alvinismos

exceto os poemas-coleta de uma, duas ou três linhas, posso dizer que não gosto do que francisco alvim escreve (há excessões talvez, ou apenas uma, anamnese). entretanto, essas minicrônicas valem toda uma antologia e mais: pena que não são tantas. resta a algum espírito jovial registrar em mesmo estilo, durante toda uma vida, tais maravilhas que, de tão aparentemente banais, podem não ser distinguidas, tais como ostras no fundo do oceano.

O QUE FOI DELE?
Nós não brigávamos
Combinávamos demais

IRANI, MANDA GILSON EMBORA
Eu mando
mas ele não vai

MESMO?
Vou ali
Volto já

NESTE AÇOUGUE
quero ser carne de segunda

ME VINGO
As pessoas se esquecem
que deixam filhos

ARREPENDIMENTO
Eu não devia ter nascido

ELE
Quero uma metralhadora
pra matar muita gente
Eu mato rindo

PAIXÃO
Se tivesse um remedinho contra
eu tomava

{francisco alvim, poemas [1968-2000]. 7 letras/cosacnaify, 2004}

(observação: como estão em ordem inversa de publicação de livros/conjuntos, seria muito mais adequado que chamassem poemas [2000-1968]. ademais, amostra grátis é, segundo a própria edição, de 1957-63!)


postado em 13 de janeiro de 2016, categoria livros : , , , , ,

o principal problema do conceito de família

o principal problema da família não é a união estável. é a ideia de que há um filho que é filho de alguém, que tem um pai e uma mãe. donde, ainda falta muito para termos alcateias e bandos de infantes.

Charly + le choeur des enfants / Carlito + o coro das crianças

(type choeur antique rappé)
(tipo coro antigo em forma de rap)

CHARLY / CARLITO
Les enfants, j’ai du boulot, je pars pour quelques mois. / Crianças, achei um trampo, fico fora uns meses.

CHOEUR / CORO
Oh mais père / Ah mas pai
tu ne seras donc pas là / você não vai estar na área
la langue de la loi ne pénétrera pas notre enregistrement / a língua da lei não vai penetrar nossos mandamentos
nous ne respecterons plus les réglements / não respeitaremos mais regulamentos
c’est la perte des repères à perpet’ / é a perda perpétua de parâmetros
nous aurons des zéros / vamos tirar muito zero
nous irons en retenue / vamos ficar de suspensão
nous passerons des sanctions / iremos da advertência
pédagogiques / pedagógica
en sanctions disciplinaires / à advertência disciplinar
nous irons en conseil / nos mandarão pra direção
nous larderons un camarade de coups de couteau / encheremos um colega de furos de faca
en haut d’un patio / um qualquer panaca
nous importerons des singes magots / traremos bichos feios paca
et des clébards interdits / e cachorros proibidos
nous ferons preuve de désinvolture / daremos prova de desenvoltura
nous ne deviendrons pas citoyens mais rien / não vamos ficar bonitos na foto
et au lieu de glisser dans l’urne notre bulletin / e ao invés de depositar na urna nosso voto
nous attaquerons des supermarchés / atacaremos os supermercados
nous dealerons en bas des marches / e andaremos só com drogados
nous instaurerons des zones de non-droit / criaremos zonas onde tudo se pode
nous y défierons les forces de l’ordre / pra desafiar as forças da ordem
et les représentants de la République / e os representantes da República
nous apprendrons l’arabe littéraire / aprenderemos o árabe literário
nous irons nous entraîner / e nosso itinerário
en Afghanistan au Pakistan / será o Afeganistão ou o Paquistão
en Azerbaïdjan dans le Balouchistan / o Azerbaijão e o Baluchistão
nous ferons des gestes vulgaires / faremos gestos indecorosos
aux éducateurs prioritaires / aos educadores rancorosos
nous aurons comme seul objectif / só teremos por objetivo
de rouler en BX / rodar num carro esportivo
nous irons dans des salles multiplexes / só iremos aos cinemas de shopping
nous saurons des sports de combat / aprenderemos esportes de combate
nous serons multirécidivistes / seremos réus reincidentes
nous aurons une respiration abdominale / nossa respiração será a abdominal
et un sexualité anale / e nossa sexualidade a anal
le théâtre ni la danse ne permettront / nem o teatro nem a dança poderão
de nous réinsérer / nos reeducar
nous ne serons pas anarchistes / não seremos anarquistas

nous ne admirerons pas les situationnistes / não admiraremos os situacionistas

[tradução de Adalberto Müller, retirado do blogue revista modo de usar]


postado em 23 de agosto de 2015, categoria comentários, reblog : , , , , , ,

poema para carou araújo

uma vez vc me beijou, lembra?
aqueles fósforos da transa acabaram.
agora estou sem fósforos.


