masque-z vous

na novela suprema da paranóia, os três estigmas de palmer eldritch, superando até mesmo o homem duplo, do mesmo philip k. dick, a droga chew-z alcança os pícaros da bad trip total ao lançar certos usuários em um espaço-tempo refeito e labiríntico cujas imagens retidas então populam a existência sóbria como efeitos colaterais, tornando igualmente labiríntica a determinação do que é real. afinal, estamos ou não ainda mergulhados no mundo alucinatório proporcionado pela mastigação da substância?

mas se palmer eldritch e sua aparência grotesca, mais os mostruosos glucks, não comparecessem. e se, ao invés de remeter a bifurcações de nossa vida, quando já tomamos uma decisão mas talvez tomássemos a outra, uma outra droga nos transportasse para uma realidade exatamente idêntica à nossa, mas ilusória? e fosse progressivamente difícil distinguir então se algo aconteceu aqui ou ali, da mesma forma que determinar qual das duas é de fato àquela em que há consequências materiais, se é que são apenas duas realidades e se é que existam consequências materiais, ou se essa materialidade não é ideal, efetiva nos n-mundos que são o labirinto do mesmo mundo vivido fenomenológico. fiquei imaginando que esse jogo de indiscerníveis e a confusão resultante nesse cubismo deveria ser contada em primeira pessoa, em um processo gradual de dissolução da confiança na consistência de um real que, entretanto, recusa a sair do banal.


postado em 10 de dezembro de 2021, categoria comentários : , , , ,

comunicado no.5 do undo

mais de dois nos atrasados, recebo o comunicado 5.

se a realização total é o aniquilamento, então a destruição total só pode ser a não realização, a realização de nada, a absoluta não realização.

se por paramnésia reduplicativa chamamos a crença de que um local foi duplicado, existindo simultaneamente em dois, então nosso mundo foi desfeito e assim, bifurcado; estamos no duplo deslocado. doppelgänger de nós mesmos, seguimos sonambulando.

há décadas, capgras pode ter descrito um delírio muito específico, da substituição de pessoas próximas por sósias idênticos. delírio ou não, philip k. dick já alertava: “até mesmo um paranóico tem inimigos”.

#somostodoshomensdopântano

 


postado em 16 de março de 2016, categoria prosa / poesia : , , , , , , , ,