parece ser algo de cortázar, do “último round”, tomo ii]

27 de janeiro de 2010 meu estômago ou intestino está ruim. devo prosseguir com o exame. à noite, sonho com bichos perseguidos por dois entes malignos, que revelam-se um casal de seres humanos. depois de muito sobre e desce, escada, cozinha. pela escada, das sombras percebo – os humanos são bem maiores – e eis que um rato, um gato, doninha, etc (aqui há um salto, a narrativa é sugada por um buraco de minhoca) – e logo em meu braço sinto um gato, mas agora estou acordado, e ele é negro, sinto seu peso, com certeza está aqui, como entrou em meu quarto? e se agarrou tão firmemente ao meu braço.

*** 

tento tira-lo, minha mão sobre sua cabeça, estou virado para cima, meu braço é o direito, a cabeça, um focinho, seria um cachorro ou gambá, um ser ainda sem nome – e me morde, segura a mordida, meus músculos se contraem – nessa hora estou estupefato, de olhos abertos, minha mão doendo, meu braço tenso, e não há gato, nem ao menos uma almofada ou pelúcia.

01 de fevereiro de 2010 “o fator cagada é um ponto positivo para a divulgação.” “tipo supercine.” ” tipo show do roberto carlos, domingo.”

06 de março de 2010 despejar conteúdo até que meu corpo dê lugar ao vazio e meus desejos sejam suprimidos pelo fazer. . . . bros processa mais uma mulher sonhadora. o conglomerado . . . abriu uma ação judicial, nessa quarta-feira, contra . . . , acusada de manipular os personagens . . . e . . . , durante seus sonhos. (…) desde a instalação do novo sistema midiático e integração com o mundo onírico, corporações vem tentando conter a onda de utilizações indevidas de conteúdos protegidos por direitos autorais, na forma de plágios e recriações. “falta de consciência não é desculpa”, declarou . . . (…) o caso é importante porque pode abrir precedentes para […]

entre 24 de abril e 3 de agosto como você preenche o seu tempo na falta de um estrutura:

– angustia, impaciência, irritação, vergonha alheia

– com falhas / comparações, formas vazias / referências, tristeza

– choro

agosto? transformação das ondas de rádio em imagens: para ver o que está no ar.

31 de maio de 2010 educação bancária, paulo freire. professor acima, enche a cabeça vazia dos alunos de conteúdo. faz depósitos de conhecimento, saca na hora da prova. montar uma arma não quer ter desdobramentos. é um método do fazer sem espaço para o entendimento, a auto-descoberta. norma culta = ensino de lingua estrangeira + individualidade é eficiente, à longo prazo?

agosto hibridismo: recusa da essência. heterogeneidade. interdependência entre si.


postado em 11 de dezembro de 2011, categoria Uncategorized : , , , , , , ,

da separação de elementos

eu tinha de determinar a constituição de uma série de elementos pertencentes a um grupo. essa determinação envolvia a separação de dois componentes, um dos quais estava sujeito a um teste simples, que me permitiria aferir se o elemento era ou não consistente em relação aos outros do grupo, ou a um princípio (não declarado). nessa separação, eu via um conceito ficar embaixo do outro, e os critérios lógicos se ordenarem, como em uma estante, mas verticalmente.

o quinto elemento era uma banheira de ofurô, devidamente preenchida com água quente. dentro da banheira estava nina giovelli. eu via os braços dela, apoiadas nos bambus laterais, e do busto para cima: as partes emersas. usava um pano que tapava o conceito, que então não podia ficar devidamente separado. isto porque o pano era irreal e não continha conceito de cor, não sendo possível falar nem em cor nem em conceito, mas apenas em pano.

assim, disse: “tire esse pano nina”, ao que ela olhou (a cara dela, no sonho, não era especialmente expressiva, sua expressão facial parecia ser sempre a mesma: bonita e agradável – atraente -, mas, ao mesmo tempo, normal, com um resquício do insosso rondando). e respondeu: “não posso, tenho vergonha. debaixo estou apenas de biquini”. e: “tá, espere”.

esperei. e de novo e o pano sumiu, e nina estava de maiô preto petróleo, e apesar da água, podia vê-la, por inteiro: sentimento de estrelinhas douradas se espalhando e sons de plin plin plin.

(o quinto elemento era inconsistente em relação ao grupo.)

 


postado em 10 de novembro de 2011, categoria Uncategorized : , ,

Vodka 88%

Estou no meu quarto (vou dormir em breve?) e desço à cozinha. Lá encontro Luana e Fenerich. Há uma garrafa grande, de acrílico, como uma vasilha abaulada, meio metro de diâmetro, 5 litros de volume (só?), com uma tampa metálica, com uma inscrição em cirílico: é uma vodka 88%.

Olho meio atônito pra garrafa, quando Fenerich diz: “vai aí?”, e eu: “não. 88%?! isso é perigoso”. Luana desacredita, cerra levemente as sombrancelhas, e retruca, após sua breve risada característica, na qual o canto da boca fica aberto: “não mata nada”. E bebe uma dose, de boa.


postado em 17 de outubro de 2011, categoria Uncategorized : , , , ,

aline a filologista

já é a segunda vez que me aparece em sonho, com a mesma ocupação, a filologia. tem um ar calmo, sereno, vestido creme, entre o branco e o creme, o sorriso e o piercing; mas onde a memória cria, o sonho cria também, esses males da distância, a filologia (é professora, estudou filosofia).


postado em 28 de setembro de 2011, categoria Uncategorized : , ,

jacarés e a fenomenologia

acordado, semi-dormindo, indo ao banheiro para urinar de 20 em 20 minutos, das 0h às 4h, e esse princípio me atormentando: era preciso repeti-lo, para lembra-lo, para guarda-lo, um homem com insonia, mas também: com um princípio claro, cristalino.

(obscuro)

“é possível compreender a fenomenologia, em sua extensão, analisando a expansão do jacaré (o crocodilo, repito, é um mito, não existe). um jacaré, assim exposto, com 1 metro, expandindo, não apenas em comprimento, mas principalmente, acizentado.”


postado em 18 de agosto de 2011, categoria Uncategorized : , ,

pedal, panótico dn

estou sonhando que estou preocupado, estou deitado e tentando dormir, e dormir respeitando a partitura de panótico dn – parte do pedal de transposição de altura, em quatro níveis, de 0 a 3 -, certamente me fará dormir mal, seguindo as inclinações do pedal com as inclinações da cama, das posições do corpo, assim na certa vou acordar, ter dores de estômago, dormir intranquilo.


postado em 9 de maio de 2011, categoria Uncategorized : , , ,