postado em 23 de agosto de 2014, categoria prosa / poesia : , , ,

adília lopes, suas antologias

marco scarassati foi à portugal. pedi-lhe livros de adília lopes – a poeta portuguesa. trouxe-me uma antologia. eu já tinha uma, mas não a que ele trouxe. eu queria receber livros inteiros, separados, e agora tinha duas antologias. e não apenas isso, mas duas antologias cobrindo o mesmo período, de um jogo bastante perigoso (1985) a o regresso de chamilly (2000), embora, na edição portuguesa, irmã barata, irmã batata venha antes deste último, e na brasileira, depois (o que deixa-me a pergunta se irmã barata, irmã batata não foi incluído na brasileira por decisão de antólogo ou por pré-decisão de decisor de escopo cronológico).

a antiga antologia, antologia, minha desde antes de pedir a marco livros de adília lopes, tem posfácio de flora süssekind. a segunda antologia, caras baratas, minha apenas depois dele não ter trazido livros separados e inteiros de adília lopes, tem posfácio de elfriede engelmayer. com as duas lado a lado, teria de encomendar a antologia quem vai casar com a poetisa?, com posfácio de valter hugo mãe, com vistas a completar a coleção.

em antologia e em caras baratas, há coisas que se repetem. repetem-se uma em outra e outra em uma, repetindo da antologia à caras baratas tanto quanto no sentido inverso, da caras baratas à antologia. nem tantas, mas, por exemplo, o final d’o regresso de chamilly e o fabuloso a sereia de pernas tortas, de a bela acordada. o maria cristina martins, que está inteiro na brasileira, tem todos seus trechos da portuguesa então repetidos na portuguesa, que aparecem na portuguesa e que são muitos mas não todos da brasileira, embora todos repetidos também na brasileira.

há ainda poemas que constam em nomes resumidos na brasileira e extensos na portuguesa. de florbela espanca espanca, só depois é só depois de ler, e a rapariga que é a rapariga que esperava muito, de a pão e água de colónia [neste livro há o (seguido de uma autobiografia sumária) que leva a um caso curioso; pois em justamente aforismos, de irmã barata, irmã batata, constam, 13 anos depois, as autobiografias sumárias de adília lopes 2 e 3, das quais copio abaixo a última (a terceira, não a segunda)]

Os meus gatos já deixaram há muito tempo de brincar com minhas baratas. A Ofélia tem 12 anos, seis meses e sete dias. Guizos, segundo o Dr. Morais, tem 9 anos. Entretanto gatos morreram, gatos desapareceram. Estou a escrever isto no computador e não sei do Guizos há três dias.

{Adília Lopes, Caras Baratas – Antologia. Lisboa, Relógio D’Água, 2004, p. 231.}


postado em 10 de agosto de 2014, categoria livros : , , , , , ,

poema de adília lopes

sugestão de atividade para a disciplina poéticas da narrativa 2. um poema de adília lopes, que versa o seguinte:

UMA MULHER

bêbada prima

quer?

uma chavena de chá? é muito mais ordinária

mais açucar prima? do que prima

um homem

está bem assim? bêbado

mas e se colorirmos em duas cores? e desentrecortarmos visualmente o texto?

UMA MULHER

bêbada prima

quer?

uma chavena de chá? é muito mais ordinária

mais açucar prima? do que prima

um homem

está bem assim? bêbado

como é o procedimento? é um poema machista? etc.


postado em 10 de agosto de 2013, categoria oi kabum bh : , , ,

corolário: crítica a herberto helder

a pena seja de fato mais potente que a espada. segue então que ela deva ser mais perigosa. herberto helder escreve, diversas vezes, em photomaton & vox da vocação destrutiva e assassínea da poesia. “assassinar o mundo”. ora, se esse fosse o caso, 


postado em 20 de fevereiro de 2012, categoria Uncategorized : , ,