e., sujeito formal, simpático, comedido, habitante de são paulo, considera o prédio do real gabinete português de leitura, no rio de janeiro, o mais bonito do brasil. chegando lá, e com sua tese sobre o tempo na obra de a. em mãos, ou seja, na mochila, com ítens que a possibilitam, e. resolve trabalhar ali mesmo, nesse ambiente magnífico. pergunta ao guarda sobre essa possibilidade. este, responde, em bom carioquês, sei lá. vou chamar a gerente. e quando a moça chega e olha um e aí?, e. se explica todo: eu gostaria de utilizar o espaço, trouxe meu laptop, uns livros, escrevo uma tese sobre a., a concepção do tempo, como é que faço, ao que a gerente interrompe-responde, senta aí porra.
desconcertado, mas entendendo a diferença das culturas, e. ainda olha mais uma vez para a gerente, uma moça magra, algo atlética, deve correr na praia, pensa. ela já com desdém, indo embora, então e. se dirige a uma mesa, vou poder trabalhar, que bom. é aí que intervêm o pequeno poder, e a gerente, de costas, continuando sua saída, retoma, como que a partir de porra e como não quer nada, mas com o gostinho da sacanagem no canto do lábio: mas assina lá no guichê os documentos. e então quase pedem para e. o comprovante de residência que ele obviamente não trouxe. e e. não pode deixar de pensar o óbvio, podia ter simplesmente sentado ali como quem não quer nada, retirado o laptop, não tem quase ninguém aqui, estaria já trabalhando.
“malandro é malandro.”
postado em 2 de novembro de 2015, categoria crônicas : burocracia, malandro, pequeno poder, real gabinete português de leitura, rio de janeiro
1. mochila e latão, a outra mão levanta e pressiona a orelha: começa a falar sozinho, falar espanhol e estar muito louco ou estar louco e achar que fala espanhol. baba. agora até aos demônios internos usa-se um celular.
2. depois de uma tarde agradabilíssima de conversas com aline, vou ao cinema sozinho e o que está passando é o hobbit 3.
2.1 que perda de tempo! mas fiquei pensando, nem tanto minha, que só foram 3 horas. imagina todas essas pessoas que efetivamente trabalharam durante meses nesse filme. que vida desperdiçada, que situação medíocre e melancólica.
2.2 assisti em 3d e com resolução maior. e o que a resolução maior, amplificada pelo 3d, faz é o seguinte – você começa a sentir (saber sem poder exatamente precisar) que as roupas não estão sujas o suficiente, que há maquiagem demais em alguns atores; começa a intuir o que é cg e o que é cenário. começa a ter rusgas com a iluminação artificiosa. tudo parece mais teatral, mas uma teatralidade mal definida – a maior qualidade confere menos realismo (expõe pontos de não realismo).
3. muleque na praia, olhando pra uma pilha de garrafas sujas, pegando uma delas, escolhida, olhando para os colegas e dizendo “aí mané gozou nessa porra”.
4. na nossa sr de copacabana, dois adolescentes já um pouco crescidinhos – mermão, tu me chantageou. vou ligar pra sua mãe. (foda-se, foda-se você, foda-se mermão.)
5. na virada fogos de artifício medíocres e rápidos. meninas argentinas sem noção, italianos e franceses com alguma noção. uma barca pegando fogo, algum interesse nisso. passo o tempo todo fazendo cara de paulista entediado.
6. sentado num empório, com um livro difícil e chato e uma cerveja belga, entra uma mulher cadeirante e seu marido, e depois um homem cadeirante e sua esposa. (eles acham que sou escritor e vou utilizar essa cena no meu próximo livro: “sua esposa é nova, você é cadeirante faz tempo? ela te conheceu antes ou depois? / antes, alguns anos atrás. ela apaixonou quando viu meu apartamento. seu marido não é rico pelo jeito. / eu sou médico, moramos no canadá, é a primeira vez que estamos aqui. / ei, me vê um desses cafés de cocô de jabiru.)
postado em 22 de fevereiro de 2015, categoria crônicas : café, celular, copacabana, fogos de artifício, moleque, o hobbit, réveillon, rio de janeiro
estão dizendo que no rio de janeiro a polícia militar está sendo democratizada.
como disse meu colega paulo dantas, depois dessa dá pra ter uma ideia de como foram as pacificações. quando começarem a estuprar manifestantes, eu diria.
{fotos ausentes: policial apontando morteiro pra galera, hospital com bomba de gás, palácio laranjeiras com “casa da corrupção” projetado na sacada, globo sonega, pm a paisana dando tiro de borracha à queima roupa}
postado em 13 de julho de 2013, categoria crônicas : democratização, manifestações, militares, polícia militar, rio de janeiro
vou ao rio de janeiro passar frio.
postado em 1 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : cidade, frio, rio de janeiro
1. eu e mário del nunzio, semi-perdidos a 10 kilômetros, tanto do centro de copenhague (kobenhavn h), quanto do nosso hotel (ballerup). maio de 2008: primavera: frio, mas acima de zero, 40 ou 50 minutos até o próximo ônibus, no meio de um nada, agasalhos, mas vento e ambiente desolado (embora arrumadinho).
2. rio de janeiro, leblon; fomos ao cinema: eu, miwa yanagizawa, dannon lacerda e liliane rovaris. dezembro de 2010, não que fosse empolado, o filme do facebook, sem agasalhos, 121 minutos de tremedeira.
postado em 22 de novembro de 2011, categoria Uncategorized : cidade, copenhague, frio, rio de janeiro, sensações